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Como as secas nos rios, a perda de polinizadores e as alterações no ciclo reprodutivo de plantas e insetos estão afetando a Amazônia? Como esses impactos climáticos desafiam não só o equilíbrio dos ecossistemas, mas também a economia, a alimentação e o modo de vida de populações inteiras? Essas e outras perguntas urgentes estarão no centro do Terceiro Ciclo de Diálogos “COP30 com Ciência”, que será realizado nesta terça-feira (24) às 14h no auditório Paulo Cavalcante, no Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém.

O evento, aberto ao público e com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube do MPEG, tem como tema “As respostas da biota amazônica frente às mudanças climáticas”. A roda de conversa reunirá a Dra. Gabriela Ribeiro Gonçalves (MPEG), a Dra. Camila Ribas (INPA), a liderança comunitária Maria de Fátima Guilherme (bairro da Terra Firme) e o líder indígena Josiel Jacinto Pereira Juruna (povo Yudja/Juruna, da Volta Grande do Xingu), com mediação do jornalista Fabyo Cruz, da Revista Cenarium.

O debate enfatiza a conexão entre as pautas das conferências internacionais do clima (COP do Clima) e da biodiversidade (COP da Biodiversidade). O ciclo é promovido pelo Museu Goeldi com o objetivo de aproximar o conhecimento científico das narrativas e experiências de povos indígenas, comunidades tradicionais, gestores e movimentos sociais.

Para Marlúcia Martins, pesquisadora e coordenadora do Ciclo de Diálogos e da Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação do Museu Goeldi, os impactos das mudanças climáticas na biodiversidade amazônica se dão por múltiplas frentes: direta, indireta e assíncrona. “De que maneira as mudanças climáticas estão de fato afetando a biodiversidade? Tem várias vertentes de afetação. Você tem alguns processos diretos, que matam organismos como, por exemplo, a seca dos rios, onde morrem milhares de peixes, e você tem processos indiretos que são processos encadeados, como a perda de animais frugívoros e polinizadores que interferem, por exemplo, nos projetos de restauração”, alerta.

A pesquisadora exemplifica: “Para ter árvore, para ter floresta, tem que ter os animais polinizadores e os animais dispersores. E para esses animais existirem, você precisa de todo o complexo de ecossistema que permite a vida deles. Como é que você vai ter castanha se não tiver cutia? Simples assim”.

Martins também chamou atenção para os chamados processos assíncronos (quando eventos que dependem da sincronia entre espécies deixam de coincidir por causa das alterações climáticas). “Muitas vezes um estímulo de alteração climática produz a flor em um período onde o inseto não está pronto para visitar. Aí você tem uma assincronia entre o recurso e o polinizador. A flor vem, mas não tem quem polinize. E o inseto nasce e não tem pólen para pegar da flor. E aí acaba reduzindo a população. E isso já acontece recorrentemente, você vai dessincronizando os dois e você desconecta o recurso do organismo. E aí você pode ter extinção dos dois lados”, explicou.

A proposta do ciclo é promover escuta e trocas de saberes entre os diferentes atores que vivenciam a Amazônia. A presença de representantes indígenas e de bairros populares levará para o auditório a realidade das populações que vivem nos centros urbanos e periferias da Amazônia, onde as mudanças no clima agravam os desafios cotidianos, como falta d’água, enchentes, insegurança alimentar e ausência de saneamento básico.

Os Ciclos de Diálogo “COP30 com Ciência” seguem até o fim de 2025, trazendo novas temáticas ligadas aos grandes desafios da região amazônica diante das mudanças globais.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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