Publicado em: 10 de setembro de 2025
“ ORA ET LABORA “ ou reza e trabalha é um dos principais ensinamentos de São Bento, Santo inspirador do equilíbrio aliado as responsabilidades, ponto central do novo acadêmico eleito em 03.07. deste ano, para a cadeira patronímica de Teodoro Rodrigues sócio-fundador da APL, que foi empossado na data de hoje, o agora confrade jornalista, escritor, professor doutor em letras e comunicação Marcos Valério Lima Reis. Sua trajetória profissional é regida pela fé nas doutrinas beneditinas, justamente por ser o padroeiro dos estudantes, São Bento seu santo escolhido de devoção, nele busca pautar suas condutas pelo sustentáculo da vértice moral e ética profissional.
Assim como o último ocupante da laureada cadeira 37, o nosso decano anterior Octávio Avertano de Macedo Barreto da Rocha, o qual deixou indelével legado pelos mais de 40 anos como acadêmico, que muito contribuiu com sua extrema intelectualidade para esta casa. Mentor de muitos, meu amigo pessoal, a quem nutria grande admiração. Após um saudoso hiato de um ano e dois meses, sua pungente vacância estará sendo preenchida por um homem que cultiva a humildade, alicerçada pela serenidade de um católico fervoroso, mas também com facetas voltadas para a arte e a música. Marcos Valério de Lima Reis nasceu numa época em que a Bossa Nova dialogava com o mundo, em que o Cinema Novo refletia a realidade brasileira com imagens fortes e poéticas, em que poetas e escritores levantavam sua voz para não deixar morrer a liberdade. Na Amazônia, esse tempo também pulsava em desafios e sonhos, entre o silêncio imposto por episódios nos idos dos anos sessenta, que emolduraram a criatividade que insistia em brotar como igarapés em plena cheia, contexto que abraçou com nuances da resistência às imposições contrárias aos seus ensinamentos.
Natural de Belém do Pará, Marcos Valério Lima Reis, nasceu em 10.09.62, num prenuncio do destino, como se fosse uma prévia do período Ciriano, que ocorreria um mês depois, e talvez por isso ouso dizer que o manto de Nossa Senhora de Nazaré com sua divina proteção, iria reger seus passos na estrada da pacificação, e no viés traçado do pilar religioso, devido ao grande significado de devoção, com raízes da história Portuguesa e paraense. Sua vida começava no compasso de uma narrativa nacional atravessada por contradições, mas também pelo vigor das artes. E foi pela mão da professora Clara Palheta Cardoso, aqui representada que deu seus primeiros passos no mundo das letras, descobrindo na alfabetização um universo novo. Depois, com a professora Carmem Beatriz Pinto, aprendeu a escrever e a respeitar a língua portuguesa como quem cuida de um bem sagrado, cultivando nela a delicadeza e a disciplina que fomentariam mais tarde a sua vocação.
Filho de Hélcio de Oliveira Reis, oficial da Aeronáutica, e de Beatriz Waldiza Lima Reis, enfermeira destemida que ousou enfrentar os limites impostos ao feminino, Marcos cresceu entre a firmeza militar do pai e a coragem revolucionária da mãe. No hospital militar da Aeronáutica, sua mãe figura materna que cultiva grande orgulho, foi uma das primeiras mulheres a assumir funções reservadas aos homens, quebrando as grades invisíveis do patriarcado. Seu exemplo tornou-se para o filho lição de bravura, resiliência e dignidade.
Na infância e adolescência, estudou no Instituto Catarina Labouré, colégio das irmãs Vicentinas, onde aprendeu o valor da alteridade, do cuidado com o outro e da caridade que humaniza. No Colégio Tenente Rego Barros, herança da vida militar de seu pai, mais tarde, ao ingressar no Colégio Visconde de Souza Franco, mergulhou no ambiente da escola pública, onde a pluralidade social se revelava como verdadeiro retrato da capital provinciana.
A influência paterna trouxe, além da disciplina da Caserna, o cinema, a música e a literatura para dentro de sua vida. A palavra desde cedo, se tornou porto e travessia. Algo que sinalizou para o caminho da graduação nas Letras, especializando-se em estudos linguísticos e literários. Mais tarde, aprofundou-se na reflexão acadêmica e conquistou com muitas lutas pessoais os títulos de mestre e doutor em Comunicação e Linguagem, pois acreditava que a palavra não deveria permanecer apenas no livro ou no papel: ela precisava dialogar com a sociedade fatos e acontecimentos produzidos pelo povo, através da educação.
Essa crença também o levou ao jornalismo de carreira. Atuou como apresentador de telejornais em várias emissoras, traduzindo a notícia em proximidade com o público. Na Rede Nazaré de Comunicação, onde hoje é Diretor e completou 25 anos na emissora de televisão, com produções de conteúdos jornalísticos e acontecimentos culturais emanados pela sociedade, a comunicação tornou-se missão fundamental em registrar com alto nível profissional, dando visibilidade ao invisível, transformar informação em consciência, nas tramas da dialética com a vida amazônica realizando reportagens averbadas nos importantes acontecimentos do cotidiano e documentários históricos dos costumes e tradições. Buscou caminhos para entender a fé e a dualidade do ser humano, estendendo sua formação que une a comunicação e a teologia. A gênese do texto impregnada na palavra que transforme e vivifica.
