Em momento histórico do jornalismo e dos jornalistas do Pará, prestigiado pelo Tribunal Regional do Trabalho, Academia Paraense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do Pará, Academia Paraense de Letras Jurídicas, Consulado de Portugal, Sindicato dos Jornalistas no Pará e Funtelpa, através da TV Cultura e Portal Cultura, a Academia Paraense de Jornalismo realizou a primeira de suas sessões memoriais, abordando a trajetória de Felipe Patroni, idealizador e editor do jornal O Paraense, o primeiro de todo o Norte do Brasil. Foram palestrantes os jornalistas e escritores Walbert Monteiro e Sebastião Piani Godinho, ambos membros da APJ, da APL e do IHGP; e mediadora a presidente da Academia Paraense de Jornalismo, jornalista e advogada Franssinete Florenzano, que também integra o IHGP e o Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, além da Abrajet – Associação Brasileira de Jornalistas em Turismo. Compôs a mesa oficial o desembargador federal do Trabalho Paulo Isan Coimbra, representando no ato o presidente do TRT8, Marcus Losada Maia. Emblematicamente, o evento foi realizado no dia do transcurso dos duzentos e um anos da imprensa no Pará, 22 de junho de 2023.
Na ocasião, foi outorgada a Medalha do Bicentenário da Imprensa no Pará ao presidente da APL, professor, escritor e pesquisador Ivanildo Alves, ao presidente do TRT8, desembargador Marcus Losada Maia, e à presidente do IHGP, Anaíza Vergolino, além dos acadêmicos Célio Simões, vice-presidente da APJ, no ato representando a APLJ; Graça Lobato Garcia, diretora da APJ e representante da Academia Paraense Literária Interiorana; José Wilson Malheiros da Fonseca, imortal da APJ, da APL e da Academia Paraense de Música, e Francisco Sidou, representado pela esposa, Rubenita Sidou. Funcionou como mestre de cerimônia o acadêmico Octavio Pessoa.
Em pocket show, a cantora Gabriella Florenzano, acompanhada pelo saxofonista e clarinetista Marcos Cardoso Puff e pelo violonista Bernardo Barros, fez homenagem aos laços históricos que unem o Pará a Portugal e à presença da cônsul Maria Fernanda Pinheiro interpretando um fado brasileiro que fala da cidade onde ela nasceu, São Paulo de Luanda, e a morna (gênero musical que mais identifica o povo cabo-verdiano) “Sodade”, eternizada na voz de Cesária Évora, além de composições dos maestros paraenses Isoca e Waldemar Henrique e de “Libertango”, de Astor Piazzolla.
Durante sua conferência, Walbert Monteiro acentuou que o notável paraense Felipe Alberto Patroni Martins Maciel Parente, advogado, jornalista e político, pode, sem favor algum, ser considerado, como bem o definiu Marco Túlio Freire Batista, doutor em História Política pela UERJ, “um dos mais notáveis e criticados homens de seu tempo. Visionário, protagonizou o Constitucionalismo no Brasil, a Imprensa no Pará, difundiu ideais de igualdade racial e Independência. Controverso, desafiou o Rei de Portugal e seus Ministros em pleno Congresso Nacional. Versado em leis, fluente em línguas vivas e mortas, foi tido como um dos homens mais cultos e eruditos de sua época, influenciando diversos movimentos políticos no Brasil. No entanto, hoje, seus feitos são praticamente desconhecidos”. Patroni era fluente em francês, inglês, espanhol, grego, latim, sânscrito e a língua geral dos indígenas, dotado de um conhecimento enciclopédico.
“Existem divergências entre os biógrafos de Patroni em relação ao ano de seu nascimento, mas parece ser mais correto fixá-lo em 1798. Não são unânimes, também, de acordo com o que assevera a mestra e doutora em História Anunciada Chaves, minha predecessora na Cadeira 22 da Academia Paraense de Letras e de quem tive a honra de ser discípulo, ao apresentar, como presidente do Conselho Estadual de Cultura, em 1975, na edição das “Obras Escolhidas de Felippe Patroni”, as informações sobre a terra que lhe serviu de berço, dividindo-se os autores entre Belém e Acará. Também acolho como verdadeira a referência a esse último município citado. Dela extraio sua concepção sobre Patroni: “figura singular e fascinante de liberal apaixonado e revolucionário autêntico, dotada de extraordinária capacidade mental, dedicou a vida toda às grandes causas políticas – Independência, Abolição e República”, discorreu Walbert Monteiro.
Para Sebastião Piani Godinho, há “quatro questões que precisam da luz da verdade histórica para serem incorporadas, com o rigor da precisão, na biografia do grande paraense: Não se conhece a data do seu nascimento (dia e mês); o ano, também, é incerto, sobre o seu local de nascimento, também pairam dúvidas. Não se tem ideia de seus traços fisionômicos. E há, ainda, a questão acerca da forma como se escreve o seu prenome, dirimida por Palma Muniz: muitos autores grafam Filipe, em desacordo com a sua assinatura autógrafa Felipe, como se verifica em um manuscrito datado de 24 de janeiro de 1821, ao Senado de Belém, que é parte integrante do precioso acervo do Arquivo Público”.
A tipografia onde foi editado o jornal O Paraense funcionava em imóvel na rua ao lado do Palácio (atual Museu do Estado), depois Tomásia Perdigão e hoje Rua do Aveiro, na Cidade Velha, contou Godinho, observando que “O Paraense circulava às quartas-feiras. E aqui eu abro um parêntese para registrar que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro possui a sua coleção incompleta, indo do número 17 ao último, o número 70, faltando, portanto, os números de 1 a 16. Essa preciosa coleção foi legada ao IHGB pelo nosso ilustre conterrâneo, o historiador Manoel Barata, que fazia parte da instituição”.
Patroni foi preso em 25 de maio de 1822 e confinado no Forte do Castelo, transferido e encarcerado na Fortaleza de São Julião, em Portugal, pontuou Sebastião Godinho, aduzindo que “teve o jornal O Paraense três fases: a primeira de ideias consentâneas com os princípios constitucionalistas em união a Portugal, fase essa que terminou com a prisão de Patroni. A segunda, sob a direção do cônego Batista Campos, adotando a mesma ideia constitucionalista, mas desenvolvendo campanha de franca oposição ao governador das Armas, Brigadeiro José Maria de Moura; finalmente a terceira fase, em favor do príncipe D. Pedro e, posteriormente, defendendo a adesão do Pará à Independência. Nesta última, fulgurou a pena atrevida do cônego Silvestre Antunes Pereira da Serra”.
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