O Congresso dos Estados Unidos realizou na última quarta-feira (13), uma audiência que esquentou novamente o debate público sobre as alegações de que o governo estadunidense teria conduzido programas secretos de recuperação de objetos voadores não identificados (UAPs, na sigla em inglês) e que funcionários públicos teriam sido feridos em incidentes envolvendo tais ocasiões. As afirmações foram feitas sob juramento, porém sem apresentarem provas físicas.
Entre os depoimentos apresentados, o ex-funcionário do Departamento de Defesa Luis “Lue” Elizondo afirmou que o governo dos EUA conduziu programas para recuperar e reverter engenharias de UAPs caídos. Questionado diretamente pela congressista Nancy Mace, Elizondo confirmou que tais programas existiam e que alguns funcionários teriam recebido compensações por ferimentos atribuídos a encontros com UAPs.
Michael Shellenberger, jornalista e fundador do site de notícias Public, também depôs, alegando que fontes governamentais revelaram a existência de um programa secreto chamado “Immaculate Constellation”, que supostamente teria armazenado milhares de evidências sobre UAPs, incluindo fotos e vídeos de alta resolução. Entretanto, Shellenberger não divulgou os nomes de suas fontes nem apresentou provas físicas além de um relatório de 12 páginas fornecido por um informante.
Ainda assim, um porta-voz do Pentágono reafirmou a posição oficial do Departamento de Defesa, que “não encontrou qualquer evidência verificável de que observações de UAPs representem atividades extraterrestres nem informações que comprovem programas de posse ou engenharia reversa de materiais alienígenas”.
A discussão sobre UAPs, antes relegada a círculos de teóricos da conspiração, tem ganhado espaço no Congresso americano nos últimos anos, em parte devido aos esforços para desestigmatizar o tema. Legisladores têm enfatizado que a investigação vai além da busca por vida extraterrestre, envolvendo também preocupações sobre transparência governamental e o uso de recursos públicos.
“Se estamos gastando dinheiro com algo que não existe, por que estamos gastando? E se existe, por que estamos escondendo isso do público?”, questionou Mace, destacando a necessidade de responsabilização e maior clareza sobre o assunto.
Ainda assim, o ceticismo prevalece. Nick Pope, ex-investigador de OVNIs do Ministério da Defesa britânico, destacou a importância da gestão de expectativas. “Embora não haja provas concretas, a audiência avança o debate, despertando maior interesse público e pressão por transparência.”
Um dos momentos altos da audiência foi quando Shellenberger mencionou relatos de “orbes” subindo do oceano e sendo acompanhados por outros objetos semelhantes. Embora negasse qualquer conhecimento sobre bases submarinas secretas, os comentários alimentaram especulações sobre possíveis atividades inexplicáveis em áreas inexploradas do oceano.
Luis Elizondo, por sua vez, reiterou sua convicção de que o governo possui tecnologia avançada “não fabricada na Terra”.
A frustração de cidadãos e jornalistas com a falta de respostas concretas é cada vez maior. Organizações como a All-domain Anomaly Resolution Office (AARO), criada pelo Departamento de Defesa para investigar UAPs, têm sido criticadas por sua falta de transparência e por não atender a pedidos de informações públicas.
Por outro lado, a audiência destacou como o tema UAP está evoluindo de uma curiosidade marginal para uma questão de interesse público e potencial relevância estratégica. Espera-se que as investigações avancem e que mais informações sejam disponibilizadas.
Luis “Lue” Elizondo é figura central na investigação de fenômenos anômalos não identificados e lançou em 2024 seu livro “Imminent: Inside the Pentagon’s Hunt for UFOs” (“Iminente: Dentro da Caça do Pentágono por OVNIs”, em tradução livre). Na obra, Elizondo explora décadas de esforços governamentais para estudar UAPs, além de compartilhar suas experiências pessoais enquanto liderava programas secretos sobre o tema.
O objetivo de seu livro é trazer à tona informações sobre UAPs que, segundo o autor, representam uma questão de segurança nacional e um desafio científico. “Eles são reais e constituem um problema de segurança para este país”, declarou Elizondo. O governo dos EUA, assim como outras grandes nações, adotariam uma abordagem de segredo em relação aos UAPs, inicialmente motivada pela Guerra Fria, mas que continua sendo perpetuada até hoje.
O autor argumenta que, embora algumas informações devam ser protegidas por questões de segurança, o público merece saber sobre a existência de outras formas de vida inteligente no universo. “A humanidade não deve ser mantida no escuro sobre o fato fundamental de que não somos a única forma de vida inteligente no universo”.
Elizondo reforça a existência de UAPs com base em evidências coletadas por tecnologias avançadas e depoimentos confiáveis. “Nossa tecnologia mais sofisticada detecta essas coisas”, explicou, mencionando também relatos de pilotos militares treinados e dados de radar que corroboram os mesmos eventos em momentos e locais específicos.
Essas declarações foram apoiadas publicamente por ex-diretores de inteligência nacional, ex-diretores da CIA e até o ex-presidente Barack Obama, que reconheceram a realidade desses fenômenos.
No livro, Elizondo compartilha experiências que ele e sua família vivenciaram durante o período em que liderava programas de pesquisa sobre UAPs. Ele relata o aparecimento de “esferas verdes luminosas” que pareciam atravessar paredes de sua residência. “Elas não tinham contornos definidos, eram muito difusas, como uma espécie de luz plasmática”, descreveu. Embora reconheça que fenômenos naturais, como relâmpagos globulares ou cargas estáticas, possam explicar tais ocorrências, Elizondo afirma que eventos semelhantes foram relatados por colegas que também integravam o programa.
