A morte lenta do lago do Juá é o retrato da especulação imobiliária, da falta de escrúpulos e da omissão do poder público nos cuidados que são deveres constitucionais.
Desde 2012 houve intenso e progressivo assoreamento no Lago do Juá, com gravíssimos impactos socioambientais, notadamente às comunidades tradicionais pescadoras da região, bem como à fauna e à flora daquele ecossistema.
É fato constatado pelo Ministério Público Federal, Ibama e Tribunal Regional Federal da 1ª Região que o desmatamento produzido pela Sisa e depois Buriti foi o principal fator desencadeador do assoreamento no Lago do Juá e, consequentemente, da mudança do modo de vida e da precarização da subsistência dos ribeirinhos, em especial os pescadores.
A água do Juá era limpa e transparente. Ali eram vistos jacarés, peixes-bois, capivaras e pirarucus. Havia grande quantidade de pássaros e os peixes saltavam ao redor das canoas.
Com o desmatamento para a implantação dos residenciais Cidade Jardim e Salvação, os processos ecológicos mudaram radicalmente e as vidas de centenas de famílias de pescadores tradicionais se viram duramente afetadas.
Pirarucu, Tucunaré, Curimatá, Tambaqui, Jutuarana (matrixã), Surubim e Jaraqui foram substituídos por “peixes de lama”, como a Cangóia e o Pacuzinho.
Os pescadores contam que “toda vez que chove, desce muita lama, o rio fica branco e a gente não consegue pescar, aparece muito peixe morto. A cada enxurrada, o rio fica parecendo um leite”.
Pelo menos duas nascentes foram soterradas. “A gente não tem mais um lago, hoje a gente tem só um lamaçal, tá ruim até pra tomar banho… os peixes que a gente tinha aqui não tem mais, agora a gente só consegue pegar peixinho miudinho. Agora a gente tem que ficar brigando com o boto e com o vento, aí pra fora desse rio”.
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