Entretanto sua vocação maior pulsa na docência, onde alcançou a plenitude da realização no exercício de educador de jovens. Como professor universitário, contribuiu para a disseminação da Literatura na Amazônia paraense na formação de centenas de estudantes. Ministra disciplinas que são também territórios de identidade de literatura aprofundada quando evoca nossas raízes culturais, ensina textos de estirpe com o brilho da valia, oferece espelhos para que seus discentes se reconheçam, compreendendo a si mesmos e ao mundo.
Para além da sala de aula, é pesquisador e integrante de grupos de pesquisa, voltando-se aos movimentos artísticos e literários da Amazônia paraense, preservando memórias, fortalecendo vozes, valorizando signos e significados oriundos das gerações do passado. A produção científica e textual que desenvolve é parte de seu compromisso com o conhecimento e com a valorização da cultura regional. Neste panorama escreveu quatro livros, entre eles sua obra máster sobre a contribuição do paraense Bruno de Menezes, tornando-se o maior estudioso do assunto, de um dos maiores representantes da intelectualidade, que ousou desafiar o cânone literário como protagonista em difundir o saber oniciente às comunidades periféricas, para ressaltar sua memória e poesia. O eleito desta noite gloriosa, escreveu o maior exemplar de estudos sobre a biografia e dos poetas plumitivos, dos grupos inubes e descompromissados como por exemplo a academia do peixe-frito. Em 2005 Marcos Valério de Lima, recebeu do então presidente Alonso Rocha o título de Amigo da academia, pois já começava a frequentar timidamente, como ele gosta de dizer, as sessões abertas, quando assim era possível. Alinhavou algumas amizades com João Carlos Pereira e Edy-Lamar de Oliveira entre outros confrades que foi conhecendo através do tempo, como essa confreira oradora, que agradeceu ao gentil convite honrosamente.
Nosso novo imortal possuiu inúmeros cursos de aperfeiçoamento, em estudos contínuos observados dentro de sua vida acadêmica, além de ser pesquisador e especialista em Estudos linguísticos e literatura. Possui Pós-Graduação em docência de ensino. Posteriormente fez seu mestrado em Linguagens e cultura, e seguiu com louvor o doutorado em comunicação. Atua como professor universitário de literatura brasileira, afro-brasileira, Amazônica e indígena. Concluiu seu Pós-doutorado em teologia na PUC do Rio de Janeiro em 2020, sendo fator preponderante para embasar seus conhecimentos aprofundados na formação de identidades literárias-Amazônicas. Recebeu mais de sete vezes o prêmio “Clara de Assis” para a televisão, outorgada pela conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Em seu vultuoso currículo constam inúmeros artigos e trabalhos publicados, além de ser membro do IHGP e da Academia Paraense de Jornalismo.
Este memorial é o testemunho de uma vida envolta com as páginas da literatura e com os fios da história de seu tempo. Nascido nos ventos de uma década marcada por momentos nacionais e internacionais, teceu pensamentos e palavras para exercer seu voo, quando a liberdade parecia sufocada, escolhendo a pena e o grafite como forma de resistência e como ato de esperança, assim como Flannery O’Connor que escreveu a relação entre a literatura e a fé, na busca da complexidade da natureza humana e sua redenção, diante de um mundo em mudanças constantes.
Nosso novo imortal é casado há 35 anos com sua esposa a senhora Mara Reis, possui duas filhas amadas Laura e Barbara, que são seu porto emocional em seus pensamentos e ações entrelaçadas. Cito o evangelho segundo São Mateus; “ Bem-aventurados são os misericordiosos, aqueles que promovem a paz”. Bem como enfatizava nosso inesquecível e sábio Avertano Barreto da Rocha, que estará sempre em cada coração saudoso, de sua família aqui representada por sua viúva Nalva e filhos. Lembro carinhosamente e internamente inclusive de seu cão o querido Paçoca, o qual muito se afeiçou nos últimos anos, pois Marcos Valério Reis também preza o amor aos animais com seus quatro pets. Nesta saudação em que a Academia está em festa, pois um novo membro nela ingressa, o convido: “ Vamos ser como os poetas árcades e viver o essencial, sem excessos e com a mente plácida e apaziguada para enfrentar novos desafios”. Então o egrégio convite conceitual para enaltecer a plenária em suas reuniões, vem para conjecturar o enriquecimento da nossa cultura regional. Vamos nos reunir para falar das letras e artes, com conversas também com as vernas-verbas como nos antigos cafés Manducas ou Albanos da vida.
Porque a literatura, como os rios da Amazônia, não conhece prisão ou paredes. Ela: corre, rompe margens, reinventa o mundo. E assim é a vida de Marcos Valério Lima Reis — um tributo às artes, à educação e teologia. A semeadura frutificou no solo que germinou e à qual ele devolve, em cada gesto, a sua missão de professor universitário, educador e comunicador, levando conteúdo cultural às massas, reafirmando a comunicação responsável como instrumento de transformação social. Que sua entrada nesta academia seja regida pelas deusas Mites da inteligência e a voz da sabedoria de Atenas, para contribuir com sapiência e bondade ao adentrar pelo salão nominado Barão de Guajará. Nobre confrade, cito à você a frase cunhada do Sermão da Montanha; seja o sal da terra, com sua presença positiva e que preserva valores, tempera com mineral íntegro o solo. Que sua entrada signifique a expressão, “ luz do mundo” que dignificará e iluminará seu régio percurso neste templo da consagração literária! Seja muito bem-vindo com sua obra viva e tão necessária aos saberes amazônicos.
Discurso de saudação a Benilton Cruz na sessão solene de posse na Academia Paraense de Letras.
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