Moradores da Área de Proteção Ambiental Alter do Chão, em Santarém, liderados por indígenas da aldeia Karanã, bloquearam a rodovia Everaldo Martins (PA-457) ontem, 11, em protesto contra o desmatamento ilegal que avança sobre um terreno de 33 hectares às margens do Lago Verde. Eles pedem que o governo do Pará desaproprie a área e devolva à comunidade a Escola da Floresta, um espaço onde, até o ano passado, eram realizadas atividades de educação ambiental para estudantes da rede pública, promovendo a conscientização sobre preservação e integrando o roteiro turístico da vila amazônica.
A Escola da Floresta funcionava desde 2008 em regime de comodato em um terreno do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, com contrato renovável a cada cinco anos, o que deveria ter garantido a continuidade do projeto. Mas o CNS pôs o terreno à venda, a prefeitura alegou não ter sido informada e tampouco tomou providências para adquirir o local. Um grupo de especuladores imobiliários comprou o terreno, comprometendo o status da área como Área de Preservação Permanente, protegida por lei federal, além de território indígena onde fica a aldeia Karanã.
Para a população, o valor ambiental e cultural da área deveria ter sido preservado pelo poder público, e o descaso gerou grande indignação. Lideranças comunitárias como Laudelino Sardinha, o Laudeco, denunciam a tentativa de transformar a vila histórica amazônica, que vai completar 267 anos, em um centro de especulação imobiliária, destruição ambiental e gentrificação. O grupo que adquiriu o terreno é o mesmo responsável pelo Condomínio Chão de Estrelas, prédio de sete andares construído irregularmente na vila e alvo de ação civil pública por licenciamento ambiental fora da lei. A comunidade afirma que esse grupo, formado por advogados e até políticos de Santarém, planeja construir um resort no local, que deveria ser um patrimônio natural e público.
Os moradores já protocolaram a denúncia junto ao Ministério Público e apelam ao governador Helder Barbalho para que intervenha e desaproprie o terreno, assegurando a preservação do Lago Verde e o retorno da Escola da Floresta, dentro dos compromissos que vem assumindo em eventos internacionais de proteger a floresta e cuidar das pessoas. A comunidade alerta que a devastação e privatização dessa área representam grave ameaça ao equilíbrio ambiental e ao modo de vida local e exige providências urgentes das autoridades.
Os indígenas da etnia Borari desejam o retorno da Escola da Floresta como polo de formação, cultura e de ritos do Sairé, algo a serviço da comunidade como um todo.
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