O premiado fotógrafo Araquém Alcântara registra a Amazônia há quarenta anos e documenta esta maior seca do século. Fotógrafo oficial da Semana da Amazônia, que aconteceu de 16 a 27 de setembro simultaneamente em Berlim, Bruxelas e Paris, em eventos multissetoriais nas três embaixadas, que discutiu o valor da Amazônia para o mundo e como os países ricos podem contribuir para o desenvolvimento sustentável na maior floresta tropical do planeta, ele editou 35 fotos de paisagens, povo, fauna e destruição em banners, convites e peças de divulgação. Recentemente esteve no rio Arapiuns, um dos mais belos do Pará e da Amazônia, e suas fotos lindíssimas contrastam com a grave crise humanitária.
Enquanto se esforçam para levar atendimento aos afetados, organizações do Baixo Amazonas encaminham carta propositiva aos órgãos governamentais cobrando medidas emergenciais e estruturais, de curto, médio e longo prazos para o enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas na região, principalmente voltadas à saúde, segurança alimentar, acesso à água potável, combate a incêndios e auxílio emergencial.
A Prefeitura de Santarém decretou situação de emergência. A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico decretou Situação de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos no trecho baixo do rio Tapajós, entre Itaituba (PA) e Santarém (PA). Mas é preciso ir além dos decretos e apoios esporádicos, é preciso que o estado brasileiro atue com mais empenho e assertividade. Margareth Maytapu, coordenadora do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns, explica que o governo está enviando algumas cestas básicas e galões de águas, insuficientes para o tempo e a demanda em toda a região.
Acontece que chegam as cestas mas os próprios indígenas, quilombolas e ribeirinhos têm que conseguir a logística para levar às aldeias e comunidades remotas, o que é muito difícil e caro. Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde e Alegria, sintetiza o problema: “Como sociedade civil, a gente tenta ajudar, mas a sensação é de enxugar gelo, sem água. É preciso mais ação concreta dos governos nessas áreas, uma atenção prioritária e emergencial para escalar soluções como essas propostas na Carta para um número muito maior de famílias”.
Para facilitar o acesso à água potável, a campanha tem também como meta inicial distribuir 5 mil filtros de nanotecnologia até o final do ano e início do próximo, multiplicando o acesso a essa tecnologia que tem sido implantada com sucesso através da aliança entre o PSA e a Water Is Life. A aquisição destes filtros em maior número está sendo possível através de ampla mobilização nas redes sociais apoiada pela plataforma de vaquinha eletrônica Doe Bem, somada ao suporte de parceiros como o Instituto Coca-Cola, Natura, Bem-te-vi, Toyota, Santander, Fundo Casa, ASBZ Advogados, Fundação Konrad Adenauer, Avina, Santander e Iturri. Esses filtros podem reduzir o sofrimento das famílias ao tratar a água através de uma micromembrana que retém 99,99% das impurezas. Com a estiagem, as águas concentradas ficam ainda mais barrentas. Mesmo nesses pequenos filetes, os filtros de nanotecnologia conseguem operar. São essenciais também na chegada das chuvas e subida das águas com os dejetos que estavam em terra. A virada de ano é a época dos surtos de diarreias, sobretudo nas crianças. São filtros de baixo custo, fácil transporte, baixa manutenção. Chegam a durar cerca de dois até 5 anos e deveriam ser escalados via políticas públicas, uma solução mais efetiva e barata do que entregar de helicóptero água mineral uma vez ou outra a poucas famílias. Para se ter uma ideia, as pessoas são obrigadas a andar mais de dois quilômetros sob sol inclemente para conseguir água. Os rios viraram desertos.
O documento das Ongs pede intervenção para o enfrentamento desses desafios, abrangendo escassez de água potável, perda de safra, incêndios florestais, isolamento de comunidades, insegurança alimentar e nutricional, que se traduz em fome.
De caráter emergencial, são elencados o fornecimento de água potável às comunidades, 50 mil filtros de nanotecnologia; cem mil cestas básicas durante pelo menos seis meses para as famílias afetadas; dez mil kits de medicamentos; duzentos brigadistas equipados com sopradores e transportes como helicóptero, 30 motocicletas, lanchas e combustível, e capacitação técnica para formar novos brigadistas; auxílio emergencial aos indígenas, quilombolas e agricultores. A curto prazo, a reativação de poços, mangueiras e motor bomba, apoio aos agricultores, assistência de emergência, criação de um banco de sementes e mudas comunitárias, gestão e governança participativa das águas. A longo prazo, abertura e estruturação de ramais, apoio à medicina caseira, elaboração do Plano Clima e articulação permanente.
Leiam a carta, assinada pelo Projeto Saúde e Alegria, Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém, Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns, Federação das Organizações Quilombolas de Santarém, Organização das Associações e Moradores da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande, Movimento Tapajós Vivo, Centro de Estudos, Pesquisas e Formação dos Trabalhadores do Baixo-Amazonas, Grupo de Defesa da Amazônia, Casa Familiar Rural de Santarém, WWF Brasil, Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Baixo Amazonas, Federação das Associações de Moradores e Organizações Comunitárias de Santarém, Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Santarém, Conselho Indigenista Missionário e Sociedade para a Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente.
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