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Donald Trump voltará ao Salão Oval da Casa Branca como o 47º presidente dos Estados Unidos. Em um retorno, digamos, surpreendente, após sua derrota nas eleições de 2020, ele venceu a vice-presidente Kamala Harris, levantando importantes questões sobre o futuro da democracia estadunidense, uma vez que um presidente duas vezes impeachado e condenado por crimes reassume o cargo dito mais poderoso do mundo.

Desde que deixou o posto em 2021, Trump enfrentou uma série de questões legais. São várias as acusações pendentes, incluindo interferência eleitoral no estado da Geórgia. Mesmo assim, Trump conseguiu manter sua candidatura, superando concorrentes primários como os ex-governadores Nikki Haley e Ron DeSantis.

As pendências jurídicas de Trump foram estrategicamente adiadas para depois das eleições. Condenado por múltiplas acusações de falsificação de registros comerciais e difamação, as batalhas legais de Trump provavelmente continuarão, mas sua imunidade ampliada pode protegê-lo das consequências. Esses adiamentos podem encorajá-lo a agir sem receio de represálias judiciais, assim que assumir o cargo.

A saída inesperada do presidente Joe Biden, em julho, da corrida presidencial, abriu espaço para Kamala Harris, que fez história ao se tornar a primeira mulher negra e de ascendência sul-asiática a liderar a candidatura presidencial de um grande partido. Ao lado do governador de Minnesota, Tim Walz, como seu vice, Harris injetou nova energia na base democrata, mas seu impulso não foi suficiente contra a estratégia de Trump no Colégio Eleitoral.

Apesar das pesquisas indicarem que Trump e seu vice, JD Vance, perderiam no voto popular, a chapa garantiu a presidência com uma vitória decisiva no Colégio Eleitoral. A campanha de Trump, centrada em questões econômicas e de imigração, recuperou estados críticos como Pensilvânia, Carolina do Norte, Geórgia e Wisconsin.

O sucesso de Trump no Colégio Eleitoral pode ser atribuído a uma série de erros dos democratas, que enfrentaram uma base dividida e desacordos internos. A ênfase de Harris em causas progressistas animou certos grupos demográficos, mas alienou eleitores moderados, especialmente à medida que Trump explorava questões culturais e econômicas.

Os discursos de vitória de Trump e suas promessas de campanha exibiram uma retórica de “retribuição” dirigida a adversários políticos, à mídia e até a membros de seu próprio partido que se opuseram a ele. Esse tom gerou alarme entre analistas políticos e defensores da democracia, já que Trump discutiu abertamente a reestruturação do governo federal para eliminar dissidentes. Sua administração planeja preencher agências federais com lealistas, efetivamente minimizando os tradicionais freios e contrapesos.

Além disso, Trump prometeu implementar políticas duras contra imigrantes indocumentados, impor tarifas sobre bens estrangeiros e afastar ainda mais os Estados Unidos de alianças internacionais como a OTAN. Sua retórica inflamou temores de que sua administração possa colocar em risco normas democráticas, especialmente diante de recentes decisões judiciais que aumentam a imunidade presidencial—um poder que ele provavelmente usará contra adversários.

A nova administração de Trump tem um apoio sem precedentes do Partido Republicano. Durante seu primeiro mandato, figuras-chave de sua administração e do judiciário barraram muitas de suas políticas mais extremas. Agora, com um Senado controlado pelo Partido Republicano e uma Suprema Corte mais favorável, Trump provavelmente irá implementar sua agenda com mínima resistência interna.

O segundo mandato de Trump terá seus nomeados na Suprema Corte, reforçados pela maioria conservadora, e que provavelmente sustentarão decisões que se alinham com suas políticas, fornecendo à sua administração um poderoso aliado judicial.

Defensores dos direitos civis alertam que as políticas de Trump podem afetar desproporcionalmente comunidades marginalizadas, especialmente dado seu posicionamento rígido contra imigrantes. As possíveis medidas de sua administração para restringir os direitos LGBTQ+ e o acesso ao aborto são áreas de preocupação particular. A retórica em torno da imigração, incluindo falsas alegações sobre migrantes e uma linguagem inflamatória, sinaliza um retorno a políticas mais rígidas e divisivas.

O retorno de Trump ao poder levanta questões existenciais para a democracia estadunidense, um sistema que ele criticou e desafiou abertamente e ostensivamente.

Em 6 de janeiro de 2021, o Capitólio dos Estados Unidos foi invadido por seus apoiadores, que protestavam contra a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020. A multidão ultrapassou barreiras de segurança, entrou no edifício e interrompeu temporariamente a sessão conjunta do Congresso. O ataque resultou em cinco mortes, incluindo a de um policial, e deixou mais de 140 agentes feridos. Posteriormente, mais de 1.200 pessoas foram acusadas de crimes federais relacionados ao incidente, com penas variando de alguns dias de prisão a 22 anos.

Seus apoiadores, galvanizados por um sentimento de vindicação, podem pressionar por políticas ainda mais radicais. Por outro lado, forças de oposição, desde organizações da sociedade civil até coalizões pró-democracia, provavelmente montarão uma resistência significativa, estabelecendo um cenário de intenso conflito social.

Embora, obviamente, seja incerto como os próximos quatro anos se desenrolarão, a presidência de Trump sinaliza, sem dúvidas, uma mudança no cenário político e cultural dos Estados Unidos. Suas políticas terão repercussões globais, afetando alianças internacionais, e é esperado que seja um desafio à resiliência das instituições democráticas.

Trump se prepara para ser empossado novamente e os estadunidenses — e o mundo — observam o impacto de seu retorno não só sobre a governança dos EUA, mas também sobre a estabilidade global.

Até novembro de 2024, Trump enfrentou quatro processos criminais distintos:

  1. Caso de Suborno a Stormy Daniels: Em abril de 2023, foi acusado de falsificar registros comerciais para ocultar um pagamento de US$ 130.000 à atriz pornô Stormy Daniels, visando silenciar informações durante a campanha presidencial de 2016.
  • Documentos Classificados de Mar-a-Lago: Acusado de reter ilegalmente documentos confidenciais após deixar a presidência e de obstruir a justiça ao impedir a recuperação desses documentos.
  • Interferência Eleitoral na Geórgia: Enfrentou acusações de tentar reverter os resultados das eleições de 2020 na Geórgia, incluindo conspiração para interferir no processo eleitoral.
  • Subversão Eleitoral Federal: Acusado de conspiração para fraudar os Estados Unidos, obstrução de um procedimento oficial e conspiração para privar os cidadãos de direitos civis, relacionados aos eventos de 6 de janeiro de 2021.

Em maio de 2024, Trump foi condenado por 34 acusações de falsificação de registros comerciais no caso envolvendo Stormy Daniels. Além disso, em fevereiro de 2024, foi condenado a pagar quase US$ 355 milhões em um caso civil de fraude em Nova York.

Em seu primeiro processo de impeachment, em 2019, ele foi acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso, relacionado a pressões sobre a Ucrânia para investigar Joe Biden. Foi absolvido pelo Senado em fevereiro de 2020. O segundo processo de impeachment, em 2021, trouxe acusações de incitação à insurreição após os eventos de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio. Novamente, foi absolvido pelo Senado em fevereiro de 2021.

Além disso, Trump declarou falência corporativa seis vezes, todas relacionadas a seus cassinos e hotéis entre 1991 e 2009. Essas falências foram estratégias para reestruturar dívidas e não afetaram diretamente seu patrimônio pessoal.

Foto de Annie Spratt no Unsplash

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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