O presidente Lula sancionou hoje, 15, o projeto de lei 1.765/2024, de autoria do deputado federal José Priante (MDB/PA) que reconhece o Çairé – ou Sairé, ambas as grafias são corretas – como manifestação da cultura nacional. Realizado todos os anos em setembro, no distrito de Alter do Chão, em Santarém do Pará, o ritual remonta ao século XVII. Começou como ritual indígena. Incorporou ao longo do tempo elementos das culturas africana, portuguesa e dos caboclos.
São cinco dias de festividade, e tudo começa na quinta-feira. Depois do café da manhã servido aos personagens Saraipora, Capitão, Juízes e Juízas, Mordomos e Foliões, uma procissão de catraias e outras embarcações regionais segue em direção à Floresta Encantada de Alter do Chão para a retirada de troncos. A Santíssima Trindade, símbolo maior do Çairé, é conduzida pela Saraipora. Trata-se de objeto em forma de semicírculo confeccionado em madeira e cipó e coberto por algodão enfeitado com fitas e flores. O Çairé é ornamentado com três cruzes centrais que representam cada uma das pessoas da Santíssima Trindade (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) e com uma cruz no topo do arco, que representa Santíssima Trindade reunida em um só Deus. Às margens do Lago Verde, homens e mulheres carregam, separadamente, seus mastros aos barcos que os conduzem até a praia do Cajueiro. De lá são levados em outra procissão para a Praça do Çairé, onde, enfeitados com frutas, são erguidos.
A procissão é feita com o símbolo conduzido pela Saraipora, ao som de ladainhas, tambores e cânticos. A estrutura representa a Arca de Noé e as fitas e flores coloridas simbolizam a fartura de alimentos existentes na arca e, claro, na Amazônia. O Capitão comanda a procissão do Çairé (como se estivesse comandando a Arca de Noé). Os Alferes carregam as bandeiras – a vermelha do juiz e, a branca, da juíza. O Juiz e a Juíza são os organizadores da festa. Cada um assume a responsabilidade por um dos mastros levantados durante o evento. A Juíza conduz, ainda, a coroa do Divino Espírito Santo. O Procurador e a Procuradora são substitutos imediatos para o Juiz e a Juíza e seus principais ajudantes. A Troneira é a personagem que prepara o espaço onde será guardada a coroa do Divino Espírito Santo. Na chegada da procissão à praça do Çairé, ela recebe a coroa das mãos da Juíza e guarda o símbolo durante os dias de festa. As moças das fitas são as ajudantes da Saraipora. Os Mordomos e Mordomas ajudam a carregar os mastros e levam varinhas enfeitadas com fitas. Os Rufadores são os membros do conjunto musical Espanta Cão que acompanham a procissão tocando tambores e cantando hinos.
Em 1997 foi introduzido o Festival dos Botos, disputa entre as associações folclóricas Tucuxi e Cor de Rosa, na qual encenam a lenda do golfinho de água doce que se transforma num homem bonito que seduz e engravida as mocinhas. A encenação gira em torno da sedução, morte e ressurreição do boto, tendo como personagens a Cunhã-borari, a Princesa do Lago Verde, a Rainha do Çairé, o Tuxaua, o Pajé e os pescadores. O boto é morto por ordem do pai (Tuxaua) da moça (Cunhã-borari) seduzida e engravidada. A fúria dos maus espíritos da região recaem sobre Tuxaua, que pede ao Pajé que ressuscite o boto. O festival no Çairódromo aboliu várias danças folclóricas e introduziu shows de músicos de renome nacional. Mesmo com a perda da originalidade, as inovações estimularam o turismo local.
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