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Foto: Kim Palha Figueiredo
Pobre Belém! Às vésperas dos seus 400 anos, de vez em quando se descobre atrocidades, fruto do desconhecimento acerca de seus personagens e datas históricas. No bairro da Pedreira,  na Antonio Ervedosa (e não Everdosa) com Alferes Costa, o ex-prefeito Duciomar Costa reinaugurou em 12 de janeiro de 2011, no aniversário da cidade, uma praça que o saudoso prefeito Ajax d’Oliveira construiu em homenagem ao cabano Eduardo Angelim, e sem o menor escrúpulo rebatizou-a com o nome de “Brigadeiro Eduardo Angelim”, como se vê na foto de Joaquim Palha Figueiredo. Por óbvio, o alcaide misturou um seringueiro/jornalista e um militar e essa coisa híbrida permanece até hoje, num atestado de desamor a Belém. Urge que o prefeito Zenaldo Coutinho faça justiça à memória do Pará e do Brasil, colocando a placa correta no logradouro.

Eduardo Nogueira Angelim, líder cabano e presidente da Província aos 21 anos, era serigueiro e jornalista. A Cabanagem, que em 2015 completa 180 anos, foi a revolução popular pioneira na sublevação de indígenas, negros, caboclos e cafusos, ao lado de intelectuais e políticos na fusão cultural típica do que hoje é a regionalidade paraense, e demarcou um Brasil amazônico com identidade e anseios próprios. Eduardo Angelim é mais um herói semi-anônimo, “regional” e pouco estudado na História oficial brasileira. Preso no Acará em 20 de outubro de 1836, foi conduzido a Belém pelas tropas do marechal Francisco Soares Andréa, e enviado a julgamento no Rio de Janeiro, seguindo para a ilha de Fernando de Noronha, onde foi exilado. Retornou ao Pará em 1851, e fixou residência em Barcarena. Morreu em 20 de julho de 1882, e foi enterrado na capela do Engenho de Madre de Deus, na Ilha de Trambioca, em Barcarena, mesmo local dos restos do cônego Batista Campos, um dos autores intelectuais do movimento cabano, depois removidos para o Memorial da Cabanagem, em Belém, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, outro monumento abandonado há décadas.

Já o Brigadeiro Eduardo Gomes, patrono da Força Aérea Brasileira, foi um dos fundadores do Correio Aéreo Nacional, que uniu o País pelas asas da FAB. Excluído das fileiras militares no evento em que enfrentou o exército do presidente Epitácio Pessoa, ele retornou à vida militar anos depois e participou de outros levantes famosos da história brasileira, como o de 1924, quando a cidade de São Paulo foi ocupada, e as Revoluções de 1930 e de 1932. O Brigadeiro Eduardo Gomes foi duas vezes Ministro da Aeronáutica e candidato à Presidência da República e o único militar latino-americano condecorado pelo Vaticano, com a Medalha São Silvestre, outorgada pelo papa e levada em sua casa pelo jornalista e escritor Cosme Degenar Drumond, seu biógrafo. Diz a lenda que o docinho “brigadeiro” foi criado na sua primeira candidatura para presidente, e servia para angariar fundos para a campanha durante os comícios. Nessa campanha também foi criado o slogan “vote no brigadeiro, além de bonito é solteiro”. 
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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