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A surpreendente renúncia do presidente do Paysandu, o jovem empresário Roger Aguilera, anunciada nesta segunda-feira (22), caiu como uma bomba no ambiente já conturbado da Curuzu. A decisão, formalizada em nota oficial do clube (https://www.paysandu.com.br/noticias/8468/nota-oficial), encerra de forma abrupta um mandato que havia começado sob o discurso da renovação e da modernização
administrativa. Em um momento crítico da história recente do Papão, a saída do principal dirigente escancara a instabilidade política e institucional que se instalou no clube, aprofundando um cenário de incertezas dentro e fora de campo. Acima de tudo, o ambiente do Paysandu mostra um problema estrutural – e não apenas conjuntural.

Eleito em 2024 com o respaldo da maioria dos sócios votantes, Roger Aguilera assumiu o comando do Paysandu com legitimidade democrática e expectativas elevadas. No entanto, sua gestão rapidamente passou a conviver com sinais evidentes de desorganização administrativa. Faltou planejamento, sobraram improvisos e decisões desconectadas da realidade financeira do clube. O resultado foi um aumento significativo do passivo trabalhista, agravando um quadro que já exigia responsabilidade extrema e gestão profissionalizada.

No futebol, que é o termômetro mais visível para o torcedor, os erros se multiplicaram. O mau planejamento esportivo, com sucessivas trocas de comando, contratações equivocadas e ausência de um projeto consistente, levou a resultados desastrosos. O rebaixamento à Série C de 2026 simboliza o fracasso de uma temporada marcada por expectativas frustradas.

É preciso, contudo, fazer o registro justo: a família Aguilera tem uma longa e relevante folha de serviços prestados ao Paysandu, algo que jamais pode ser apagado. Ainda assim, a breve passagem de Roger pela presidência acabou associada a uma das crises mais profundas do clube, inserida em um problema estrutural de gestão que se arrasta e se agrava desde 2017.

Com a vacância do cargo, o comando do Paysandu passa agora às mãos de um dos vice-presidentes, o advogado Márcio Tuma (https://uruatapera.com/marcio-tuma-e-o-novo-presidente-do-paysandu/). Em sua primeira manifestação pública, também nesta segunda-feira (22.12), Tuma fez questão de destacar sua trajetória dentro do clube, marcada por atuação em diferentes funções e pelo conhecimento do estatuto e da vida política bicolor. Sua ascensão representa uma tentativa de assegurar estabilidade institucional em meio ao caos, ainda que o desafio seja gigantesco.

Os obstáculos à frente são claros e urgentes. O primeiro deles é a recuperação da credibilidade do Paysandu no mercado, algo que passa necessariamente por transparência, responsabilidade fiscal e comunicação mais efetiva com o torcedor. O segundo é a reconstrução esportiva, com a missão de recolocar o clube no caminho do acesso, mirando o retorno à Série B em 2027. Márcio Tuma exercerá um mandato-tampão até o fim de 2026, período curto para consertar problemas profundos, mas decisivo para evitar novos retrocessos.

Apesar do cenário adverso, ainda há focos de esperança na Curuzu. Elas residem no retorno de figuras experientes e qualificadas, como os ex-presidentes Alberto Maia Filho e Vandick, novamente ocupando cargos no clube; na atuação do executivo de futebol Marcelo Sant’Ana; e no trabalho do técnico Júnior Rocha.

São nomes que carregam vivência, conhecimento e a responsabilidade de liderar um processo de reconstrução. O Paysandu, mais uma vez, está diante de uma encruzilhada histórica. E o futuro dependerá da capacidade de aprender com os erros do passado recente.

Foto: Mateus Miranda

Rodolfo Marques
Rodolfo Marques é professor universitário, jornalista e cientista político. Desde 2015, atua também como comentarista esportivo. É grande apreciador de futebol, tênis, vôlei, basquete e F-1.

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