Joaquim Ferreira dos Santos, ótimo cronista das páginas de O Globo anda sentindo falta de telefonemas e cartões postais, bem como meros desejos protocolares de “Feliz Natal”. Será que isso ficou fora de moda? Nesse mundo de absurdos e espasmos nas redes sociais, quem ainda pensa nisso? As crianças, viciadas nas plataformas digitais, devem dar olhares desdenhosos a quem falar no tal “Bom Velhinho”. E em um instante em que qualquer um expõe sua opinião, quem ainda é feliz no Natal, pode ter medo de alardear sua felicidade e ser alvo de cancelamentos pelo esquecimento do drama de minorias, pobres, abandonados, sem teto, enfim. Um amigo me conta que não gosta muito, porque em sua infância, os pais não tinham condição de comprar presentes e ao viver a excitação que atingia a todas as crianças, vinha uma decepção. Poxa, sinto muito. Muitíssimo. Outros correm a dizer que é mais um crime da sociedade capitalista em direção ao consumo e à incitação ao consumo, criando sofrimento para várias famílias. Tudo é verdade. Mas eu gosto do Natal. Era muito feliz. Hoje um tanto melancólico. Mas, feliz. Somos cinco irmãos e fomos criados por uma mãe maravilhosa, cheia de imaginação, que fazia do dia 25 algo aguardado durante o mês inteiro em que ia inventando personagens, ajudantes de Noel, ameaças para que nos portássemos bem, até ventriloquismo fazia. O dia de armar a árvore já era por si só uma grande celebração, tendo sempre a contação da história e a explicação do nascimento de Jesus. Havia discos com histórias natalinas, corais cantando “O Tannenbaum”, enfim, um ambiente perfeito. E quando acordávamos, os presentes estavam ao redor da árvore e a cada abertura de embrulho, uma vibração. A inocência, o ambiente de amor e carinho me envolvia completamente. É disso que tenho saudade. O tempo passou, crescemos, formamos famílias, vieram “conjes” e suas famílias, ficou diferente. Mas até meus pais partirem, ainda nos reuníamos. Perto da meia noite, minha mãe, sempre teatral, reunia a todos, tinha em mãos uma imagem de Jesus criança, fazia uma pequena fala que eu respeitava, exatamente por ser ela e por lembrar de tudo o que já havia passado em nossas vidas. Finalmente, entregava a cada um para beijar o menino Deus. Fazíamos uma oração e explodíamos a trocar presentes.
Preciso lembrar de fatos que já foram mencionados em outras crônicas. Levei meu irmão menor para a sala do apê e ficamos escondidos até meus pais, achando que estávamos dormindo, trouxessem os presentes. Foi mal. E a famosa chegada do Papai Noel no prédio, o mais velho vindo dizer que o “bom velhinho” bebia, porque pedira um whisky a meu pai. E, bom, vocês já leram. Fico saudoso disso tudo, mas feliz, ligando para os meus, onde estiverem, estando com a família da companheira, que gosta de festa. Compreendo todas as razões daqueles que por qualquer motivo não se sentem participando da mesma emoção, porque a vida é assim mesmo, cada um de nós com suas tristezas e alegrias e havemos de viver cada uma com a intensidade que merece. Eu adoro o Natal, principalmente por causa da minha mãe. Quando lembro seu olhar feliz, uma certa alegria infantil em seus olhos, ela também, naquele instante, tão criança quanto nós, sinto que tudo valeu a pena. Que sou rico em imaginação e em amor que me foi incutido por essa pessoa que é, junto a meu pai e meus filhos, a mais importante da minha vida. Feliz Natal a todos.
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