Publicado em: 4 de dezembro de 2014
Foto: Ozéas Santos
A Comissão da Verdade do Estado do Pará fez hoje à tarde, no auditório João Batista, da Assembleia Legislativa, a sua primeira oitiva. Aos 92 anos, muito emocionado, o ex-governador Aurélio do Carmo prestou depoimento acerca das circunstâncias da cassação de seu mandato. Em alguns momentos quase foi e levou às lágrimas o presidente da comissão, o advogado Egydio Salles, pela menção ao nome de seu pai, o também advogado Egydio Salles, já falecido, que foi amigo do depoente. Aurélio do Carmo fez várias revelações de peso durante a oitiva. Disse, por exemplo, que o ex-governador, ex-ministro, ex-senador e coronel Jarbas Passarinho era quem chefiava a 2ª Seção do Exército, responsável pelas informações, que sua primeira esposa era amiga da esposa de Passarinho e que este pediu que Dona Ruth dissesse à sua amiga que ele nada tinha a ver com os que articulavam o golpe militar, mas na verdade era um dos principais nomes. Também contou que “pelo que ouvia das pessoas na época” o então arcebispo metropolitano de Belém, Dom Alberto Ramos, denunciou vários padres aos militares, que os tachavam de subversivos. Também afirmou que, de modo geral, todos os veículos de comunicação apoiaram o golpe civil-militar e colaboraram com a ditadura, pelo menos no início. Admitiu que fazendeiros, notadamente da região do arquipélago do Marajó e da Belém- Brasília, apoiaram o golpe, embora não tenha citado nomes.
Ao longo de duas horas, o ex-governador falou do clima conturbado em 1964, das greves, da promessa não cumprida do marechal Castelo Branco de que a tomada do poder seria algo temporário, do seu sentimento de ter sido injustiçado.
Aurélio foi questionado a respeito de dois episódios em seu governo: um, do ano de 1963, quando
da realização de uma assembleia na sede do sindicato dos petroleiros, descrito por Jarbas Passarinho no livro “Na Planície”, quando os golpistas e
seus capangas invadiram a sede do sindicato e promoveram confusão, baderna e
tumultos. Diz Jarbas Passarinho que a PM estava de sobreaviso para que quando
começasse o entrevero usasse de força física desproporcional somente
contra aquelas pessoas que não estivessem portando lenços brancos no pescoço. O outro fato, de que a PM novamente serviu de linha auxiliar aos baderneiros golpistas quando
invadiram a reunião dos estudantes que estavam realizando um seminário a
respeito da democratização das Universidades, na
faculdade de odontologia, localizada na praça Batista Campos, no dia 30 de março
de 1964. O ex-governador disse que lamenta que tenham acontecido abusos em seu governo, por parte da PM, mas se isentou de qualquer responsabilidade quanto a tais iniciativas.
da realização de uma assembleia na sede do sindicato dos petroleiros, descrito por Jarbas Passarinho no livro “Na Planície”, quando os golpistas e
seus capangas invadiram a sede do sindicato e promoveram confusão, baderna e
tumultos. Diz Jarbas Passarinho que a PM estava de sobreaviso para que quando
começasse o entrevero usasse de força física desproporcional somente
contra aquelas pessoas que não estivessem portando lenços brancos no pescoço. O outro fato, de que a PM novamente serviu de linha auxiliar aos baderneiros golpistas quando
invadiram a reunião dos estudantes que estavam realizando um seminário a
respeito da democratização das Universidades, na
faculdade de odontologia, localizada na praça Batista Campos, no dia 30 de março
de 1964. O ex-governador disse que lamenta que tenham acontecido abusos em seu governo, por parte da PM, mas se isentou de qualquer responsabilidade quanto a tais iniciativas.
Ao final do testemunho, Aurélio do Carmo foi cumprimentado por todos que estavam no auditório, que fizeram questão de tirar fotos com ele.
Integram a Comissão da Verdade no Pará: Egydio Machado Sales Filho, representante da OAB-PA, presidente da Comissão; o deputado Carlos Bordalo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alepa; Renato Marques Netto, da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos – Sejudh; João Lúcio Mazzini da Costa, do Arquivo Público Estadual e Seduc; a delegada de Polícia Civil Ana Michelli Gonçalves Soares Zagalo, da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social – Segup; Marco Apollo Santana Leão, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SPDDH; Paulo Cesar Fonteles de Lima Filho, do Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça; Franssinete Florenzano, representante do Sindicato dos Jornalistas do Pará; e Jureuda Duarte Guerra, do Conselho Regional de Psicologia-PA/AP.
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