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Escritor, jornalista, editor e ativista político, Gabriel García Márquez se foi, ontem, aos 87. Não poderia deixar de me despedir do meu grande ídolo. Ícone de várias gerações, ele é um daqueles personagens imorredouros que se perpetuará na memória de todos que o leram.  Nasceu no dia 6 de março de 1927, em Aracataca, Colômbia. Estudou Direito e Ciências Políticas na Universidade Nacional da Colômbia, mas não chegou a se graduar.
Leu e viajou pelo mundo, e se deixou influenciar pelo tcheco Franz Kafka, o mexicano Juan Rulfo e o norte-americano William Faulkner. Ao ganhar o Prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra, expôs o 
culto à personalidade, as ditaduras militares e a repressão na América Latina, apontando números estarrecedores. Cinco guerras e dezessete golpes de Estado, 120 mil desaparecidos, morte de 20 milhões de crianças antes de completar dois anos, “mais que todas as crianças que nasceram na Europa ocidental desde 1970”. Um milhão de pessoas do Chile, um em cada cinco uruguaios no exílio. E mais: a cada 20 minutos, El Salvador produzindo um refugiado. Enfim, sofrimento infligido a uma parcela que representava mais que a população da Noruega. Trechos de seu memorável discurso na premiação: “O general Antonio López de Santana, que foi três vezes ditador do México, mandou enterrar com funerais magníficos a perna direita que perdeu na chamada Guerra dos Bolos. O general García Mo­reno governou o Equador durante dezesseis anos como monarca absoluto, e seu cadáver foi velado com seu uniforme de gala e sua couraça de condecorações, sentado na poltrona presidencial. O general Maximiliano Hernández Martínez, o déspota teósofo de El Salvador que fez exterminar numa matança bárbara 30 mil camponeses, tinha inventado um pêndulo para averiguar se os alimentos estavam envenenados, e mandou cobrir de papel vermelho a iluminação pública para combater uma epidemia de escarlatina.” 
  
“Cem Anos de Solidão”, romance introdutor do realismo mágico na literatura, retratando a família Buendía e o povoado Macondo – entre arcádios e aurelianos que se envolvem em revoluções, inventos, amores na casa grande e na senzala, corrupções –, é o símbolo máximo da alma latino-americana, cuja identidade foi delineada na sua prodigiosa imaginação, que soube como ninguém construir a realidade por meio do inverossímil. Por trás dos malabaristas de seis braços, do ancião de quase duzentos anos que havia vencido o duelo de repentes, do padre que levita 12 centímetros do chão, da mulher que come areia, dos filhos que nascem com rabo de porco, emerge a história de um continente. 

Na mesma esteira, “O Amor nos tempos de Cólera”, “Crônica de
uma morte anunciada”, “Notícias de um sequestro”, “O outono do patriarca”, “O general
em seu labirinto”, “Do amor e outros demônios”, “Doze contos peregrinos”, “Relato de
um náufrago”, “Ninguém escreve ao coronel”, “Memórias de minhas putas tristes”. Quem ainda não leu, aproveite que certamente vão reeditar todos, em formatos para todos os bolsos. 
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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