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O Primeiro mapa preciso do rio Amazonas foi feito por um tcheco, o jesuíta Samuel Fritz que passou quase 40 anos de sua vida entre os povos originários da Amazônia.

Me ponho a pensar: o que mais se revelará na história de nossa região, demonstrando a presença de várias nações, inclusive da antiga Tchecoslováquia, atual República Tcheca.

O continente sul-americano foi visitado por muitos estrangeiros, nas entrelinhas da história está anotado. Muito antes de Cristo, civilizações antigas se derramaram pela Amazônia, vindas da américa do norte, cuja floresta encobre profundas marcas.

Tem-se em conta que em 1498 o comandante Duarte Pacheco Pereira, 1460/1533, cosmógrafo português, aportou antes de Cabral nas imediações do estado do Pará, episódio registrado em sua obra Esmeraldo “Situs Orbi”, enviada e guardada a sete chaves na corte espanhola.

O maior trabalho de Samuel foi seu relacionamento com os povos indígenas da Amazônia e por causa desse mapa fluvial foi considerado um dos maiores cartógrafos do mundo.

Nasceu em 1654, Trutnov, República Tcheca, depois se transferindo para Praga, onde cursou filosofia na Universidade Carlos-Ferdinand, tornando-se professor de latim e Vice-Reitor da faculdade jesuíta de Brno, cidade universitária famosa daquela nação.
Em Olomouc, após sua ordenação sacerdotal, em 1683, optou pelo Novo Mundo, aonde haveria de registrar seu talento e dedicação às etnias oprimidas.

Sem dúvida, foram grandes as intempéries que sofreu nessa vocação, desde o Marajó até ao lago Lauricocha, nos Andes Peruanos, polos extremos em sua cartografia marítima. Seu trabalho, bem como outros dedicados a direitos humanos, custam muito para serem reconhecidos, ocultos nos esconderijos das forças dominantes e opressoras da história.

Após dois anos de trajetória desembarcou, por oficio, na missão jesuítica do alto Maranñón, atual Peru, província dos Omáguas, uma das maiores tribos indígenas do Médio Amazonas. Expandiu seu trabalho a outras tribos que passaram a procurar em Samuel proteção contra os exploradores. Aprendeu idiomas indígenas e nesses percursos, praticamente em cima de embarcações precárias e pouco acima do nível da água, traçou esse grandioso mapa que a tecnologia moderna confirma.  

  A diferença dos exploradores navegantes que se orientavam pelas estrelas, é que o jesuíta tcheco se orientava pelas margens, distâncias, percursos, incidentes e ferramentas rudimentares, eis a grandeza de seu trabalho.

Com raras imperfeições de traçados, pequenas imprecisões por estar doente na finalização do esboço, seu mapa tornou-se uma inovação cartográfica, elogiado até pelo famoso cartógrafo francês Chales – Marie de La Condamine, no Colégio Jesuíta de Quito, Peru.

Pouco tempo depois Samuel foi preso pelos portugueses, sob acusação de espionagem, detido por quase dois anos no Pará, até que o Imperador Padro II de Portugal, ordenou sua soltura. Em uma nova missão, seguiu ultrapassando os cumes andinos até o Pacífico, sendo um dos primeiros europeus a cruzar o continente de um oceano a outro.
Perante o Vice-Rei de Lima, Peru, narrou dramaticamente sua viagem, entregando-lhe um diário e um mapa, solicitando proteção militar das missões espanholas contra ataques portugueses e demarcação de fronteiras em proteção aos índios.

Apesar de prometido, o Conde de Moncel recusou-se a resolver o assunto da fronteira, por não considerar importante, frustrando a proteção de Samuel aos povos originários. Por conta própria, decidiu ajudar os nativos contra opressões estrangeiras, convencendo os Omáguas, os Aizuares e os Yurimáguas, a se mudaram para centenas de quilômetros distantes, seguindo o rumo pelo mapa que tão bem elaborou.

Estima-se que dos 2,5 milhões de povos indígenas do Brasil que viviam na época da chegada de Cabral, menos de 10% sobreviveram até o ano 1600. O genocídio dos povos indígenas persiste até a era moderna. Samuel Fritz faleceu em 1723, no Peru. Em 1707 seu mapa do Amazonas foi impresso e as cópias podem ser encontradas nas coleções da Mapoteca, Itamaraty, Rio de Janeiro, ou na Biblioteca Pública e Arquivos de Évora, Portugal.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, jurista, humanista, mestre e doutorando em Direitos Humanos pela PUC/SP e FADISP/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no exterior, membro das Academias Paraenses de Letras, Letras Jurídicas, Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará, atualmente exercendo as funções de Cônsul Honorário da República Tcheca na Amazônia.

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