No próximo dia 15 de outubro, terça-feira, é celebrado o dia dos professores, profissionais que, no contexto acadêmico e social, têm papel que vai muito além da sala de aula. Na Universidade do Estado do Pará (Uepa), uma série de projetos de extensão têm mostrado como a docência pode impactar diretamente a vida de comunidades, promovendo saúde, cidadania, sustentabilidade e o engajamento social. As Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras seguem o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, o que significa que o trabalho acadêmico vai além das fronteiras da universidade. Projetos de extensão conectam o saber científico com as demandas da população, criando uma via de mão dupla entre universidade e sociedade.
Um excelente exemplo é o projeto “Promovendo Saúde e Higiene Pessoal na Mulher”, orientado pela professora Eliseth Costa Oliveira de Matos, da Escola de Enfermagem Magalhães Barata (EEMB). O projeto é realizado em quatro etapas na Escola de Ensino Fundamental Olga Benário, localizada no bairro do Aurá, em Ananindeua, e visa a promoção da saúde de meninas adolescentes, abordando temas como higiene pessoal e autocuidado. A professora ressalta que esses projetos são fundamentais não apenas para a formação dos alunos, mas também para devolver à comunidade o conhecimento produzido dentro da universidade., ajudando a desenvolverem senso crítico, autonomia e habilidades que vão além da teoria. O projeto, que integra as celebrações pelos 80 anos do curso de Enfermagem em 2024, é vinculado à Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e conta com o apoio do Grupo de Pesquisa Determinantes dos Processos Infecciosos e Parasitários em Ambientes Amazônicos (DPIPAA) e do Centro de Referência de Assistência Social (Cras Aurá).
Outro projeto, sob a orientação da professora Cláudia Miranda, do curso de Saúde Coletiva, aborda a saúde e a invisibilidade social dos trabalhadores da limpeza urbana em Belém. A ação educativa envolveu alunos do curso em uma imersão na realidade desses trabalhadores, discutindo o preconceito e a falta de reconhecimento enfrentados por esses profissionais, essenciais para a saúde pública e o meio ambiente. Os estudantes não apenas observaram as condições de trabalho, mas também promoveram ações educativas no bairro do Marco, conscientizando a população sobre a importância desses trabalhadores e o descarte adequado de resíduos. A disciplina “Atividade Integradora Saúde, Ambiente e Sociedade”, coordenada por Cláudia Miranda, trouxe à tona o preconceito e a invisibilidade social enfrentados por esses trabalhadores, resultado da rejeição cultural associada ao lixo. “A extensão vai além da teoria, ela transforma a prática, ensina cidadania e muda a visão dos alunos sobre o impacto que podem ter na sociedade”, diz Cláudia Miranda. Desenvolvido pelos alunos do 4º período, o projeto envolveu debates sobre saúde única e reflexões acerca da atuação e importância dos trabalhadores da limpeza urbana.
No campo das ciências, o projeto “Astrociência: Meninas e Mulheres nas Ciências no Pará”, coordenado pela professora Jeane Costa, destaca-se por incentivar a participação feminina em áreas tradicionalmente dominadas por homens, como Astronomia, Química e Física. Voltado para alunas de ensino fundamental e médio, o projeto oferece oficinas que incentivam o interesse das meninas por ciências exatas desde cedo, quebrando estereótipos de gênero. Em sua segunda edição, a iniciativa oferece atividades gratuitas a cada quinze dias. O projeto é conduzido pelo coletivo feminino Tainá-Kan, composto por servidoras e estagiárias de diversas áreas do conhecimento do CCPPA, com o objetivo de promover a popularização e valorização das mulheres e meninas no campo científico. Quinze estudantes de escolas públicas e privadas participam das ações, que começaram em abril deste ano e continuarão até dezembro. Jeane Costa relata que o projeto tem um impacto transformador, não apenas no conhecimento científico das alunas, mas também no empoderamento pessoal. “As meninas aprendem que podem ocupar qualquer espaço, inclusive nas ciências, que é ‘terra de todos’. É gratificante ver o entusiasmo delas ao descobrir novas áreas do conhecimento”, afirma Jeane.
A extensão universitária, ao conectar o ensino e a pesquisa com as demandas sociais, desempenha um papel crucial na formação cidadã dos alunos e na transformação das comunidades. Matheus Souza, professor do curso de Relações Internacionais da Uepa, destaca a importância dessas atividades para que a universidade atue como um agente de mudança social. Ele coordena o curso de extensão “Introdução a Cerimonial e Protocolo de Eventos Internacionais”, preparando estudantes para atuar em eventos de grande porte, como a próxima Conferência do Clima, a COP 30, que ocorrerá em Belém. Segundo Matheus, o contato dos alunos com o mundo real é uma forma de aprendizado prática que os prepara para desafios além da sala de aula. “As atividades de extensão proporcionam uma vivência que não pode ser adquirida apenas por meio de livros. Elas formam cidadãos completos, preparados para lidar com as demandas da sociedade de maneira crítica e responsável”, explica.
Os professores – da Uepa e de incontáveis outras instituições – são agentes de transformação social, facilitadores de mudanças e formadores de cidadãos. Eles não apenas contribuem para o crescimento acadêmico de seus alunos, mas também impactam positivamente as comunidades em que atuam, reforçando o papel da universidade como um espaço de transformação social. O trabalho docente é, sem dúvida, um dos pilares fundamentais na construção de uma sociedade mais justa, sustentável e inclusiva, onde o conhecimento e a cidadania caminham de mãos dadas para o desenvolvimento de um futuro melhor. Por isso, os professores de todas as esferas do ensino devem ser valorizados todos os dias, não só com salários justos mas também com tratamento digno e a possibilidade de desenvolverem seus trabalhos com expansão para a comunidade.
Foto: Professora Jeane Costa (Monique Hadad / Ascom Uepa)
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