Publicado em: 30 de maio de 2025
A religião sempre desempenhou um papel central na história da humanidade, moldando civilizações, culturas e códigos morais. Contudo, ao longo dos séculos, também tem sido associada por diversos filósofos a danos profundos ao desenvolvimento humano.
Entre os principais efeitos negativos estão o bloqueio ao pensamento crítico, a justificativa para a violência e opressão, e a construção de uma moralidade baseada no medo. Esses três pilares revelam como, em muitas circunstâncias, a religião pode reprimir o avanço da ciência, da moral autônoma e da liberdade individual.
O pensamento crítico é a base do progresso científico, filosófico e ético. No entanto, muitas religiões tradicionais desencorajam a dúvida, a investigação livre e a contestação de dogmas. Quando crenças são tidas como verdades absolutas, imunes à revisão ou ao questionamento, cria-se um ambiente hostil à razão e à descoberta.
Historicamente, exemplos não faltam: Galileu Galilei foi condenado pela Inquisição por defender o heliocentrismo, contrariando a visão da Igreja Católica. Ainda hoje, em alguns contextos, o ensino da evolução é combatido por líderes religiosos que preferem a narrativa da criação bíblica. Ao impedir o livre exercício da razão e do questionamento, a religião pode estagnar o progresso científico e sufocar o potencial humano.
A religião também tem sido usada como ferramenta de poder e dominação. Ao longo da história, guerras santas, perseguições religiosas, cruzadas, inquisidores e regimes teocráticos têm se apoiado em doutrinas sagradas para justificar atrocidades. A violência contra “infiéis”, hereges ou simplesmente contra os que pensam diferente é frequentemente legitimada por textos religiosos interpretados de forma literal e fanática.
Além da violência física, há a opressão social: mulheres subjugadas em nome de preceitos religiosos, pessoas LGBTQIA+ marginalizadas ou criminalizadas, e indivíduos de outras crenças discriminados sistematicamente. A religião, ao ser usada como padrão absoluto de verdade e moral, torna-se uma arma para excluir, silenciar e punir os que estão fora do seu espectro de aceitação.
A construção da moral religiosa frequentemente se apoia na ideia de um castigo eterno para os que não seguirem determinados mandamentos. Essa forma de moralidade, baseada no medo do inferno ou da retribuição divina, não promove um comportamento ético genuíno, mas sim uma obediência forçada. Em vez de encorajar a empatia, a compaixão ou a justiça, muitas doutrinas ensinam a evitar o pecado apenas por temor ao castigo.
Essa abordagem moral não estimula o desenvolvimento de uma consciência ética sólida, mas perpetua a ideia de que o bem deve ser feito para evitar punições, e não por um compromisso com o outro e com a sociedade. Ao invés de formar cidadãos éticos e conscientes, forma-se obedientes condicionados pelo medo.
Diversos direitos e liberdades fundamentais têm sido limitados por interferência religiosa. O direito das mulheres ao controle sobre seus corpos, a liberdade de expressão artística ou científica, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e a educação sexual são constantemente ameaçados por dogmas religiosos que se infiltram na política e nas instituições públicas. Quando a fé se sobrepõe à razão e aos direitos humanos, os alicerces da democracia e da liberdade são comprometidos.
Frente aos danos causados por uma moralidade imposta e baseada no medo, é essencial desenvolver uma ética pessoal livre, racional e comprometida com a justiça. Uma ética saudável não nasce do temor a um castigo eterno, mas do reconhecimento do outro como semelhante, da empatia, da responsabilidade coletiva e do compromisso com a dignidade humana. Essa ética busca responder a perguntas fundamentais — “o que é justo?”, “o que causa menos sofrimento?”, “como promover o bem-estar coletivo?” — sem recorrer a mandamentos imutáveis ou ameaças sobrenaturais. Ela permite o florescimento de sociedades mais tolerantes, plurais e abertas ao diálogo.
Embora a religião tenha desempenhado um papel relevante na história da humanidade, os danos que pode causar ao pensamento crítico, aos direitos humanos e à construção de uma moral autêntica, são significativos e merecem atenção.
Questionar essas estruturas e promover uma ética baseada na razão, na justiça e na compaixão é um passo essencial para a construção de um mundo mais livre, justo e verdadeiramente humano.
A moral também é derivada da crítica, como forma de evolução da natureza humana. Algumas pessoas acreditam que sem religião não existe moral, e o cometimento de delitos encontra-se ligado à ameaça do inferno, fazendo da religião um freio nos desvios da conduta humana.
Alguns representantes religiosos, abastados, se apropriam, atualmente, da fragilidade humana para “negociar” passaportes para o céu, curas e indulgências divinas, às custas do medo, da ingenuidade e dos infortúnios pessoais e familiares, do crédulo ungido.
Através desse medo, expressado até por línguas estranhas, criam universos ficcionais baseados em escrituras desvirtuadas de seus próprios sentidos históricos, sociais e filosóficos.
O bom comportamento não depende do temor do fogo do inferno, e sim da empatia e da compreensão da natureza humana. Depende da correspondência social com o outro ser. A realidade crítica, respeitando a crença e a fé desvinculadas do medo que atrofia a inteligência, é a base mais sólida para a evolução da humanidade.
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