0

Ícone cultural, a Rádio Clube do Pará foi a quarta emissora de rádio do Brasil, surgiu cinco anos depois da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 1923. A data da transmissão inaugural foi 22 de abril de 1928, e à frente do empreendimento estavam os pioneiros Roberto Camelier, Eriberto Pio e Edgar Proença.

Como as primeiras do Brasil, no início a rádio, como o próprio nome já dizia, era um clube de amigos empolgados com a novidade, que pagavam mensalidade para manter a operação. Tudo acontecia na base da permuta. Os discos eram emprestados por comerciantes que, em troca, tinham seus nomes divulgados. Participava da programação quem soubesse tocar um instrumento, cantar ou declamar poesias. As sessões eram à noite, ao vivo.

A história da Rádio Clube é incrível e precisa ser conhecida pelas novas gerações. A estrutura precária reforçava ainda mais o clima de aventura. O equipamento passava a maior parte do tempo em conserto, mas ninguém desanimava. A PRC-5 funcionou pela primeira vez em uma casa no Largo da Trindade. Depois, em um prédio atrás do Cine Olímpia. Em 1937, uma portaria do órgão que fiscalizava as rádios determinava o mínimo 1000 watts de potência. Com ínfimos 400 watts, não seria possível permanecer no ar. Aí os três pioneiros Roberto Camelier, Eriberto Pio e Edgar Proença compram equipamentos em São Paulo, mas não conseguiram pagar e avisaram que a rádio fecharia.

O apoio popular era tal que, quando a situação ficou periclitante a emissora só não fechou porque todo mundo em Belém resolveu doar dinheiro, cada qual de acordo com a sua possibilidade, à frente o governador José Malcher e o prefeito Abelardo Condurú, ambos entusiastas da PRC-5. E a rádio retribuiu à cidade. Por causa dela nasceu o bairro do Jurunas e um dos principais edifícios de Belém. A Clube se tornou empresa comercial. Em 1937 foi instalada em sede própria, na esquina da Av. Roberto Camelier com Fernando Guilhon, no Jurunas, um prédio batizado Aldeia do Rádio, onde em 1945 foi construído um auditório para 150 pessoas. Em 1954, a prefeitura doou um terreno na Av. Presidente Vargas para uma nova sede. Sem dinheiro, os donos fizeram um acordo como engenheiro Judah Levi. Em troca do segundo andar, foi construído ali o Edifício Palácio do Rádio.

Naquela época o alcance da Rádio era minguado. Quando o transmissor resistia bem, ficava até uma hora no ar. Com o passar do tempo, a programação se estabilizou. Os primeiros prefixo e slogan foram PRAF – A voz do Pará. Na primeira metade da década de 30, Edgar Proença cunhou o slogan pelo qual a Rádio ficaria conhecida em toda a Amazônia: PRC5 – A voz que fala e canta para a planície. De tão forte e presente na memória do povo, a marca foi incorporada à razão social da emissora, depois que ela mudou novamente o prefixo por força de legislação.

O esporte foi prioridade, por causa da paixão de Edgar Proença pelo futebol. A Clube foi a primeira emissora do Norte a transmitir uma partida de futebol, em 1935, jogo narrado pelo próprio Edgar Proença. No Brasil, a primeira transmissão tinha sido em 1932. A Clube também foi a primeira emissora do Norte a transmitir uma partida de Copa do Mundo, a final de 1950, no Rio de Janeiro, contra o Uruguai. A narração ficou a cargo de Edyr Proença, filho de Edgar Proença. O primeiro programa foi o Cartaz Esportivo, criado em 1939.

Até 1954, a Clube não tinha concorrência. As décadas de 40 e 50 foram a era de ouro do rádio em todo o Brasil. Era o tempo dos programas de auditório, do rádio-teatro e das radionovelas. Durante o Carnaval, a Clube promovia batalhas de confete com cobertura ao vivo, eram famosas também as festas organizadas pela rádio. Nesse período, Belém recebeu Carmen Miranda, Silvio Caldas, Dalva de Oliveira, Carlos Galhardo e Orlando Silva. Com um transmissor superpotente de 20 kW, a Clube atingia em onda média toda a dimensão continental do Pará. Em onda tropical, alcançava a Amazônia Legal. A Equipe Bola de Ouro contava com Carlos Estácio, Cláudio Guimarães, Guilherme Guerreiro, Zaire Filho, Giuseppe Tommaso, Géo Araújo e Carlos Castilho, entre outros.

