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Entre os próximos dias 17 e 20 de outubro, o Cine Líbero Luxardo, em Belém do Pará, será palco da sexta edição do Festival Internacional do Filme Etnográfico do Pará. Organizado pelo Grupo de Pesquisa em Antropologia Visual Visagem (PPGSA/UFPA), sob a coordenação de Alessandro Campos e Denise Cardoso, o festival tem como objetivo fomentar a produção audiovisual etnográfica e promover o diálogo entre cineastas, antropólogos, pesquisadores e o público em geral.

Este ano, a programação está especialmente dedicada aos 50 anos de “Iracema: Uma Transa Amazônica”, um marco na filmografia brasileira dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna. O filme, que retrata as complexidades sociais e culturais da Amazônia dos anos 1970, continua sendo uma obra de profunda relevância, especialmente no contexto contemporâneo. Sua protagonista, Edna de Cássia Cereja, considerada a primeira atriz de ascendência indígena a alcançar reconhecimento no cinema brasileiro, será homenageada com a exibição da versão remasterizada do filme em 4k, realizada na Alemanha.

“Iracema: Uma Transa Amazônica”, lançado originalmente em 1974, foi inovador tanto pela sua abordagem temática quanto pela linguagem cinematográfica. Ao mesclar ficção e documentário, o filme apresenta uma narrativa crítica das transformações ambientais e sociais na Amazônia, por meio da história de Iracema, uma jovem indígena que se vê imersa nas mudanças drásticas que a construção da Rodovia Transamazônica trouxe para a região. O filme aborda questões como exploração humana, degradação ambiental e a perda de identidade cultural, temas que, meio século depois, permanecem extremamente atuais.

A atuação de Edna de Cássia Cereja, natural de Santarém, no Pará, foi amplamente reconhecida, e ela se tornou a primeira atriz de descendência indígena a ganhar o prestigiado Troféu Candango de Melhor Atriz no Festival de Cinema Brasileiro de Brasília, em 1980. Sua presença no festival este ano será um dos grandes destaques, celebrando não apenas sua contribuição ao cinema, mas também sua relevância como ícone da representatividade indígena nas telas brasileiras.

A exibição da versão remasterizada de “Iracema: Uma Transa Amazônica” em 4k é uma das atrações mais aguardadas do festival. A sessão contará com a presença de nomes ilustres do cinema brasileiro, como a atriz Dira Paes, a cineasta Jorane Castro, o diretor de fotografia Orlando Maneschy, o editor Sydney Pozuelo e o crítico Marco Antônio Moreira, além dos próprios diretores Jorge Bodanzky e Orlando Senna.

Além da remasterização do clássico, o festival também receberá a estreia de “Edna: 50 anos depois de Iracema”, um documentário dirigido por Alessandro Campos, que revisita a trajetória de Edna de Cássia Cereja e explora o impacto do filme em sua vida e na representação das mulheres indígenas no cinema brasileiro. O documentário traz uma reflexão sobre as mudanças no cenário audiovisual e o legado deixado por “Iracema” cinco décadas após seu lançamento.

Outro destaque da programação é a exibição do filme “Curupira e a Máquina do Destino”, da diretora Janaina Wagner, que se apresenta como uma espécie de continuação espiritual de “Iracema”. O filme discute as complexidades da Amazônia contemporânea, retomando os debates sobre desenvolvimento e destruição ambiental iniciados pelo clássico de 1974. A presença da diretora Janaina Wagner para um debate após a exibição tem como finalidade enriquecer ainda mais a discussão sobre a continuidade das questões amazônicas no cinema.

O festival também dará espaço para a nova geração de cineastas, com a exibição de curtas-metragens produzidos a partir da Residência Cinematográfica coordenada por Luís Adriano Damianiello. Esses curtas foram criados por alunos do curso de Cinema da UFPA, inspirados nos temas e questões levantadas por “Iracema: Uma Transa Amazônica”. A residência tem como objetivo incentivar a produção audiovisual local e promover uma reflexão crítica sobre as representações culturais da Amazônia no cinema.

O festival promoverá uma série de debates e mesas-redondas que abordarão temas como o cinema etnográfico, a relação entre antropologia e audiovisual, e as especificidades do cinema indígena. Estes encontros fomentam o diálogo entre pesquisadores, cineastas e o público, criando um espaço de reflexão sobre as representações culturais no cinema contemporâneo.

Veja todas as informações sobre o Festival e acesse a programação completa aqui.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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