A Elf Galeria (Passagem Bolonha, nº 60), a mais antiga em atividade em Belém, abre suas portas nesta quinta-feira, 12 de dezembro, das 18h às 21h, para a terceira exposição individual do artista parauara Henrique Montagne. Intitulada “Tybyras: Caminhos de uma Amazônia Queer”, a mostra explora questões de gênero, sexualidade e ancestralidade indígena e cabocla unindo desenho, texto e fotografia, e poderá ser visitada gratuitamente até o dia 15 de fevereiro de 2025.
A exposição parte de um marco histórico: a figura de Tibira do Maranhão, indígena Tupinambá assassinado pela Igreja Católica por expressar uma identidade de gênero e sexualidade não normativa. A partir desse evento, Henrique resgata o termo “tibira”, usado por povos originários para descrever pessoas fora dos padrões normativos de suas aldeias, demonstrando como essa diferença era vista com naturalidade.
O artista entrelaça essa pesquisa histórica com vivências contemporâneas, tecidas durante viagens por territórios ancestrais da Amazônia Paraense, como o o Marajó, Carajás e Tapajós. Nessas andanças, dialogou com pessoas LGBTQIA+ amazônidas — indígenas, mestiças e caboclas — para construir um “aldeamento” coletivo de ideias e resistências. O resultado é uma obra que denuncia as feridas do colonialismo enquanto celebra a potência identitária e a reconexão entre corpo, sexualidade e natureza.
Henrique aborda narrativas das vivências de corpos masculinos Queer na sociedade contemporânea, transitando por temas como papéis de gênero, masculinidade, relações amorosas, solidão e cultura LGBTQIA+. Seu trabalho é multimídia, incorporando desenho, fotografia, performance, instalação e texto, ampliando as possibilidades de expressão artística. Com exposições realizadas no Brasil, Portugal, Estados Unidos e Grécia, o artista consolida sua carreira, de grande relevância no cenário das artes visuais.
A frase de Ailton Krenak, “separam o nosso corpo em uma coisa e a natureza em outra”, é recontextualizada por Montagne para reforçar a unidade entre corpo e bioma: “Nós somos uma só existência juntas.” Essa perspectiva permeia todas as obras da exposição, evidenciando a conexão entre diversidade humana e a vastidão da Amazônia.
O evento de abertura contará com a participação do projeto Rainha das Matas, coletivo LGBTQIA+ de Soure, no Marajó, conhecido por sua atuação em prol da diversidade e resistência. Outra atração será a performance-acontecimento-gira com Mainumy, Beija-flor de Mãe Preta, artista e ativista que traz à cena elementos da cultura afro-amazônica em diálogos com o universo Queer.
A exposição foi selecionada pelo Edital de Pesquisa e Experimentação em Artes Visuais da Lei Paulo Gustavo 2024. A produção é assinada pela plataforma Kuya, com o apoio de Maxcolor Belém, Amazonique e Babaçu Produções, além do fomento da Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult), Governo do Pará e Ministério da Cultura (MinC).
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