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A sesquicentenária samaumeira que perdeu seus galhos na madrugada desta segunda-feira (6) é memória afetiva de todos os paraenses e até de gente de fora do Pará e do Brasil que frequenta Belém durante o Círio de Nazaré. Localizada em ponto estratégico da Praça Santuário, em frente à Basílica de Nazaré, há 150 anos suas raízes enormes, mais altas do que as grades que cercam a praça, servem de colo para brincadeiras infantojuvenis e sua folhagem tradicionalmente abrigava passarinhos, principalmente periquitos, que morreram aos montes e o restante migrou por causa do barulho e das faíscas dos fogos de artifício no local. Em manifestação apressada, o secretário municipal de Meio Ambiente, Sérgio Brazão, chegou a anunciar que a árvore iria ser arrancada, sob a alegação de que representa perigo à população, o que causou verdadeira comoção social. Sensível à questão, o prefeito Edmilson Rodrigues tranquilizou a todos: tentará salvar a vida da samaumeira. A Semma fará poda drástica na esperança de que a árvore brote novamente.

“Atendendo à preocupação dos belenenses, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance, do ponto de vista técnico e científico, para que a histórica samaumeira, que sofreu com a queda de seus galhos, continue pulsando no coração da nossa cidade”, garantiu o prefeito de Belém.

Bela e gigantesca, árvore símbolo da Amazônia que pode alcançar 60 metros de altura, a samaumeira ou samaúma é conhecida popularmente como “barriguda”. Os cientistas a batizaram de Ceiba pentandra, mas para os indígenas da região e desde as civilizações pré-colombianas ela é sagrada, a “mãe-das-árvores”, árvore da vida, escada do céu, rainha da Amazônia.

Segundo a mitologia indígena, assim como as mães olham por suas crias, a samaúma, por sua grandiosidade, “enxerga” toda a floresta por cima. Para os povos originários, na base da árvore existe um portal invisível aos olhos humanos ligado ao universo dos seres divinos, que protegem a floresta e os animais, como um “espírito materno”.

As suas raízes de sustentação, chamadas de sapopemas, emitem um som grave quando sofrem o impacto de golpes e ainda hoje são utilizadas pelos indígenas como meio de comunicação. Sua fibra permite não somente o uso em enchimento de colchões e coletes salva-vidas, mas funciona também como isolante térmico e acústico para câmaras frigoríficas, e a madeira tem uso desde compensados até brinquedos.

Os dois exemplares centenários de sumaúmas existentes na Praça Santuário foram inspecionados em abril de 2012 por uma equipe do Laboratório de Preservação de Madeiras e Biodeterioração de Materiais do IPT – Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo, com o objetivo de avaliar o risco de queda e elaborar um relatório, a pedido da Prefeitura do Belém. Os trabalhos executados pela engenheira agrônoma Raquel Amaral e pela bióloga Cyntia Tagliatelli produziram o diagnóstico das duas árvores quanto à sua condição biológica, apontando cupins, fungos apodrecedores e brocas de madeira. O levantamento envolveu análises externa e interna, com uso de um penetrômetro, equipamento que permite avaliar a perda de resistência mecânica do lenho e a presença de organismos no interior da árvore de maneira não-destrutiva, através de uma broca com diâmetro de 0,9 mm que penetra na árvore e fornece respostas na sua linha de passagem.

A árvore cujos galhos desabaram tem 25 metros de altura e há onze anos já apresentava uma ferida na região do tronco, a cerca de 15 metros de altura. As dimensões do oco eram na faixa de dois metros de altura e um metro de largura, e lá havia um processo intenso de podridão e a presença de cupins subterrâneos e besouros, além de corpos de frutificação de fungos na base da árvore. Mas não foram encontrados danos graves, além do que as árvores dessa família são dotadas de raízes tabulares, que cercam a base do tronco até uma altura em torno de três metros e tornam mais difícil a queda dos espécimes.

A outra árvore examinada na época é um pouco menor (20m de altura) e sua densa folhagem já revelava problemas decorrentes de podas inadequadas. Ela também tinha dois ocos grandes, que pareciam servir como toca de animais, mas na parte superior não foram encontrados sérios problemas.

As sumaúmas pertencem à família das bombacáceas, assim como as paineiras, que são espécimes de madeira mole. As prospecções em árvores desta família são muitas vezes complicadas, porque o lenho tem resistência baixa em comparação a outras espécies de alta densidade. Isso pode causar problemas na interpretação dos dados, ou seja, não chegar à conclusão de a árvore apresentar um problema ou não, daí a necessidade de especialistas.

Em 2013 foi tirada toda a copa da samaúma, a fim de estimular a regeneração, deu certo e assim ela viveu mais onze anos. A nova tentativa é a opção mais viável, até porque não há como retirar 100% da imensa árvore dali. Só se a prefeitura quebrasse o quarteirão todo.

Conforme o diretor do Departamento Áreas Verdes Públicas da Semma, Kayan Rossy, na natureza a expectativa de vida das samaumeiras é de 500 anos. Já em centros urbanos, essa expectativa se reduz para 120 anos. “A árvore em questão estima-se que possui de 150 a 200 anos, ou seja, o vegetal localizado na praça Santuário já está em final de vida, prolongada pela Semma por causa do simbolismo que tem para a cidade”. Uma perícia deverá identificar o que motivou a queda de parte da árvore.

TRE tem prazo até 3 de março para empossar prefeito de Viseu

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