Publicado em: 14 de junho de 2025
A exoneração de Rossieli Soares do cargo de secretário de Estado de Educação é a excelente notícia deste final de semana. Vai ter festa nas aldeias indígenas, territórios quilombolas e ribeirinhos e dos professores em todos os rincões do Pará.
Um dos tenebrosos projetos de Rossieli Soares no Pará extinguiu o Sistema Modular de Ensino (Some) e o Sistema Modular de Ensino Indígena (Somei), medidas instituídas em lei e derrubadas depois de muita luta dos professores indígenas, não indígenas e quilombolas, que ocuparam a sede da Seduc e rodovias federais, apoiados maciçamente pela população paraense, e assim garantiram educação presencial em todas as comunidades do campo, das águas e das florestas.
Enquanto a educação era sucateada no Pará, grupos ou indivíduos foram beneficiados com contratos milionários, incluindo um com a Starlink, empresa de satélites do bilionário Elon Musk, para expandir o acesso à internet em áreas isoladas e viabilizar o ensino à distância. A Seduc-PA alegava não ter recursos para melhorar as condições de aprendizagem, mas alugou 39 fones de ouvido por R$166 mil. Rossieli poderia comprar um fone de alta qualidade por, no máximo, R$2 mil, mas a Seduc-PA pagou R$4,2 mil pelo aluguel (!) de cada unidade para o Centro de Mídia da Educação Paraense (Cemep), estúdio em Belém responsável por transmitir aulas para escolas do interior do estado, muito acima dos preços de mercado. Ao invés de investir na ampliação e melhorias nas escolas, foi contratada uma “organização” para instituir o ensino em tempo integral no Pará. Essas são apenas algumas das denúncias contra o agora ex-secretário.
Rossieli Soares foi nomeado secretário de Educação do Estado de São Paulo em 2019, durante o governo de João Doria, e saiu em 2021. Antes, já tinha sido secretário da Educação do Amazonas, entre 2012 a 2016, também foi Ministro da Educação em 2018, durante o governo de Michel Temer. Representante dos interesses dos ‘tubarões da educação’, que lucram ao transformar o ensino presencial em EAD, sua trajetória é marcada pelo desmonte na educação pública.
Todas as suas gestões deixaram um rastro de destruição: problemas de infraestrutura em escolas de comunidades rurais e indígenas, com falta de transporte escolar e condições adequadas de ensino, falta de diálogo com os professores e servidores, salários baixos e más condições de trabalho, especialmente nas áreas rurais, modelo de ensino que não leva em conta as particularidades dos alunos e suas vivências nas comunidades, ignorando o período cíclico, as etapas de trabalho na agricultura, a coleta de alimentos, a cultura local e, no caso dos povos indígenas, a língua materna de cada etnia.
O Pará se livrou de Rossieli Soares, mas é crucial que ele seja responsabilizado por todos os seus atos. A impunidade não pode ser tolerada, pois representa um acinte para a justiça e o futuro da educação pública. Resta perquirir, agora, as razões obscuras pelas quais saiu do cargo. A Polícia Federal estaria perto de sua prisão, como foi no caso de pelo menos dois outros secretários “importados” pelo governador Helder Barbalho? Antonio de Padua, que era titular da Setran, fraudava contratos e desviava recursos, foi preso na Operação SOS da PF, e Alberto Beltrame, que era da Sespa, desviava recursos e fraudava compras na área da saúde, incluindo respiradores e álcool em gel, e enquanto o povo morria por falta de atendimento na pandemia acumulava mais de trezentas obras de arte em seu apartamento em Porto Alegre, foi preso na Operação Para Bellum da PF, ambos no final de 2020.

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