Publicado em: 9 de dezembro de 2025
Encontrado no sítio arqueológico Assahytuba, o artefato passou por processo de restauração e conservação entre 28 de novembro e 7 de dezembro de 2025 e agora integra exposição da Secretaria Municipal de Cultura do município marajoara.
Um importante trabalho de conservação arqueológica foi concluído em Anajás, no arquipélago do Marajó, com a restauração de um artefato marajoara proveniente do sítio arqueológico de Assahytuba, na região do baixo rio Anajás. Após o processo, a peça passa a integrar o acervo da Secretaria Municipal de Cultura, onde passa a ser exposta ao público, disponível para visitação de estudantes, moradores e visitantes, fortalecendo a relação da comunidade com seu patrimônio ancestral.
A intervenção ocorreu entre 28 de novembro e 7 de dezembro de 2025 e envolveu etapas de estabilização, limpeza, consolidação estrutural e documentação. O artefato estava armazenado desde sua retirada em campo, realizada durante as escavações de janeiro de 2025.
O trabalho de restauração buscou conter danos provocados por erosão, variações climáticas e impactos ambientais agravados por eventos extremos, fatores que vêm ameaçando diversos sítios arqueológicos do Marajó. A ação também corrigiu problemas decorrentes do armazenamento inicial, aplicando medidas de conservação preventiva necessárias para a exposição pública.
A equipe técnica realizou limpeza manual detalhada, estabilização das bordas, reintegração de pequenos fragmentos e registro fotográfico e descritivo da peça.
Todas as etapas seguiram protocolos especializados de conservação arqueológica, conduzidas na sede da Secretaria Municipal de Cultura de Anajás.
Segundo Raimundo Teodorio, conservador-restaurador do Museu Paraense Emílio Goeldi, a conservação é sempre a etapa essencial no tratamento de peças arqueológicas. “Nos objetos arqueológicos, a conservação é sempre o primeiro passo. Muitas vezes não é necessário restaurar, mas conservar é fundamental. Esse cuidado evita que o material se perca, e por isso estou aqui em Anajás, acompanhando a conservação e a restauração da urna retirada do sítio Assahytuba. Esse trabalho faz parte da continuidade das escavações iniciadas em 2024 e da etapa de tratamento dos materiais em 2025.”
A restauração integra o projeto Amazônia Revelada, dedicado ao mapeamento e estudo de sítios arqueológicos em diferentes regiões da Amazônia. A iniciativa articula estratégias de pesquisa que dialogam com territórios tradicionais, fortalecendo a gestão comunitária do patrimônio cultural e promovendo uma relação mais equilibrada entre ciência e comunidade.
Para a arqueóloga paraense Brenda Bandeira, integrante do projeto, a participação das comunidades locais é um eixo fundamental dessa atuação. “A pesquisa só faz sentido quando caminhamos junto das pessoas que vivem nesses territórios. São elas que conhecem a floresta, os rios e os sítios arqueológicos há gerações. Quando aproximamos o conhecimento científico da comunidade, o cuidado com o patrimônio se torna mais forte e a história ancestral da região ganha mais significado para todos.”
As ações contínuas do projeto no município têm possibilitado:
-Recuperar e preservar peças ameaçadas por processos naturais e antrópicos;
-Documentar práticas culturais antigas e relacioná-las às memórias das comunidades atuais;
-Ampliar o acesso da população marajoara ao patrimônio arqueológico local;
-Fortalecer iniciativas educativas, culturais e turísticas;
-Estreitar o diálogo e as parcerias com comunidades próximas aos sítios
arqueológicos;
-Construir uma gestão compartilhada do patrimônio cultural;
-Incentivar ações de devolutiva e formação local, utilizando a peça como recurso educativo em escolas e projetos comunitários.
O Museu Paraense Emílio Goeldi oferece apoio técnico e científico ao projeto, orientando protocolos de análise, conservação e documentação dos materiais. A instituição acompanha as escavações, contribui com estratégias de preservação e colabora no planejamento da futura exposição da peça em Anajás.
Enquanto centro de pesquisa de referência, o MPEG fornece suporte metodológico que potencializa o trabalho do Amazônia Revelada na documentação e proteção do patrimônio arqueológico amazônico.
A conclusão desta etapa ocorre em um momento de retomada das atividades arqueológicas no Marajó, com novas metodologias e tecnologias. Após a seca extrema de 2023, que expôs sítios antes desconhecidos e fragilizou muitos materiais, aumentou a demanda por ações de proteção e valorização desses locais.
O professor Rossimar da Nóbrega, marajoara de Anajás e interlocutor importante entre comunidade e instituições, reforça como o fenômeno ambiental recente revelou a urgência do trabalho. “Quando a maré baixou muito, vários artefatos começaram a aparecer. Eu voltei a um lugar onde brincava quando era criança e encontrei urnas expostas nas barrancas. Fiz um vídeo e acionei o Museu Goeldi. Desde então, acompanhamos o resgate e hoje vemos o retorno da equipe para avaliar as condições das peças. A erosão das margens e as secas cada vez mais intensas mostram que esse patrimônio precisa ser protegido agora.”
A cooperação entre pesquisadores, instituições, poder público e comunidades tem sido fundamental para enfrentar esses desafios e fortalecer a gestão do patrimônio arqueológico na região. A restauração do artefato marajoara representa a recuperação de um objeto, e também a reafirmação de uma memória ancestral que conecta passado e presente, contribuindo para o fortalecimento da identidade cultural da população de Anajás.
















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