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Rio Tinto é um município brasileiro localizado na Região Metropolitana de João Pessoa, estado da Paraíba. Pois bem, em plena sessão da Câmara Municipal de Rio Tinto, na quarta-feira (22), o vereador Raphael Gonçalves, mais conhecido como Raphael Tchutuca, usou a tribuna para sugerir que a Prefeitura transforme o matadouro público em um “bar que faz os homens solteiros felizes”.

“Já que tem um matadouro, está lá o prédio sendo abandonado, já que tem aquelas correntes que puxam o boi para cima… tirar as meninas do bar da roda e botar no matadouro. Já que lá não funciona nada, não tem previsão de funcionar e não serve para nada. Então tem que ir logo assim”. E ainda emendou: “Como eu fiz outra denúncia, aqui tinha um campo de futebol. O primeiro campo de futebol que tinha um bar que fazia homens felizes. Veio a solução. Então, já que o matadouro não tem solução de reabertura, vamos ver se abre. Pelo menos faz uma permuta. Pelo menos serve para alguma coisa”, arengou, achando ser muito espirituoso.

A misoginia está presente no cotidiano das mulheres, por exemplo, em piadas sexistas. Historicamente, mulheres são ensinadas a sempre privilegiar os interesses, desejos e anseios dos outros em detrimento dos seus, e a relevar as violências de que são vítimas, sobretudo a silenciar. Indivíduos do tipo do vereador rio-tintense acham que nada há de mal nisso.

Agredir, degradar ou discriminar a mulher por preconceito ao sexo feminino pode ser incluído na lei 7.716/89, que trata dos crimes de racismo, homofobia e transfobia e tramita no Senado. A ideia legislativa foi proposta pela psicóloga e pesquisadora da Universidade de Brasília Valeska Zanello, que alcançou os 20 mil apoios necessários para apresentá-la formalmente. A intenção era incluir no rol dos crimes de preconceito a injúria, ofensa à dignidade ou ao decoro e o discurso de ódio, por meio de palavras, gestos ou atos, dirigidos a pessoas em razão do seu sexo feminino. A iniciativa popular também foi apoiada pela senadora Ana Paula Lobato, que a transformou no PL 896/23, prevendo multas e penas de reclusão de um a cinco anos ao agressor, a depender do ato praticado contra a mulher.

Não obstante os avanços no que toca à igualdade de gênero, a partir do ativismo feminista, mudanças culturais, reformas legais e mudanças nas políticas institucionais, a misoginia ainda está presente e forte nas sociedades ditas pós-patriarcalistas. As mulheres alcançaram direitos iguais formalmente, mas ainda não são tratadas como humanas. A hostilidade misógina engloba uma variedade de atitudes, tais como infantilizar, ridicularizar, humilhar, demonizar e atacar a reputação de mulheres, assim como silenciar, considerar como meros objetos sexuais ou com essência sub-humana.

A misoginia banaliza a violência contra a mulher em vários aspectos de sua vida, na esfera social, psicológica, financeira e política, na maior parte das vezes dissimuladamente, como no caso do neomachismo. Admitir a segregação de papeis sociais é cruel e perverso, dois elementos definidores da misoginia, cuja retórica deve ser combatida para o bem de toda a sociedade. Espera-se que no mínimo o vereador rio-tintense seja cassado por falta de decoro parlamentar, por comparar mulheres a animais, que devem ser “abatidas”.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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