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Veríssimo ou Verissimo, do latim verissimus, é um sobrenome português e um adjetivo que significa verdadeiro, autêntico, real e justo. Nas primeiras horas do dia 30 de agosto de 2025, partiu o escritor brasileiro Luis Fernando Verissimo, aos 88 anos, reconhecido como um dos maiores cronistas, jornalistas, romancistas e contistas do Brasil. Filho de Mafalda Verissimo e Érico Verissimo, ele comemoraria mais um aniversário no vindouro dia 26 de setembro. Em data distante, tive o prazer de conhecê-lo e conversar pessoal e brevemente com ele em um café matinal no Hotel Sagres, em Belém do Pará. Um privilégio.

Na sua crônica sob o título O tomate, Verissimo externou que: “Cristovão Colombo examinou o tomate que o indígena acabara de lhe dar e exclamou: — Um pomo d’oro! O tomate reluzindo ao sol da América recém-descoberta pareceu ao almirante uma maçã selvagem. Colombo perguntou ao indígena para que servia aquilo. — Saladas — respondeu o nativo. — Refogados. Molhos. Colombo pensou na sua avó italiana, que cozinhava o espaguete que Marco Polo trouxera do Oriente, mas sempre reclamava que faltava alguma coisa. Colombo descobrira, além da América, o que faltava na macarronada da nonna. O índio quis saber o que Colombo lhe daria em troca do tomate, e Colombo lhe deu uma miçanga. Que outras novidades o índio tinha para oferecer? A batata. Colombo teve uma premonição de fritas, noisettes e rotis, botou a batata na algibeira e deu em troca um espelhinho.”

Em outra crônica, sob o título O futuro no passado, Verissimo disse que: “Poucas previsões para o futuro feitas no passado se realizaram. O mundo se mudava do campo para as cidades, e era natural que o futuro idealizado então fosse o da cidade perfeita. Mas o helicóptero não substituiu o automóvel particular e só recentemente começou-se a experimentar carros que andam sobre faixas magnéticas nas ruas, liberando seus ocupantes para a leitura, o sono ou o amor no banco de trás. As cidades não se transformaram em laboratórios de convívio civilizado, como previam, e sim na maior prova da impossibilidade da coexistência de desiguais.”

Em mais uma crônica, sob o título Fiu-fiu, ele escreveu que: “Os celulares são práticos e se tornaram indispensáveis, eu sei, mas empobreceram a vida social. Existe coisa mais melancólica do que uma mesa de quatro pessoas, num restaurante, em que três estão dedilhando seus smartphones e uma está falando sozinha? Ou um casal em outra mesa, os dois mergulhados nos respectivos celulares sem nem se olharem, o que dirá se falarem — a não ser que estejam trocando mensagens silenciosas entre si, o que é ainda mais triste?”

Leais e sensíveis ao contexto histórico, as crônicas e obras do gaúcho Luis Fernando Verissimo merecem ser revisitadas por todos, para continuar a nutrir as presentes e futuras gerações e a entusiasmar o aperfeiçoamento perene de nossa sociedade em relação aos valores humanos e às instituições democráticas.

Staël Sena
Stael Sena é advogado pós-graduado em Direito (UFPA) e presidente da Comissão Estadual de Defesa da Liberdade de Imprensa da OAB-PA.

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