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Líder feminina histórica do movimento indígena, Tuíra Kayapó Mẽbêngôkre, neta do lendário cacique Raoni Kayapó e inspiração das jovens na construção de um novo protagonismo feminino indígena, passou ao reino da Encantaria hoje (10), aos 54 anos, por complicações decorrentes de um câncer no útero. Há 32 anos ficou mundialmente famosa quando, aos 19 anos, durante o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA), em fevereiro de 1989, encostando um facão no rosto do então presidente da Eletronorte, engenheiro José Antônio Muniz Lopes, ela elevou o grito Kayapó de luta – “Tenotã-mõ” – e se tornou referência em defesa da Amazônia.

A icônica foto de Protássio Nêne correu o planeta. Ela queria mostrar ao governo o que é opressão e seu gesto virou símbolo da luta de seu povo. Foi tanta coragem e destemor que teve papel decisivo no meio de tantas autoridades governamentais, cientistas e empresas multinacionais. Na época, o presidente da República era José Sarney (MDB). O projeto da usina Kararaô, concebida em plena ditadura militar, foi paralisado por duas décadas, mas voltou nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2016), já com a denominação UHE Belo Monte.

A jovem Tuíra já defendia a liderança feminina e a união dos povos indígenas. Foi ela quem liderou a comitiva Kayapó durante a marcha “Meu corpo, meu território”, o 1º Encontro Nacional de Mulheres Indígenas, que em agosto de 2019 reuniu mais de duas mil mulheres em Brasília (DF). A pioneira também foi um dos grandes nomes do “Encontro dos Povos Mebengokrê e lideranças indígenas do Brasil”, na Terra Indígena Capoto Jarina, no rio Xingu, em Mato Grosso.

A corajosa Tuíra protagonizou uma revolução social lenta, silenciosa, gradual e pacífica, que vem alavancando mulheres líderes e guerreiras, geradoras e protetoras da vida, que se posicionam com firmeza quanto às questões antropológicas e as violações que afrontam seus corpos e territórios, passando por temas ligados à saúde, educação, violência e igualdade de decisões. Assim desponta a nova geração de mulheres indígenas estudantes, com carreira acadêmica, que casam após os 30 anos de idade e se evidenciam como líderes de seu povo.

A grande mestra, guerreira e sábia está encantada, viva na luta e na História.

Foto de Protássio Nêne

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