Chegou setembro. Mas não foram os girassóis da primavera que o tornaram amarelo, tampouco o sol ardente dos trópicos. Ele amarelou por causa dos laços. Mas não dos laços que foram feitos. Amarelou em razão daqueles que se afrouxaram, desfizeram-se ou que nunca foram entrelaçados durante todos os meses do ano, durante toda uma vida.
Onde caberia um laço, não raramente, ouvimos julgamentos: Fraca! Doido! Sem fé! Covarde! Frescura! Falta do que fazer! Quer chamar atenção…. E, com tantas críticas e convicções, Marias, Antônios, Paulos, Júlias e um alfabeto inteiro foram humilhados, negligenciados e ignorados todos os meses do ano.
É comum quando alguém próximo, não suportando mais o peso da insocorribilidade e em um ato de desespero encerra a vida, alguns comentarem: “… era tão alegre…”. É que ninguém escuta a tragédia oculta no coração humano, matando-o dia após dia. Não é facil perceber que muitos seguem gargalhando – cólicas da alma – fazendo sua performance que contrasta com a tristeza que o esmaga. Nem sempre conseguimos perceber que para alguns o mundo ficou preto e branco, perdeu a cor, o brilho, a alegria. Que para alguns, as pessoas, as coisas, enfim, o mundo, deixam de fazer sentido e pouco a pouco tudo se esvazia. Como diz Guimarães Rosa, em Campo Geral, um dia a pessoa acorda sentindo o existir do mundo em hora estranha e já não sabe mais se o hoje é o amanhã.
O setembro amarelo começou em 1994, nos USA, quando um amável rapaz chamado Mike Emme, conhecido por sua habilidade em restauração de carros, especialmente pelo seu Mustang 1968 que ele próprio havia pintado de amarelho brilhante, suicida aos 17 anos. Em seu funeral, os amigos desolados por não haverem percebido que Mike precisara de ajuda, fizeram cartões com fitas amarelas escrito: “se precisar de ajuda, peça!”.
Quisera setembro durasse o ano inteiro para que pudéssemos olhar com mais compaixão para os Pedros, as Joanas, as Márcias, os Mikes e tantos outros. Quisera setembro pudesse afrouxar os nós da garganta e, como na música Sol de Primavera do Beto Guedes, a boa nova andasse nos campos de suas almas, o perdão brotasse no coração, uma nova canção fosse inventada, as janelas do peito se abrissem para o mundo e muitos parassem de se perder, ainda tão jovens, pelo caminho. Mas, só nos resta aprender! Aprender a ser compassivo, mão que se estende, braço que acolhe. E, então, quando entrar setembro, talvez possamos estar mais próximos um dos outros e, quem sabe, fazer uma linda passarela multicolorida para um novo mundo.
Não estou afirmando que pessoas suicidam por culpa de alguém, muito menos que quem não conseguiu ver a dor no outro deva sentir-se culpado. É imperativo considerar a subjetividade de cada um. Mesmo na clínica, na maioria das vezes, a demanda que o paciente traz modifica-se quando ele se dá conta do que realmente precisa. Daí a frase de Lacan: “eu te peço que recuses o que te ofereço, porque não é isso”.
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