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Era para ter sido um espaço de celebração, de conscientização e de construção de políticas que impactem diretamente a vida da população LGBTQIA+ no Brasil. Teve apoio do Ministério do Turismo e participação ativa de várias Pastas federais, inclusive presença do ministro Celso Sabino. Mas o Festival “Aceita” foi um desastre total. Logo no segundo dia, as equipes técnica, de comunicação e de produção anunciaram debandada em massa, por causa da sobrecarga de trabalho e problemas graves de organização. Desde o início dos preparativos, as equipes foram constantemente requisitadas para realizar funções que iam além de suas atribuições, o que “comprometeu a qualidade do trabalho e causou um desgaste significativo”. A equipe de fotografia decidiu se desligar da cobertura do evento devido a uma série de situações de violência, desrespeito e falta de estrutura. A um dos fotógrafos, pessoa com deficiência, não foi garantida sequer acessibilidade. A imprensa local foi destratada, até artista pulou fora. E todos comentaram nas redes sociais.

A artista visual, designer e produtora cultural Norah Costa fez uma performance corajosa e devastadora, que está postada em sua página no Instagram. “Para quem é este Festival? Quem faz este festival? Porque eu só vejo branco, sudestino, sulista, mas quem está trabalhando, se matando, levando porrada nas costas, é aqui, a minha amiga. Como podemos esperar por soluções ambientais justas quando a COP ignora a representatividade amazônica? O Festival Aceita deveria celebrar a nossa ancestralidade, com os verdadeiros artistas da nossa região, mas só mostrou a desorganização e falta de respeito com as raízes que nos sustentam. Um festival transfóbico, racista, machista, capacitista e xenofóbico! Das nossas águas vocês não vão mais tomar. A nossa terra vocês não vão mais desvalorizar. Respeitem os artistas do Norte! Por todes que não podem ao menos falar pois estão presos em contratos. Estamos com vocês. Sabemos que a culpa não é de vocês. No próximo ano vai ter de novo Festival, vai ser bacana, vai ser legal, mas para quem? Quem discutiu realmente sobre a arte? Sobre nossos corpos, quem morre diariamente de mercúrio, quem morre diariamente de soja? Tudo isso só para alimentar certas corjas. Então, que este seja o primeiro do último dia em que a gente não vai mais aceitar que pisem no nosso território sem nos consultar. Sem perguntar: e aí, já comeu? E o voo, foi bom? E aí, o hotel tá ok? Então, da próxima vez que nos chamarem nos deem o verdadeiro palco que nós merecemos!”. A plateia, quase toda de fora, levou um choque de protagonismo amazônida.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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