Lixo doméstico, caroços de açaí, entulhos de construção civil, restos de mobília, eletrodomésticos e eletrônicos se acumulam diariamente no canal da Travessa Quintino Bocaiúva, entre Apinagés e Padre Eutíquio, área central em Belém do Pará, e quase tudo acaba sendo jogado no canal. A prefeitura realiza a coleta diariamente com tratores e caminhões e colocou um contêiner. Mas o descarte indevido é recorrente, poucos minutos após o recolhimento. Kombis e carretos vão descarregar entulhos no local. A situação é igual em muitas vias da cidade, mas, especificamente nessa, há um ferro-velho que recolhe metais e outros materiais descartáveis. Isso torna o problema ainda mais complexo, pois parte do lixo jogado na rua é reaproveitada pelo ferro-velho. O contrário também ocorre: materiais não reutilizados são descartados no espaço público.
É difícil identificar quem realmente trabalha regularmente no ferro-velho e quem apenas aparece ocasionalmente, considerando as condições insalubres do local. Frequentemente, um caminhão recolhe parte do material separado/processado. Mas há um grande volume armazenado a céu aberto, sem qualquer cuidado ambiental, o que prejudica toda a vizinhança. Não há qualquer atitude da parte dos órgãos que deveriam fiscalizar essa atividade.
Para agravar ainda mais esse contexto, pessoas queimam lixo em plena rua para recuperar cobre e outros metais de procedência desconhecida. Para isso, utilizam qualquer material disponível, como papel, madeira e os próprios entulhos espalhados pela via. A queima ocorre em diversos pontos: nas muretas de proteção do canal, na pista de veículos e em qualquer outro espaço disponível. Não há hora nem tempo para essa ação, que acontece sob sol e chuva e inclusive nas madrugadas de domingos e feriados. Não raro, esses focos de incêndio saem do controle, espalhando fumaça tóxica por toda a vizinhança.
Além disso, pessoas em situação de rua utilizam os materiais descartados para construir suas moradias e convivem com catadores, gente que queima metais e dependentes químicos. A questão é social e exige assistência especializada. Os contatos dos moradores do bairro com os órgãos responsáveis têm sido infrutíferos. Já ações pontuais de assistência social levaram alguns sem-teto, mas três meses depois eles retornaram ao mesmo estágio. A solução do problema não é simples, pois cada aspecto exige abordagem específica. A apenas 300 metros existe um quartel, sede de um Batalhão da PM, cujos agentes frequentemente passam pelo local e ignoram a situação.
Os moradores do bairro já estão descrentes em qualquer mudança. Muitos não denunciam nem reclamam, apenas se acostumam a viver nessa situação. Houve tentativas anteriores de utilizar o espaço para atividades esportivas e caminhadas, mas a falta de calçamento e as condições da via dificultam qualquer iniciativa. Em alguns trechos, os corrimãos estão obstruídos por entulho ou roupas dos moradores de rua. Em outros, o chão está escurecido pelas queimadas de lixo, plástico e metal.
Comentários