Publicado em: 22 de junho de 2017

Recebi do velho comunista André Costa Nunes, escritor, pajé Xipaia, Dom Quixote tupiniquim que vive na beira do rio Uriboca, em plena região metropolitana de Belém, onde criou um restaurante e para lá transferiu um pedacinho da “Terra do Meio”, a mesopotâmia entre os rios Xingu e Iriri, e saiu mundiando as pessoas, uma pungente missiva, em forma de comentário na caixinha do blog.
É de cortar o coração o drama que aflige a população de Marituba, por causa dos equívocos cometidos no funcionamento do aterro sanitário naquele município. Algo precisa ser feito, com urgência, a fim de reparar o mal já feito e evitar que se propague. Vou pedir ao Curupira, ao Boitatá, ao Saci-Pererê e à Mãe-d’Água que protejam as famílias locais, porque as instituições oficiais não estão dando conta e a solidariedade não pode ficar só no discurso. As pessoas estão sofrendo, adoecendo e morrendo. A situação é grave, muito grave.
Leiam:
“Caríssima Franssi,
Sempre começo assim minhas correspondências com você. Talvez hoje eu preferisse, “Ave Franssinete Florenzano morituri te salutant”.
É vergonhosa e absolutamente incompreensível a atuação das ditas autoridades competentes no “LIXÃO” de Marituba.
Os relatórios dos fiscais e dos “interventores”, mais parecem releases da Revita, antes execrada pela Semas e pelo próprio Governador.
Os relatórios dos fiscais e dos “interventores”, mais parecem releases da Revita, antes execrada pela Semas e pelo próprio Governador.
A empresa proprietária, continua cantando de galo, desdenhando do povo, inclusive com matéria paga em jornal. Matéria redacional, portanto a mais cara, não assinada, sem aquele aviso regulamentar de “informe publicitário”. Como é matéria parecida com a que saiu na Agencia Pará, oficial, portanto, esta assinada, fica a dúvida: quem pagou, a Revita/Guamá, o Governo do Estado ou foi reportagem normal pautada pela redação por pura empatia sem ouvir o povo.
Querida Franssi, continuo com minha velha tese, só existe uma verdade inconteste, fato. Exemplo: o copo quebrou. Fim. Se foi o vento ou uma criança traquinas, não altera o fato. O copo está quebrado. É o caso do maldito lixão de Marituba. Está fedendo, adoecendo e matando pessoas, expulsando famílias de seus lares.
A prefeitura decretou estado de calamidade pública, o governo federal reconheceu estado de emergência, o chorume contaminou o lençol freático, tanto que o ministro Helder Barbalho foi em socorro da população distribuindo continuadamente carretas e mais carretas de garrafões de água mineral. Há um estoque de cem mil toneladas (5.000 carretas/tanque) de chorume que ninguém sabe o que fazer. Queriam empurrar para a Cosanpa, coitada, que não dá conta nem dos próprios encargos. Ouvi do Governador Jatene que só quem teria capacidade mais perto de tratar essa podridão seria a Jari Celulose, mas segundo apurou, só o custo do frete sairia por mais de $20.000.000,00 é isso mesmo, vinte milhões de reais.
Franssi, você acompanha esse imbróglio desde o início. Viu a patacoada que a Semas e o Ministério Público Estadual fizeram com o povo de Marituba. Você viu que desde cedo que só contamos com a Alepa, no que lhe concerne, que pode ser pouco ou muito já que neste caso há um consenso entre oposição e a base do governo, sensibilizados com o destino inexorável de cidade fantasma a que a ganância de um multinacional do lixo, a exercer o velho capitalismo selvagem do Século XIX redivivo com a conivência de outros nacionais. Talvez minha cara, se esteja aguardando o momento, que está próximo, em que o povo em desespera parta para o tudo ou nada na defesa de seus lares, suas famílias.
Esse tudo ou nada, a história ensina, só se sabe como começa. São adultos, crianças, bebês e idosos que acordam de madrugada sufocados sem poder dormir. As unidades de assistência médica estão superlotadas, mesmo com a socorro do Governo do Estado em comandos médicos. Os atendimentos aumentaram aos milhares… As recomendações dos médicos aos mais vulneráveis, crianças, grávidas e asmáticos e que se mudem para longe da catinga. Abandonar seus lares… Uma casa é uma conquista de uma vida. São pelo menos 120.000 vidas a serem literalmente oferecidas em holocausto ao deus dinheiro.
O Governador se sensibilizou, se disse enganado e, apoplético, ajuizou ação contundente via PGE. Pronto, quem conhece como anda o judiciário, pode imaginar que era tudo o que o lixão queria. Vai para as calendas gregas… Não vejo solução no horizonte. Maktub. Estava escrito. Marituba vai morrer. Mesmo com apresentadora da TV nos chamando de vândalos, que pelo menos morramos lutando.“
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