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#Bekind

Eu estava pensando sobre a beleza e grandiosidade do gesto das atletas americanas da ginástica artística para com a brasileira Rebeca Andrade, que conquistou o ouro olímpico,  quando me ocorreu falar sobre o poderoso super-humano. Só os gigantes ficam maiores, mesmo quando se portam de joelhos, em gesto de humildade e reverência, como fizeram Simone Biles e Jordan Chiles. Foi linda a cena e agigantou o espírito olímpico da enorme nação estadunidense.

O super-humano

O super-humano é a Galateia de seu Pigmalião-Criador. Não é o übermenschen, de Nietzsche, mas uma criatura incrível, criativa, resiliente, sagaz, realizadora, ousada, emocionalmente inteligente, solidária, eficiente, dedicada, complexa, sonhadora, sensível, altruísta,  brilhante, empática, visceral e ambientalmente consciente.

O super-humano, de início, tem uma alma brilhante.  Não no sentido de brilhar como glitter ou lantejoulas, exibindo-se e ofuscando, mas de irradiar e partilhar sua luz própria; uma luz semelhante a essas bolas de plasma que ficam penduradas no céu iluminando as noites.

A alma brilhante

A alma brilhante resiste a se deixar tingir pelas tintas da desesperança, da angústia e do ódio,  mas respeita e adere às narrativas ancestrais imemoriais,  consagradas pela prova de fogo do decurso do tempo, resistentes à violência e às provações como rochas vulcânicas sob as pancadas violentas das ondas do mar. A sabedoria dos livros antigos, dos apócrifos,  dos manuscritos ancestrais, encantam a criatura de alma brilhante, pelo convite ao mergulho nas águas densas de um rio chamado Chronos.

Um dia desses estava a criatura de alma brilhante caminhando pelos corredores de supermercado,  ouvindo Grieg e The Hall of the mountain king, na música ambiente, quando colidiu de frente com outra criatura.

Track! A outra criatura, que dirigia o carrinho de supermercado com uma das mãos,  e segurava o telefone com a outra, estufou o peito, gritou alguns palavrões cabulosos  e continuou a marcha, rindo-se um pouco mais adiante de algo na tela do celular.

Podemos considerar fora da categoria super-humanos essas criaturas que se dedicam a trucidar verbalmente outras pessoas nos corredores de supermercado, distraídas, enquanto digitam comentários horríveis sobre os trajes e a aparência das atletas nas postagens da Internet sobre os jogos olímpicos? Podemos.

O super-humano não discrimina em razão de gênero e raça/etnia; não segrega por características físicas, não reifica, não humilha, não ofende, não violenta, nem destrói seu semelhante. O super-humano está nos jogos olímpicos, desafiando as leis da natureza, testando novos limites, quebrando recordes, extraindo suspiros e emoções. Mas tudo com respeito ao adversário, far play e deferência para com as regras de suas modalidades esportivas, enchendo-nos a todos de orgulho e elevando o espírito olímpico.

O super-humano também está na retaguarda dos serviços dedicados ao brilhantismo dos eventos dos jogos olímpicos,  organizando,  promovendo, mantendo a ordem, a segurança,  a limpeza e a tranquilidade nos ambientes dos jogos, na linda Paris, que já é uma festa mesmo quando não há festa.

O super-humano está na arquibancada dos jogos, assistindo, torcendo, incentivando, estimulando, partilhando momentos de emoção, exaltando sua pátria ao mesmo tempo em que mantém a ordem; respeita o anfitrião,  deposita os resíduos biológicos e químicos em ambiente adequado, respeita o torcedor adversário,  aceita os resultados dos jogos sem estimular qualquer espécie de tumulto e de violência contrários ao espírito olímpico.

O super-humano está no mundo, assistindo aos jogos, torcendo com entusiasmo e partilhando emoções nos intervalos do fluxo do curso da vida, enquanto realiza com dedicação o seu trabalho. Constrói, edifica, redige, cozinha, arquiteta, engenha, toca, limpa, recolhe, organiza, vende, compra, faz, desfaz… Tudo isto respeitando a cultura dos povos presentes aos jogos, enviando boas energias, respeitando a pluralidade de cores, dimensões e expressões humanas. O super-humano está presente; é uma festa colorida e é o tom da beleza contagiante do espírito dos povos. Be kind! O super-humano é ouro puro. Brindemos a ele!

Shirlei Florenzano Figueira
Shirlei Florenzano, advogada e professora da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA, mestra em Direito pela UFPA, Membro da Academia Artística e Literária Obidense, apaixonada por Literatura e mãe do Lucas.

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