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“O Instituto Histórico e Geográfico do Pará é um Sodalício e o Solar Barão do Guajará um Silogeu e, por assim ser, o IHGP e o SBG são feitos também da carne e do sangue, da razão e dos sentimentos de seus sócios, pessoas que por vontade própria decidiram fazer parte de um grupo de intelectuais que perpetua a longa e respeitável memória de seus antecessores adotando uma postura acadêmica moldada pela produção e difusão do conhecimento, pelo debate e confronto de ideias, pelas posições políticas e ideológicas divergentes, mas também pelo amigável convívio do cotidiano existentes na associação cultural que é o IHGP”. Assim a professora, antropóloga e historiadora Anaíza Vergolino, presidente do IHGP-PA, resumiu a importância do Solar que abriga a centenária instituição, ao receber o presidente da Assembleia Legislativa do Pará, deputado Chicão, em sua segunda visita ao casarão tombado como patrimônio histórico, vizinho do Palácio Cabanagem, sede da Alepa.

Ao lado da presidente Anaíza Vergolino, acolheram o visitante a antropóloga e historiadora, mestre e doutora em Ciências Sociais Lourdes Furtado; a historiadora, professora e pesquisadora Ruth Burlamaqui de Moraes; o historiador, advogado e professor Elson Monteiro; o presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, advogado e jornalista Célio Simões; a presidente da Academia Paraense de Jornalismo, jornalista e advogada Franssinete Florenzano, e Walbert Monteiro, administrador, advogado, jornalista e historiador, todos membros do IHGP-PA. Na ocasião, Walbert entregou ao deputado Chicão um exemplar do livro “Tratando direito de Direitos”, a pedido do autor, o desembargador Milton Nobre, decano do Tribunal de Justiça do Pará.

Em uma verdadeira aula, a presidente do IHGP-PA contou que, ao longo de sua história, o Instituto vivencia a sua quinta fase. Fundado em 3 de maio de 1900, sob a denominação de Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Pará, a sua criação esteve associada às comemorações do 4º Centenário do Descobrimento do Brasil, sob os auspícios do governo do Estado do Pará, na época governado por José Paes de Carvalho. A data era considerada como da descoberta do Brasil, e na mesma ocasião foram instituídas a Academia Paraense de Letras e a Liga Humanitária.

A comissão fundadora, presidida pelo vice-governador do Estado do Pará, Gentil Bittencourt, era integrada por ninguém menos que os Barões do Guajará e do Marajó, João Antonio Luiz Coelho, Américo Marques de Santa Rosa, Manoel Baena, João Lúcio de Azevedo, Bernardino Pinto Marques, Emílio Goeldi, Arthur Lemos, Justo Chermont, Henrique Santa Rosa, Arthur Vianna, Samuel Wallace Mac-Dowell e o Cônego João Ferreira de Andrade Muniz, que elaboraram o primeiro Estatuto do IHGP-PA.

A sala dos espetáculos do Theatro da Paz, em sessão cívica, foi o cenário de instalação do Instituto, em reunião presidida por Henrique Santa Rosa, 1º vice-presidente, cabendo a José Olinto Barroso Rebello a condição de orador. Domingos Antonio Raiol, Barão do Guajará, o decano dos historiadores paraenses, foi o primeiro presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Pará.

O presidente deputado Chicão gostou muito da explanação sobre os aspectos históricos que envolvem o funcionamento do IHGP-PA e a intensa programação cultural desenvolvida por seus membros, oferecida gratuitamente à sociedade paraense, a par da manutenção do precioso acervo aberto a pesquisas. Entusiasmado, já encomendou estudos jurídicos para viabilizar a celebração de convênio com a entidade, através da Escola do Legislativo ou do Departamento de Memória da Alepa.

