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A BBC revelou, em uma reportagem robusta, os bastidores de “Shein Village”, em Guangzhou, China, que sustentam o crescimento meteórico da gigante de fast fashion online Shein. Com fábricas que operam até tarde da noite, trabalhadores contratados sob condições muitas vezes consideradas precárias e salários abaixo do ideal, a matéria levanta questões sobre as práticas de trabalho, os custos humanos do modelo de negócios e a ética de consumo global.

O modelo de produção da Shein se baseia em um sistema de trabalho extenuante. Segundo a reportagem, muitos trabalhadores em Guangzhou chegam a trabalhar até 75 horas por semana, em flagrante violação das leis trabalhistas chinesas que estipulam uma carga máxima de 44 horas semanais. A remuneração é baseada na produtividade: uma peça simples, como uma camiseta, pode render entre 1 e 2 yuan (menos de um dólar), com trabalhadores produzindo até 12 peças por hora.

Embora algumas fábricas ofereçam espaços amplos e ventilação adequada, o ritmo incessante ditado pelas máquinas e a pressão por atender a altas demandas minam a qualidade de vida dos trabalhadores. Muitos têm apenas um dia de descanso por mês, com jornadas que começam às 8h e frequentemente se estendem até meia-noite.

A Shein tornou-se referância da indústria de fast fashion mundial devido à sua capacidade de produzir rapidamente grandes volumes de roupas a preços extremamente baixos. Utilizando algoritmos para identificar tendências com base no comportamento online dos consumidores, a empresa ajusta suas ordens às fábricas conforme a demanda. Isso cria um ciclo de produção frenético, onde os fornecedores enfrentam margens de lucro reduzidas e buscam cortar custos, muitas vezes afetando diretamente os trabalhadores.

Com sua cadeia produtiva completamente integrada na China, a Shein tem uma vantagem competitiva significativa. Diferentemente de concorrentes em países como Vietnã e Bangladesh, que dependem da importação de materiais, as fábricas chinesas utilizam fontes locais para tecidos, zíperes e outros insumos, reduzindo custos e prazos de entrega.

Além das jornadas excessivas, as fábricas que fornecem para a Shein já foram associadas a acusações de trabalho forçado, especialmente envolvendo a produção de algodão na região de Xinjiang, onde há relatos de exploração da minoria muçulmana uigur. Embora a Shein negue essas práticas, organizações de direitos humanos e governos, como o dos Estados Unidos, pressionam por maior transparência.

O uso de algoritmos e o controle de preços pelas plataformas digitais também afetam a autonomia dos fabricantes, que relatam margens de lucro reduzidas. Alguns proprietários de fábricas expressam frustração, mas outros elogiam a confiabilidade da Shein nos pagamentos, que são sempre realizados no prazo.

A Shein, avaliada em US$ 66 bilhões em 2023, planeja uma oferta pública inicial (IPO) na Bolsa de Valores de Londres. Para isso, a empresa busca fortalecer sua governança e compliance. Em resposta às críticas, a Shein afirmou investir milhões de dólares para garantir condições justas de trabalho e auditorias em sua cadeia de suprimentos. No entanto, a transparência é o maior desafio da empresa, especialmente em relação à lista de fábricas e ao rastreamento de materiais.

Ao adquirir um vestido de US$ 12 (R$ 60, aproximadamente), é importante questionar: qual é o verdadeiro custo humano e ambiental? Por trás de cada peça, existem histórias de jornadas exaustivas, baixos salários e a busca por sobrevivência em um sistema que prioriza o lucro acima do bem-estar humano.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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