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O futebol paraense vai iniciar o ano 2026 com um clima raro: enquanto um gigante tenta reencontrar o próprio eixo, o outro se prepara para um salto que há décadas não acontecia. A nova temporada chega carregada de expectativas, desconfianças e projeções ousadas – e, acima de tudo, com a sensação de que o Pará voltará a ocupar um espaço de protagonismo no cenário nacional, ainda que por caminhos completamente distintos para Remo e Paysandu.

No Paysandu, a palavra que mais aparece no vestiário e nos corredores da Curuzu é reconstrução. O ano de 2025 deixou cicatrizes profundas – esportivas, políticas e estruturais. O planejamento ruim, o rebaixamento para a Série C após uma campanha desastrosa e a frustração generalizada da torcida resultaram em uma reflexão dura sobre os processos do clube. Para 2026, a diretoria bicolor aposta em um planejamento mais racional e em contratações cirúrgicas, com foco em atletas capazes de suportar a pressão de uma Série C sempre traiçoeira. O processo será liderado por dirigente Alberto Maia e pelo executivo de futebol, Marcelo Sant`Ana.

Mesmo com orçamento limitado, o Papão tenta transformar restrição em estratégia. A ideia é não repetir a armadilha de 2025, quando alguns nomes chegaram sem convicção, apenas para inflar expectativas e folha salarial. Agora, a prioridade é formar um grupo competitivo, resiliente e alinhado à nova realidade financeira do clube. Fora de campo, o Paysandu também tenta construir novos caminhos. A Série C não permite devaneios: exige método. E é justamente na organização extracampo que o clube espera plantar as sementes para, no futuro, retomar o protagonismo que sua torcida exige.

Do outro lado da cidade, o Remo vive um cenário completamente diferente, o mais feliz e ousado de sua história recente. Com um orçamento robusto e a garantia de disputar a Série A em 2026, o clube azulino entra no novo ano com a responsabilidade de consolidar uma estrutura capaz de sustentar o desafio. Investimentos em centro de treinamento, ampliação do departamento de análise de desempenho e reestruturação de áreas administrativas indicam que o clube deixou para trás o improviso que tantas vezes o limitou.

No elenco, o Remo adota postura agressiva no mercado. A ideia é mesclar atletas com bagagem de Série A e jovens de alto potencial, criando um time que consiga competir sem abdicar de identidade. A manutenção de nomes da campanha vitoriosa de 2025 também está na mesa – talvez a mais prioritária delas seja a do treinador Guto Ferreira. A diretoria fala em “permanência com competitividade” – uma meta ambiciosa, considerando o peso que a elite do futebol nacional cobra de estreantes. Mas há, pela primeira vez em muito tempo, a sensação interna de que o clube tem condições reais de sustentar esse projeto.

A torcida azulina, acostumada a sofrer antes de sonhar, agora observa um clube que parece finalmente entender a grandeza de seus próprios objetivos. Mas a pressão será proporcional ao investimento. Permanecer na Série A não é apenas um sonho esportivo: é uma mudança de patamar institucional que pode definir o Remo da próxima década.

Assim, Paysandu e Remo entram em 2026 como dois polos opostos de um mesmo estado apaixonado. Um se reconstrói entre os escombros; o outro inicia a escalada para um novo horizonte. E talvez esteja justamente aí a beleza do futebol paraense: mesmo quando seguem rotas divergentes, Paysandu e Remo continuam a contar, cada um à sua maneira, novas histórias para as suas torcidas devotadas.

Foto: redes sociais do treinador do Remo, Guto Ferreira

Rodolfo Marques
Rodolfo Marques é professor universitário, jornalista e cientista político. Desde 2015, atua também como comentarista esportivo. É grande apreciador de futebol, tênis, vôlei, basquete e F-1.

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