Leia a tradução do depoimento escrito de Luis “Lue” Elizondo:
Depoimento Escrito de Luis Elizondo
Para o Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara dos EUA
Subcomitês de Cibersegurança, Tecnologia da Informação e Inovação Governamental; e Segurança Nacional, Fronteiras e Relações Exteriores
Fenômenos Anômalos Não Identificados: Expondo a Verdade
Quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Saudações, presidente Nancy Mace, presidente Ron Grothman, membros em posição de liderança Gerry Connolly e Robert Garcia, e demais membros do comitê. É uma honra e um privilégio testemunhar diante de vocês sobre o tema dos fenômenos anômalos não identificados (UAP, na sigla em inglês), anteriormente conhecidos como OVNIs. Em nome dos bravos homens e mulheres das forças armadas e da comunidade de inteligência, assim como de meus compatriotas americanos que aguardaram por este momento, agradeço pela liderança de vocês neste assunto tão importante.
Deixe-me ser claro: os UAPs são reais. Tecnologias avançadas, não produzidas pelo nosso governo nem por qualquer outro, estão monitorando instalações militares sensíveis em todo o mundo. Além disso, os EUA possuem tecnologias relacionadas a UAPs, assim como alguns de nossos adversários. Acredito que estamos no meio de uma corrida armamentista secreta, que dura décadas, financiada por recursos públicos desviados e mantida oculta de nossos representantes eleitos e órgãos de supervisão.
Por muitos anos, fui incumbido de proteger alguns dos programas mais sensíveis de nossa nação. Em minha última posição, gerenciei um Programa de Acesso Especial em nome da Casa Branca e do Conselho de Segurança Nacional. Com isso, compreendo a necessidade de proteger certas informações sensíveis de inteligência e militares. Considero sagrado o meu juramento de proteger segredos e sempre colocarei a segurança do povo estadunidense em primeiro lugar. Dito isso, também entendo as consequências da excessiva confidencialidade e segmentação de informações. Isso ficou evidente no período após o 11 de setembro, algo que muitos de nós lembramos muito bem.
Acredito que a grandeza dos Estados Unidos da América depende de três pilares:
– Um Congresso vigilante;
– Um Executivo responsivo;
– Um público informado.
Nas últimas décadas e meia, descobri que certos programas relacionados a UAPs têm operado sem nenhum desses elementos.
Embora grande parte do meu trabalho governamental sobre UAPs continue classificado, o excesso de sigilo resultou em graves abusos contra funcionários civis, militares e o público – tudo para esconder o fato de que não estamos sozinhos no cosmos.
Um pequeno grupo dentro do próprio governo, envolvido no tema dos UAPs, criou uma cultura de supressão e intimidação, da qual fui vítima, junto com muitos de meus ex-colegas. Isso inclui investigações criminais injustificadas, assédio e esforços para destruir a credibilidade das pessoas.
A maioria dos estadunidenses ficaria chocada ao saber que o próprio Escritório de Relações Públicas do Pentágono emprega um oficial de operações psicológicas como o único ponto de contato para qualquer questão relacionada a UAPs por parte de cidadãos e da mídia. Isso é inaceitável.
Muitos de meus ex-colegas e eu fornecemos depoimentos confidenciais tanto ao Departamento de Defesa quanto ao Inspetor-Geral da Comunidade de Inteligência. Desde então, muitos de nós fomos alvo desse grupo com ameaças às nossas carreiras, autorizações de segurança e até mesmo às nossas vidas. Isso não é exagero, mas um fato genuíno, e é errado.
Propostas de Solução
Para resolver esses problemas, proponho três ações principais:
1. Coordenação Centralizada: O Congresso e o Presidente devem criar um ponto único de contato responsável por uma abordagem integrada em todo o governo sobre o tema dos UAPs. Atualmente, a Casa Branca, CIA, NASA, Pentágono, Departamento de Energia e outros desempenham papéis, mas ninguém parece estar no comando, o que leva a um poder descontrolado e à corrupção.
2. Estratégia Nacional para UAPs: Precisamos de uma estratégia nacional que promova a transparência e ajude a restaurar a confiança do público estadunidense em um momento de baixa histórica nessa confiança. Essa estratégia deve envolver todo o governo, incluindo as comunidades acadêmica e científica, o setor privado e nossos parceiros e aliados internacionais.
3. Proteção para Denunciantes: O Congresso deve criar um ambiente seguro para que denunciantes, desesperados para fazer a coisa certa, possam se manifestar sem medo. Atualmente, esses indivíduos sofrem por causa do estigma, do código de silêncio e do medo de retaliação. Devemos encorajá-los a vir à tona e garantir que estejam protegidos contra qualquer tipo de represália. Para aqueles que se recusam a cooperar, cabe aos membros deste comitê usar seu poder de intimação para responsabilizar testemunhas hostis e impedir que esforços relacionados a UAPs permaneçam ocultos da supervisão do Congresso.
Considerações Finais
Nós, estadunidenses, nunca fugimos de um desafio. Pelo contrário, prosperamos com eles. Seja erradicando a poliomielite ou indo à Lua, enfrentamos os desafios de frente. Para a próxima administração e para o Congresso, digo que precisamos de transparência pública imediata, e esta audiência é um passo importante nessa jornada.
Se abordarmos o tema dos UAPs com a mesma determinação com que enfrentamos outros desafios, podemos restaurar a fé em nossas instituições governamentais. Juntos, podemos inaugurar uma nova era de governo responsável e descobertas científicas. Acredito que nós, americanos, podemos lidar com a verdade. E também acredito que o mundo merece a verdade.
Agradeço aos estimados membros do Congresso pelo tempo de vocês hoje. É profundamente apreciado por muitos.
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