Anaíza Vergolino relatou que a segunda fase do IHGP-PA começou em 1917, no contexto das comemorações do primeiro centenário da Revolução Pernambucana de 1817, quando novos integrantes se associaram. Na época, houve discussão acerca da natureza da agremiação: se uma continuidade da antiga, ainda que sob novo nome, com a exclusão do vocábulo “Etnográfico”; ou se de fato fundação de um novo Instituto, com nova data de fundação e denominação. Ficou decidido que se tratava de um novo Instituto, ficando 6 de março de 1917 o marco. Nessa fase houve a criação da logo do IHGP pelo artista Theodoro Braga. Foram então presidentes do IHGP, sucessivamente: Ignácio Baptista de Moura, Henrique Santa Rosa, Luiz Estevão de Oliveira, Henrique Jorge Hurley, Antonio Teixeira Gueiros, Abelardo Leão Condurú, Maurício Cordovil Pinto, Josué Justiniano Freire e Ernesto Horácio Cruz. Exerceram a presidência, por período expressivo, na condição de vice-presidentes, Luiz Barreiros e Raymundo Avertano Barreto da Rocha. Coube ainda a Lauro Sodré e a Joaquim Magalhães Barata a presidência de honra do IHGP, por terem em seus governos muito contribuído para a criação e consolidação do IHGP, respectivamente.

Durante a segunda interventoria de Magalhães Barata no governo do Pará, na época do Estado Novo (1937-1945), a Prefeitura Municipal de Belém, administrada por Alberto Engelhard, em 1943, cedeu por tempo indeterminado ao IHGP o prédio que serve desde então como sede do Instituto. O Solar pertencia à família de Domingos Antonio Raiol, Barão do Guajará e, antes, ao Visconde de Arary. Trata-se de uma construção do início do século XIX, ainda hoje um dos mais belos e imponentes prédios coloniais existentes em Belém.

A terceira fase começou na década de 1960, quando da presidência de Ernesto Cruz no IHGP. A partir daí voltou a ser celebrado o 3 de maio como data de fundação, ficando 6 de março marco de reinstalação. Na época, a Universidade Federal do Pará, sob o reitorado de José da Silveira Netto, já era importante parceira. Silveira Netto tornou-se Sócio Benemérito do Instituto, da mesma forma que o governador Alacid Nunes, em cujo governo executou a reforma do prédio sede do silogeu.

Em 1975, José da Silveira Netto assumiu a presidência do IHGP, permanecendo à frente da instituição até 1996, quando, devido ao seu grave estado de saúde, foi substituído pelo vice-presidente Victor Tamer que, em 1997, passou a gestão a uma Junta Governativa Provisória, da qual era membro, constituída ainda por Guaraciaba Quaresma Gama, membro, e Geraldo Mártires Coelho, presidente.

Nessa época foi higienizado e organizado o acervo documental do IHGP, que veio a constituir o “Arquivo Palma Muniz”, sob direção do professor e historiador José Maia Bezerra Neto e da arquivista Ana Negrão do Espírito Santo, com patrocínio da Fundação Cultural do Município de Belém/Fumbel e apoio da UFPA.

A eleição da nova diretoria do IHGP para o triênio de 1998-2001, presidida por Geraldo Mártires Coelho, marcou a quarta fase. A debilidade institucional, em termos financeiro, físico e organizacional, por anos de inatividade, era o grande desafio. Algumas mudanças aconteceram, a mais importante, talvez, como parte da reforma dos Estatutos e do Regimento Interno, a alteração do rito de ingresso no IHGP, mais acessível e democrático. Digno de registro, também, convênio com a Fumbel, entre 1996 e 1997, que permitiu repasse de recursos destinado ao custeio de reforma no telhado do Solar do Barão do Guajará.

Contudo, as dificuldades enfrentadas levaram a nova Junta Governativa Provisória, em 2001, presidida por Guaraciaba Quaresma Gama e composta por José de Araújo Mindello e Leônidas Braga Dias. Eleito e empossado em 2002, Guaraciaba Quaresma Gama foi reconduzido mais duas vezes ao cargo, em 2005 e em 2008. Em agosto de 2010, em razão de seu falecimento, a vice-presidente Anaíza Vergolino assumiu e conduziu o mandato até 02 de maio de 2011, encerrando assim a quarta fase. 

