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Padre Júlio Lancellotti, referência internacional em direitos humanos, que atua há 40 anos na paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, soube por carta que o cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e Grão-Chanceler da PUC-SP, ordenou sua transferência imediata e proibição do uso de redes sociais, além da suspensão da transmissão online das suas missas dominicais.

O sacerdote desenvolve relevante trabalho junto à população em situação de rua na capital paulista, por meio da Pastoral do Povo da Rua. Entre seus lindos projetos está a Biblioteca Wilma Lancellotti, na rua Sapucaia, no bairro do Belém, que oferece a leitura de cerca de 3 mil livros e promove rodas de conversa.

A Arquidiocese de São Paulo não divulgou os motivos da decisão nem informações sobre o futuro do padre e de quem o substituirá.

Este enredo já conheço. O saudoso bispo emérito do Marajó, Dom José Azcona, que dedicou sua vida inteira à evangelização, ao amor e cuidado, principalmente aos mais vulneráveis, que verdadeiramente fez voto de pobreza, nunca se omitiu perante as injustiças, foi a voz dos desvalidos e cuja coragem e fé teve reconhecimento planetário, sofreu idêntica perseguição. Ele também recebeu ordem para se afastar, foi proibido até de rezar missa em Belém, o que muito o entristeceu, pois era devotíssimo a Nossa Senhora de Nazaré e amava celebrar durante o Círio as missas na Basílica Santuário. Foi condenado, ainda, ao silêncio obsequioso. E mesmo já sendo emérito e octagenário queriam expulsá-lo do Marajó, o mesmo que arrancar sua própria vida. Felizmente o povo marajoara se ergueu em defesa de seu amado bispo e fez valer sua vontade de que ficasse. Os seus algozes haverão de receber o merecido castigo perante Deus.

Em São Paulo a decisão gerou comoção públicas e muitas manifestações de apoio ao padre Júlio. A jornalista Denise Ribeiro fez um texto que viralizou nas redes sociais:

“Que motivos levariam dom Odilo a tomar decisão tão drástica em pleno final de ano? Que forças ocultas levariam o arcebispo a abrir mão de um homem dedicado a cuidar sem descanso da população mais vulnerável da cidade?”
“Com seu discurso poderoso, padre Júlio deixava sempre explícita sua defesa das pessoas invisibilizadas pela sociedade – aquelas em situação de rua e também a população LGBTQIA+. E isso, claro, incomoda muita gente.”
“Por que dom Odilo, que em abril se aposenta, se dá ao trabalho de impedir o trabalho do padre Júlio numa paróquia que nunca foi cobiçada por ninguém? Será que a visibilidade, a autoridade e a popularidade do padre Júlio causam tantos ciúmes, ira, inveja, a ponto de o arcebispo determinar que em janeiro ele já não esteja mais ocupando o lugar que sempre foi dele por direito e por trabalho diário?” “Será que católicos incorporadores imobiliários e políticos de direita pressionaram para que ele desocupe a área? As hipóteses são inúmeras. O fato é que o povo em situação de rua não pode abrir mão do carinho do padre e de sua equipe, que prestam um trabalho dos mais humanistas no trato de nossos irmãos sem voz nem vez. Pedimos publicamente que dom Odilo reveja sua decisão autocrática e mantenha padre Júlio em sua paróquia. Esperamos que católicos de todo o Brasil se unam em favor do padre, que também se encontra em idade avançada, mas tem coragem de sobra para persistir em sua luta.”
“Queremos padre Júlio falante, pleno, guerreiro como sempre foi, à frente da sua paróquia, distribuindo café da manhã e atendendo às necessidades de quem não tem onde morar. Tirá-lo de lá é de uma crueldade sem limites e um desrespeito com todos aqueles que o apoiam”, questionou a jornalista.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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