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Se me perguntam qual a minha religião, a resposta óbvia é “Música”, e se me perguntam das coisas que mais gosto de cantar, certamente os pontos de santo da umbanda e do candomblé estão na lista. Digo que sou uma percussionista frustrada porque o tambor é corpo e alma e grande parte dos compositores brasileiros da escola dita erudita concordam com isso.

O compositor paraense Waldemar Henrique musicou este ponto em homenagem ao orixá Abaluayê que escutou em Ilhéus, na Bahia, para piano e canto lírico. O piano, até certo ponto da história, era o instrumento das elites econômicas, enquanto o violão era tocado pelos negros, como explica Salomão Habib em seu livro sobre o grande Tó Teixeira. “Voltamos” a música para as cordas e mantivemos um certo lírico na voz. Alguém pode acusar de “europeizar” nossa preciosa macumba, mas eu penso na via contrária: o tambor bate tão forte em nosso sangue que invade qualquer sonoridade, tornando sem cabimento qualquer divisão da música brasileira em erudita e popular. Somos o que somos, mestiços, e essa é a nossa maior riqueza.

Abaluayê é representado pela febre, que é o momento que o nosso corpo reage à doença no processo de cura. Ele veio do mar, ele é forte, ele veio salvar. Atotô! 🍃

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

Grupo Manto, Íris da Selva e DJ Sidou

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