O modelo de desenvolvimento que prevalece na região amazônica foi duramente criticado na cerimônia de abertura dos Diálogos Amazônicos, em Belém. “O crescimento do país e da humanidade não pode estar acima da vida. Os povos indígenas têm sofrido a violência do agronegócio, das grandes mineradoras, a invasão dos territórios para criação do gado”, denunciou a presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará, Concita Sompre, destacando que vive em um território “esfacelado pelos grandes empreendimentos: rodovia, linha de transmissão de energia, ferrovia e linha de transmissão da linha equatorial. Nós, que éramos donos do espaço, hoje nos tornamos invasores. Não aceitamos mais que o minério da nossa terra enriqueça os países de fora do Brasil, deixando a fome e a miséria nos nossos territórios. Parem de nos matar”.
Discursando na língua Kaiapó, o mundialmente célebre cacique Raoni Metuktire reafirmou que seguirá na luta pela continuidade da demarcação das terras indígenas. “O branco chegou, foi inimigo e até hoje é inimigo nosso. Pouca gente ajuda a gente, a maioria é contra nós, indígenas”.
“Não podemos sair daqui sem propostas concretas. Precisamos sair de Belém com compromissos debatidos coletivamente e assumidos pelos presidentes dos países”, afirmou o representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Kleber Karipuna, sobre o que acredita ser a missão dos movimentos sociais nos Diálogos Amazônicos, complementando que “a era do desmatamento precisa acabar. Estamos a ponto de chegar ao momento em que a própria floresta amazônica não vai conseguir sua regeneração pela força da natureza. Esse ponto de não retorno nós precisamos evitar”.
Aprovado em maio na Câmara dos Deputados, o projeto de lei 490/07, que institui a tese do Marco Temporal no Brasil, está em tramitação no Senado. O texto define que povos indígenas só podem exigir a demarcação das terras que ocupavam no momento da promulgação da Constituição de 1988.
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