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A XIV Olimpíada de Ciências de Caxiuanã, promovida pelo Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) terminou na última sexta-feira, 28 de outubro, após cinco dias de atividades intensas na Estação Científica Ferreira Penna, no Marajó. O encontro, que faz parte do calendário escolar de Melgaço e Portel, reuniu estudantes, professores, pesquisadores e comunitários apaixonados por ciência e por floresta. Oficinas, mostra de tecnologias sociais, jogos, caminhadas noturnas, observação astronômica e apresentações culturais formaram o mosaico de vivências que marcou esta edição, culminando num fechamento emocionado e repleto de desejo coletivo de multiplicar conhecimento nos territórios de origem.

Foram 137 participantes no total, incluindo 58 estudantes, 32 professores, 17 instrutores, 15 profissionais do MPEG e 15 comunitários, além da equipe da área de saúde e de cinco militares do Corpo de Bombeiros. Entre despedidas calorosas e abraços demorados, sobressaía a ideia de que o aprendizado ultrapassa o evento e se desdobra nas escolas e nas comunidades ribeirinhas.

A olimpíada proporcionou experiências variadas, que transitaram da astronomia à inteligência artificial, passando por arqueologia, fotografia de artrópodes, conservação do peixe-boi, libras, jogos pedagógicos e fases da lua. Entre laboratórios e trilhas, o que mais se via eram olhares atentos. A marajoara Raéryka dos Santos, 11 anos, experimentou tudo o que pôde: jogou bola, participou das noites culturais e foi a única menina inscrita na corrida de peconha. “Achei tudo bacana, principalmente a oficina. Sempre gostei de tecnologia avançada porque parece difícil. Mas é como andar de bicicleta. Se treinar, a gente aprende”, contou.

Outros talentos despontaram com a mesma intensidade. Gabriel Fialho, 18 anos, moldou uma chaleira durante a oficina de arqueologia e comentou que inicialmente duvidava de sua capacidade, mas surpreendeu-se ao conseguir concluir o trabalho. Já Izaildo Jardim, 16 anos, demonstrou entusiasmo ao fotografar gafanhotos em um estúdio improvisado, observando que, além de aprender sobre artrópodes, ele e o colega Aleson Souza, 15 anos, também experimentavam o uso da câmera de forma técnica e exploratória.

Veteranos também marcaram presença. A sargento Marreiros, do Corpo de Bombeiros, participa desde 2011 e falou sobre a importância de apoiar as comunidades que viajam horas de barco para chegar à base científica. “A gente busca contribuir, não só como profissional, mas como cidadã também. É um projeto educacional muito lindo”, afirmou.

Um dos exemplos de continuidade foi Pedro Brazão, nascido em Caxiuanã. Ele participou como aluno em 2018 e este ano retornou como bolsista e ministrante da oficina sobre conservação do peixe-boi. “Eu vim falar sobre a importância de proteger o peixe-boi, que é um símbolo da nossa região e está ameaçado de extinção”, disse, satisfeito com o engajamento da turma. Seus alunos criaram um jogo didático que agora poderá ser aplicado nas escolas.

Sob o tema “Baía de saberes: soluções marajoaras para a crise climática”, a olimpíada encerrou mais um ciclo do Programa de Extensão Educativo-Cultural do MPEG. As formações começam ainda no início do ano com capacitação de professores, passam pela feira científica nas escolas e culminam na vivência em Caxiuanã, onde os projetos selecionados são apresentados.

Nesta edição, treze tecnologias sociais foram expostas, incluindo horta hidropônica, papel-semente, sabão natural, reciclagem, alimentação alternativa e uma trilha memorial dedicada aos seringueiros. As oficinas também geraram fotografias, livretos, animações em IA e um musical em libras. O que nasce ali volta para as comunidades em forma de prática.

O coordenador pedagógico Vilmar Cruz explicou como o conhecimento se expande ao retornar para Portel. “A gente reúne a família, os estudantes, os professores que não puderam vir, faz pipoca, leva o data show e começa a repassar para a comunidade todo conhecimento adquirido”, relatou. O gestor Emerson Flores atestou que a força dessas trocas “vai impactar na vida dos nossos alunos, nas nossas comunidades, porque são trocas de conhecimentos”.

Ao avaliar os resultados, a coordenadora geral da olimpíada, Mayara Larrys, afirmou que o objetivo foi plenamente alcançado. Para ela, a troca entre ciência acadêmica e saberes tradicionais qualifica pesquisas e renova práticas cotidianas na floresta.

Realizada pelo MPEG, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a olimpíada teve patrocínio da Fadesp e Fapespa, com apoio das prefeituras de Melgaço e Portel.

Fotos: Janine Valente / MPEG

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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