Era uma vez um jacaré que, depois de estraçalhar e engolir uma presa, viu-se no inconveniente de ter seus pedaços engatados entre os dentes, sem poder removê-los.
Pedindo ajuda a uma garça que passava, recebeu como resposta o seguinte:
- O escorpião jurou que não picaria o sapo se este o conduzisse nas costas até a outra margem do rio. Contudo, no meio do caminho, o sapo foi ferido pelo escorpião que antes de afundar com o próprio sapo explicou que não poderia contrariar sua natureza.
- Como posso ajudar-te, nobre jacaré, a retirar tais resíduos, suculentos, por sinal, se corro o risco de ter o mesmo fim?
- Acontece, senhora Garça, disse o jacaré – que eu já estou de barriga cheia, não me apetece, portanto, neste instante, degustá-la, por enfrentar uma situação incômoda que depende da senhora. Os répteis, a classe a que pertenço, são diferentes dos artrópodes invertebrados como o escorpião.
- Se eu lhe abocanhar perco a oportunidade de limpar meus dentes – concluiu.
A garça, por sua vez, explicou:
- Com todo respeito, senhor Jacaré, a vida tem me ensinado que muitos erros se repetem em razão da natureza das pessoas. Como garça que sou, tenho sobrevivido por conseguir voar acima das coisas, pelos ares, observando do alto a pequeneza dos seres aqui na terra.
O jacaré fechou a boca e pôs-se a olhar sem piscar. Não mais lhe incomodava aquela situação.
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