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O Arcanjo Gabriel anunciou ao carpinteiro José que naquele dia se reuniriam quatro Reis Magos naquele modesto e improvisado esconderijo, como seres relacionados ao nascimento do Menino que Herodes perseguia. Contudo, quando anoiteceu, apenas três homens chegaram à Belém, transportados por camelos, carregando exóticos produtos da Pérsia.

Percorreram três mil quilómetros do Leste Oriental até o Sul da Jerusalém ocidental, atual Cisjordânia, e ao chegarem à Judeia, acreditando que o Messias nasceria em um palácio real, procuraram primeiramente pelo ambicioso Rei Herodes que desconhecia o lugar da Natalidade, igualmente o anunciado Rei que ameaçaria seu poder. Dessa maneira, ordenou, logo após a despedida dos viajantes, a matança de todas as crianças com até dois anos de idade.

A astrologia orientou Baltasar, Gaspar e Belchior a seguirem em direção ao lugar em que o novo Rei nasceria e que somente os Zoroastres sabiam o que a Estrela Guia anunciava, percebendo, os três itinerantes do deserto, que essa rota estava protegida contra mal-aventurados de espírito.

Seguiram, portanto, o ponto iluminado, na certeza de que chegariam ao Redentor que os oráculos apontavam como aquele que transformaria a humanidade, digno da adoração de reis e dos presentes significativos transportados.

Quando chegaram, a Criança acabara de nascer. A paz reinava naquela noite e o brilho da Estrela Régia da constelação de Áries era indescritível, iluminando os campos, as montanhas, as palmeiras e os córregos límpidos da Palestina. Não havia convidados pois todos os presentes – afora os pais do recém-nascido e os peregrinos – eram criadores de carneiros e bovinos da região.

O mais velho dos Reis Magos, Belchior, com 70 anos de idade, foi quem se dirigiu a José e Maria para anunciar a intenção daquela visita:

“- A vós que dais a luz ao Redentor, sob a luz da Estrela de Belém, contamos que viemos do Oriente para o testemunho de uma Nova Era, sobretudo para a adoração Daquele que vai inspirar sabedoria em todas as gerações pelos mistérios da fé que ensinará ao Ocidente alcançar os segredos da harmonia e da convivência social.”

O primeiro viajante aproximou-se da lareira que iluminava e aquecia a pequena gruta e assim disse:

“- Sou Belchior, vindo de Ur, terra dos Caldeus, trazendo como oferta o ouro puro dessa região, simbolizando a realeza daquele que nasceu em berço de madeira, fardos e palhas, mas que governará Nações inteiras sem imposições ou indisposições para com a vida e a liberdade dos seres humanos.”

O terceiro viajante repetindo o gesto do segundo, assim falou:

“- Sou Gaspar, vindo da região montanhosa do Mar Cáspio, trazendo como oferta o raríssimo incenso da resina aromática da árvore Boswelhia Sacra conhecida como Olíbano, simbolizando os poderes espirituais daquele que promoverá milagres em favor da humanidade.”

O terceiro viajante aproximou-se repetindo o gesto do primeiro e do segundo, assim pronunciando-se:

“Sou Baltasar, vindo da região das Arábias e do Golfo Pérsico, trazendo como oferta mirra, simbolizando a imortalidade daquele que oferecerá sua morte em purgação dos pecados cometidos originalmente por todos os habitantes desta terra.”

Os presentes foram recebidos com tamanha devoção pelos pais do Recém-Nascido sob admiração de todos os presentes, havendo, porém, um pastor naquele sagrado recinto que teria indagado se estaria ainda por chegar naquela noite o quarto Rei Mago, anunciado para aquele ato de veneração.

Os três Reis Magos que acabavam de ofertar suas oferendas nesse instante ajoelharam-se em volta da manjedoura, mas foi Belchior quem respondeu da seguinte maneira:

“- O Quarto Rei Mago é aquele que acaba de nascer porquanto governará acima de qualquer rei que haverá na terra. Dominará os princípios da Physis que os iniciados tentam desvendar. Ultrapassará os efeitos da física, da química, da biologia e da alquimia operando milagres para o bem estar dos necessitados. Conhecerá e ensinará aos homens de boa vontade os mistérios da fé como parte do plano espiritual que o Criador nos concebeu e que a matéria não atinge.

… Será o representante da maior de todas as filosofias do conhecimento humano, superando correntes, seitas e doutrinas temporárias, promovendo a manutenção da dignidade da raça humana neste mundo…

… eis o quarto Rei Mago que entre nós, súditos, encontra-se presente, verdadeiramente como Primeiro Rei de todas as Sabedorias da terra, para ser amado e renegado entre os seres humanos. Bendito seja o fruto do ventre de Sua Genitora e santificado seja o Vosso Nome.”

Naquele instante uma lágrima escorreu o rosto de Maria como quem adivinhava os destinos do Menino concebido sem pecado original que docemente sorria entre a exultação dos presentes, o cheiro da relva do campo, dos estercos de carneiro e gado daquela dominada região.

Quando amanheceu os três Reis Magos, proféticos sacerdotes de misteriosas doutrinas milenares, retornaram às suas regiões, inaugurando um novo caminho que levaria em direção oposta a de imperadores como Herodes.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, jurista, humanista, mestre e doutorando em Direitos Humanos pela PUC/SP e FADISP/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no exterior, membro das Academias Paraenses de Letras, Letras Jurídicas, Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará, atualmente exercendo as funções de Cônsul Honorário da República Tcheca na Amazônia.

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