Publicado em: 1 de dezembro de 2025
Albertinho Leão, presidente da Universidade Livre do Marajó (Unilivre Marajó), participou ativamente da COP30, trazendo para as discussões internacionais o arquipélago do Marajó e seus graves indicadores sociais. Em entrevista exclusiva ao Uruá-Tapera, ele analisou os desafios estruturais da região e o papel das decisões geopolíticas e climáticas no futuro das populações que vivem no território.
A conversa ocorreu após um painel promovido pela Unilivre Marajó e comandado pelo diretor de projetos da instituição, Rodolfo Pereira, que discutiu a exploração de petróleo na Margem Equatorial, tema que mobiliza comunidades tradicionais e organizações sociais por suas potenciais consequências socioambientais. A partir desse debate, Albertinho destacou que o Marajó é a região que concentra um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano do país mesmo diante de uma riqueza natural e cultural incontestável.
O presidente enfatizou que a Unilivre tem como missão cooperar com os movimentos sociais e as comunidades tradicionais, que precisam se organizar para enfrentar os potenciais impactos de grandes projetos de exploração. Ele acrescentou que a instituição tem como foco desenvolver um trabalho para fortalecer essas comunidades, tanto para que participem das decisões que envolvem seus territórios quanto para que estejam preparadas caso ocorram acidentes ou transformações socioeconômicas resultantes desses empreendimentos.
Ao comentar a necessidade de planejamento e transparência no uso de recursos provenientes de eventuais atividades extrativistas, Albertinho afirmou que é fundamental que “esses recursos que vierem a compor orçamento dos municípios e também do Estado e até mesmo do Governo Federal que seja discutido com a população as suas prioridades”. Para ele, a COP30 ampliou a visibilidade do Marajó, mas essa visibilidade precisa traduzir-se em políticas concretas, especialmente nas áreas onde o Estado tem falhado de forma mais profunda.
Um dos exemplos citados por ele se refere à ausência de serviços essenciais, como defensoria pública, que já era uma denúncia histórica na região e que permanece sem solução. Ele destacou que “o Pará tem mais de 50 municípios que não têm defensoria pública. Dos 17 municípios do Marajó, mais de 10 não têm”, reforçando que a negligência na oferta de serviços básicos mantém a população desprotegida. A falta de presença estatal abre espaço para vulnerabilidades amplas, inclusive para atuação criminosa, já que muitos municípios não dispõem de juízes, promotores, delegados ou equipes de segurança em tempo integral.
O presidente da Unilivre também relacionou o debate climático à agenda de saúde pública. No Marajó, como observou, essa relação é ainda mais evidente, já que “a maioria dos municípios não têm hospital e quando tem é só o nome de hospital”. Ele descreveu estruturas físicas sem equipamentos, sem profissionais e sem capacidade de atender a população rural, que representa mais de 60% dos habitantes da região.
A Unilivre Marajó se propõe, como atesta seu presidente, a atuar como uma instituição de formação, mobilização e fortalecimento comunitário em uma região onde a distância entre as políticas públicas e a vida cotidiana é grande. Ele reiterou que dar visibilidade aos problemas é o primeiro passo para transformá-los, ressaltando que o foco da COP30 no Marajó só terá efeito se resultar em ações concretas.
Assista a íntegra da entrevista em vídeo com Albertinho Leão, registrada durante a COP30, em Belém:









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