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Começa nesta sexta-feira (15) e segue no sábado (16), o festival folclórico da disputa dos botos Tucuxi e Cor-de-Rosa, na Vila de Alter do Chão, em Santarém. As duas noites serão transmitidas pela Cultura Rede de Comunicação, com exclusividade, pela TV, Portal e também aplicativo, a partir das 21h.

Declarado em lei estadual Patrimônio Cultural e Artístico do Pará, o ritual original existe há mais mais de trezentos anos. Çairé era um baile indígena (puracê), desde o primeiro século da colonização, espécie de dança de roda conduzida por um “arco” – motivo indígena, seu centro geométrico, com diâmetro e raios assinalados em algodão e fitas vermelhas pendentes, ornamentado com uma cruz forrada e enfeitada, revelando o símbolo católico que o jesuíta acrescentou ao outro símbolo pagão. Alter do Chão era uma aldeia da etnia Borari. O Çairé conta, através da dança e do canto, como a fé católica foi usada para catequizar o indígena e dominá-lo. O cântico triste, monótono e rouco, tem os versos “Ito camuti pupé neiassucá pitani puranga ité”, assim traduzidos: “Em uma pia de pedra foi batizado um belo menino”. E logo o estribilho por todos repetido: “É Jesus, é Santâ Maria. Santa Maria cunhã poranga imembira iaué catu, iputira ipop”. Tradução: “Santa Maria é uma mulher bonita e seu filho como ela, com uma flor na mão”.

O Çairé foi incorporando danças e folguedos populares. De 1943 a 1973 foi proibido pela Igreja católica. Era em julho e passou para setembro porque nessa época as praias estão em seu ápice, no verão amazônico. Nada de botos entre os personagens. O Juiz e a Juíza são as figuras principais. Tem o Procurador e a Procuradora, o Capitão, os Rufadores de Caixa, os Alferes, os Mordomos e Mordomas, o Sargento e a Saraipora, que é a mulher que conduz o Çairé.

A Busca dos Mastros do Çairé 2023 foi realizada no sábado, 9, em lindo cortejo fluvial até o Lago Verde, em catraias (pequenas embarcações a remo) amarradas umas às outras e puxadas pelo barco principal. Os mastros são dois troncos de árvore que durante a Festa do Çairé simbolizam os laços do ser humano junto ao celestial, a fartura e purificação. É um momento especial, marcado por ritos de devoção e muita música. O percurso foi animado pelo toque de folias e muitas brincadeiras entre os participantes. Na chegada, a procissão saiu pelas ruas de Alter do Chão tendo à frente a Saraipora (Dalva De Jesus) que conduziu o Çairé (símbolo que representa a Santíssima Trindade) e ao lado dela estavam as moças-da-fita; a juíza, carregando a coroa; os alferes com as bandeiras que representam os juízes e as mordomas e os mordomos enfileirados atrás de suas respectivas bandeiras. 

Os mastros ficarão na Praia do Cajueiro até esta quinta-feira, 14, quando serão levados até a Praça do Çairé para serem enfeitados e hasteados, dando assim início à Festa do Çairé. Este ano, os mastros foram retirados na Ilha de Santana, e são da espécie Caraipé. No local, foram plantadas 50 mudas de espécies locais como Andirobeira, castanheira e Ipê.

Na noite desta sexta-feira (15), o Boto Tucuxi vai desenvolver o tema: ‘Yandê, o Çairé’. “O Çairé sempre foi feito por nós. Yandê em Borari significa ‘Nós’. Então, vamos levar para o Lago dos Botos os indígenas boraris, os ancestrais, a aldeia, a nossa tradição. São as mãos da coletividade, que juntas mostram que sempre será: ‘Nós, o Çairé! Yandê, o Çairé’”, conta o presidente da agremiação, Toninho Araújo. Já na noite de sábado (16) será a vez do Boto Cor-de-Rosa, apresentando o tema “A Grande Festa”, em comemoração à retomada do Çairé, que em 2023 completa 50 anos. “Vamos levar muita alegria e mostrar ao público a importância de se manter nossa cultura. São 50 anos que a festa do Çairé foi retomada e a cada ano que passa recebemos mais visitantes que se apaixonam pela nossa história. É uma justa homenagem aos nossos antepassados”, destacou o presidente da agremiação, Miguel Wanghan.

“Uma festa dessa magnitude não poderia ficar fora da nossa grade de transmissão, será também a chance de os paraenses que estão fora do Estado, principalmente os santarenos, matarem a saudade das suas raízes, pois estaremos ao vivo também pela internet através do nosso portal, para todo o planeta. Essa é a forma que nós, sendo emissora pública e educativa e, principalmente, que levanta a bandeira da cultura estadual, podemos entregar para o telespectador o que tem de mais incrível no Pará”,  comenta Miro Sanova, presidente da Cultura Rede de Comunicação.

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