Membro da Academia Paraense de Jornalismo, o jornalista, dramaturgo e escritor Edyr Augusto Proença, filho de Edyr e neto de Edgar Proença, conta: “Teatro da Paz lotado. No Rio de Janeiro a seleção do Pará joga contra a do Rio. Edgar Proença vai ao microfone. As seleções estão em campo. A do Pará está escalada com …. Palmas. Alguns minutos passam. Edgar volta ao microfone. O juiz dá a saída. Bola paraense. Fulano recebe na direita, passa para sicrano que vai à linha de fundo, cruza, fulano cabeceia e …. Para fora !!! A plateia vem abaixo em Uhhhhhh. Na verdade, no telegrama, estava escrito apenas: juiz deu início à partida. Era assim a transmissão pela Western Company.”

“Ouvinte da PRC-5 e bom apreciador do futebol, ouvia as transmissões dos jogos do Brasil pela Rádio Clube na Copa de 1958. O Edyr Proença era o narrador e transmitia como se falasse diretamente da Suécia. Na verdade, com o fone de ouvido ligado na Rádio Nacional, ou na Tupi, não sei ao certo, Edyr repetia a transmissão com suas próprias palavras aqui mesmo do estúdio da Clube. Ouvíamos nos altos-falantes de rua com a mesma empolgação dos que assistiam ao vivo”, relata o jornalista Antonio Praxedes, também membro da APJ, emendando: “Parabéns ao amigo e confrade Cláudio Guimarães, por fazer parte da História da Rádio Clube, a sempre querida PRC-5, “a Voz que fala e canta para a planície”, que a família Proença tão bem dignificou. Que vivam sempre como parte da História da Comunicação Radiofônica, os ícones Edgar Proença, Roberto Camelier e Eriberto Pio”.

“Hoje, 95 anos da PRC-5, Rádio Clube do Pará, fundada por Edgar Proença, Roberto Camelier e Eriberto Pio dos Santos, a quarta emissora do país e a primeira da Amazônia. Quando cheguei à Poderosa ela tinha 35 anos. É dia de festa para quem ama o rádio!”, vibra Cláudio Guimarães, membro fundador da APJ, do alto de seus sessenta anos de rádio.

Outro que faz questão de se manifestar é José Wilson Malheiros da Fonseca, juiz aposentado, escritor e advogado, membro da APJ e da Academia Paraense de Letras. “Eu escutava em Santarém, via ondas tropicais.:

“Rádio da minha infância em Monte Alegre. Parabéns a este patrimônio cultural do Brasil e aos profissionais que a conceberam e àqueles que a mantiveram are hoje. Parabéns ao confrade Cláudio Guimarães, “a voz” do rádio esportivo paraense!”, festeja o juiz do Trabalho e jornalista Océlio Morais, membro da APJ e da APL.

Decano da Academia Paraense de Jornalismo, pioneiro da TV parauara, jornalista que já atuou em todos os meios de comunicação, ainda na ativa nos seus mais de setenta anos de profissão, Linomar Bahia comenta: “Estou feliz com as rememorações dos primórdios da pioneira PRC-5. Levado pelo saudoso Edyr, fui o primeiro redator e apresentador do Informativo C5. Louvores aos que se foram e abraços aos continuadores dessa sempre querida emissora, patrimônio do rádio e da comunicação regional”.

O jornalista Francisco Sidou, mesmo em ano sabático em São José dos Campos (SP), não perde a chance de se manifestar: “Parabéns aos confrades da APJ e a todos os que construíram o legado da PRC-5 na história do rádio paraense e brasileiro. Dei modesta contribuição como redator do Jornal Falado C-5, na época uma espécie de Jornal Nacional para o Pará e a Amazônia. Cláudio Guimarães e Expedito Leal bem que poderiam contar essa saga da PRC-5 em livro. Seria uma contribuição histórica”.

“Dr. Edyr… Meu mestre, meu ídolo, meu mentor. Gratidão eterna! PRC-5, a voz que fala e canta para a planície e para o planeta, 95 anos de glórias. Orgulho de todos nós. Patrimônio do povo do Pará! Obrigado, Doutor!”, pontua o radialista Guilherme Guerreiro, ele mesmo um ícone.

Prefeita na tirolesa deixa povo em frenesi

Anterior

Mestres contra supressão do curso de História no Prosel da UFPA

Próximo

Você pode gostar

Mais de Notícias

Comentários