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Começou a revitalização da antiga Via dos Mercadores, formada pelas ruas Santo Antônio e João Alfredo, corredor mais tradicional do centro comercial de Belém. O prefeito Edmilson Rodrigues assinou a Ordem de Serviço. Serão executadas a troca de piso, construção do meio fio, organização da fiação elétrica, projetos de iluminação e paisagismo. Na primeira etapa, da Av. Presidente Vargas até a Rua Frutuoso Guimarães, serão investidos R$5 milhões. O prazo para conclusão da obra é de seis meses. Edmilson pretende integrar a Via dos Mercadores ao complexo do Ver-o-Peso.

É preciso ter coragem para de fato restaurar o centro comercial e preservar a história de Belém, garantindo a acessibilidade da população, condições dignas e incremento ao turismo. O município, os munícipes e visitantes merecem. Há mais de duas décadas o bairro da Campina, todo tombado pelo Iphan, assim como seu entorno, virou um amontoado imundo de barracas de lona, que impedem o direito constitucional de ir e vir nas calçadas e obrigam os pedestres a disputarem as ruas com os carros, carrinheiros e carroceiros, isto aonde ainda é possível trafegar, eis que várias vias públicas foram totalmente bloqueadas, a ponto de o Corpo de Bombeiros não conseguir salvar imóveis históricos incendiados por inexistir acesso. Uma tragédia que se repete e o poder público não toma providências. E todo mundo sabe que a maioria dos ambulantes que se tornaram fixos estão lá na verdade a serviço de lojistas e outros espertos.

A arquitetura é referência importantíssima para a memória dos habitantes de uma cidade, identidade cultural não diz respeito apenas a culinária, música e artesanato. Nela todos nos reconhecemos como cidadãos. O conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico dos bairros da Cidade Velha e Campina abrange dois mil e oitocentos imóveis que, por força de leis federais, estaduais e municipais, deveriam ser protegidos, tutelados, salvaguardados. Mas a maioria está em ruínas.

A Campina e a Cidade Velha são os primeiros bairros de Belém, parcelados ainda nos séculos XVII e XVIII. Formam o núcleo histórico, junto ao Reduto, com preciosidades como palacetes, sobrados conjugados, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a Igreja de Nossa Senhora de Santana, o Convento e Igreja de Nossa Senhora das Mercês, o Arquivo Público. Mas as fachadas das edificações centenárias estão cobertas por grandes letreiros multicoloridos; os andares superiores dos casarões viraram depósitos de mercadorias; as calçadas irregulares, cheias de lixo, quebradas, ocupadas por tabuleiros e botijões de gás que põem vidas e todo o patrimônio em risco; poluição sonora pelo alto volume das músicas nos estabelecimentos comerciais ou pelo microfone do “animador” incumbido de chamar a clientela para dentro das lojas, fios elétricos trançados e arrebentados. Completando o quadro dantesco, a Cracolândia. Degradação humana, ambiental e urbana. De que valem as leis, se não são cumpridas?

Os cidadãos de Belém precisam de cidadania. É preciso que os governos estadual e federal se unam ao municipal para o bem público. Que os Ministérios Públicos Estadual e Federal ajam com eficácia, antes que seja tarde demais.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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