Durante as gestões do presidente Guaraciaba Gama, com a colaboração dos demais diretores e associados, o Solar do Barão do Guajará começou a ser restaurado, dentro do Programa Monumenta, com apoio do governo federal e da Prefeitura de Belém. Ao longo desse período, mas servindo ao IHGP desde a época da presidência de José da Silveira Netto, papel importante na vida do Instituto teve o falecido professor Carmélio Cruz, técnico-administrativo do Museu da UFPA, que era secretário administrativo. Como reconhecimento, o Professor Cruz, como era conhecido, foi eleito sócio honorário.

Primeira mulher presidente eleita em 121 anos do IHGP-PA, a gestão da presidente Anaíza Vergolino e do vice-presidente José Maia Bezerra Neto é marcada pela revitalização dos pilares fundamentais do Silogeu: o saneamento financeiro e resolução das pendências que impediam a captação de recursos para a entidade. A recomposição e reordenação do quadro social, preenchendo cadeiras vagas, a restauração dos acervos (a Sol Informática, em 2012, patrocinou a restauração de pequena parte do acervo mobiliário e a embaixada dos EUA a recuperação de parte dos acervos documental, iconográfico e fotográfico; emenda parlamentar do então deputado federal Edmilson Rodrigues foi destinada à recuperação de parte do telhado do Solar); e o lançamento dos prêmios Roberto Santos em História, Eidorfe Moreira em Geografia e Napoleão Figueiredo em Antropologia e Folclore, além da entrega do Prêmio Ignácio Moura a Walcyr Monteiro pelo conjunto de sua obra e, ainda, realização da semana de estudo com a participação do Dr. Arno Wegling, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil; intercâmbio cultural com o Instituto Politécnico de Bragança, em Portugal; e diplomação do Dr. Antônio Jorge Nunes, prefeito e presidente da Câmara Municipal de Bragança de Portugal, como sócio correspondente do IHGP-PA.

Reeleitos para o triênio 2014-2017, Anaíza Vergolino e José Maia Bezerra Neto elaboraram, de forma pioneira, um Plano de Metas indicando os estrangulamentos e potencialidades e elegeram ações prioritárias. A grande reflexão que caracterizou esta gestão foi o questionamento acerca do “que representa o IHGP hoje, para a sociedade que ele está inserido?”. Dentre o planejado foi possível realizar convênio com a Secult; a aquisição de máquina de fotocópias para serviços externos e outros equipamentos eletrônicos; aumento do número de associados; e atualização das isenções tributárias (IPTU). Foi reorganizada a revista eletrônica, desenvolvido o site e estabelecida parceria com o Programa de Extensão “O auto do Círio”, da Escola de Teatro e Dança da UFPA. Houve, ainda, a revisão estatutária e participação do IHGP nos festejos dos 400 anos de Belém, além da edição do Boletim Informativo e atualização das páginas nas redes sociais, e sessões de estudos em comemoração aos 100 anos de reinstalação do IHGP-PA e ao centenário de nascimento de importantes vultos históricos do Pará.

Aos 121 anos e plenamente adaptado à modernidade digital, o Instituto não paralisou as atividades mesmo durante a pandemia e de forma virtual continua suas reuniões, sessões memoriais, conferências e solenidades públicas com foco na História, Geografia e Antropologia, e, ainda, instiga o interesse pelas explorações geográficas e investigações históricas, arqueológicas e etnográficas; conserva e classifica documentos, livros, estudos, estampas, plantas, mapas, cartas e objetos relativos a esses ramos científicos, todos disponíveis para consulta em sua biblioteca, arquivo e museu. Mantém a Biblioteca José Veríssimo, o Acervo Palma Muniz, a Reserva Técnica e a Coleção Barão do Guajará.

Criada pelo IHGP-PA com a finalidade de adotar as providências em defesa do acervo histórico-cultural, a Comissão Especial de Defesa do Patrimônio Histórico de Belém tem estimulado a reflexão sobre esses bens culturais e a atuação institucional dos órgãos responsáveis pelas políticas públicas de preservação.

Uruá-Tapera

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