0
 

A crise climática e a crise habitacional estão profundamente conectadas em um ciclo: os desastres socioambientais destroem moradias e infraestrutura urbana, agravando a crise habitacional; e, ao mesmo tempo, a falta de acesso à moradia digna empurra grupos vulnerabilizados para áreas de risco, reforçando o racismo ambiental e ampliando os efeitos da própria crise climática. Essa é a principal mensagem do relatório Sem Moradia Digna, Não Há Justiça Climática e do documentário “O morro desceu e era Carnaval”, lançados pela Ong Habitat para a Humanidade Brasil em Belém (PA), durante a COP30.

A publicação propõe uma nova leitura sobre esse círculo vicioso que ligao direito à moradia digna à temática da justiça climática, abordando três dimensões fundamentais: adaptação, perdas e danos, e reconstrução. O relatório traz dados de 129 cidades brasileiras e demonstra que áreas de risco concentram 66,58% da população negra, 5,53% com baixa escolaridade e 37,37% dos domicílios chefiados por mulheres, onde a renda média é de R$2.127 (55%) chegando a ser quase a metade em relação à média geral das cidades estudadas. Além disso, 20,29% desses domicílios não dispõem de rede de esgoto e 2,41% nem coleta adequada de lixo têm. Os números mostram que vulnerabilidade urbana e desigualdade racial estão num abraço letal — e que políticas públicas precisam priorizar esses territórios.

“A população negra chega a ser 10% maior nas áreas de risco do que a média das 129 cidades estudadas, e a renda dos domicílios nas áreas de risco chega a ser quase a metade da média geral. Essas desigualdades revelam como o racismo ambiental e a crise habitacional empurram os grupos mais vulnerabilizados para áreas de risco, e quanto mais gente morando em área de risco, piores vão ser os efeitos da crise climática e eventos extremos. É um ciclo vicioso. É por isso que defendemos que não é possível falar de justiça climática sem tratar da questão da moradia”, conta Raquel Ludermir, gerente de Incidência Política da Habitat para a Humanidade Brasil.

A publicação convida a refletir sobre três perguntas centrais que moldam o enfrentamento aos desastres socioambientais nas cidades brasileiras:

  • Quem ‘escolhe’ morar em área de risco — e por quê? Para evidenciar o chamado racismo ambiental e desigualdade urbana.
  • Para onde vai quem não tem para onde ir? Para discutir as perdas e danos e resposta emergencial a desastres.
  • O que tem sido feito para minimizar o impacto do próximo desastre? Para problematizar as limitações e contradições das ações de adaptação, reconstrução e reparação.
Fotos: Raimundo Paccó

Memórias da COP30 – dança la gringa

Anterior

Os desafios na Amazônia após a COP 30

Próximo

Você pode gostar

Mais de COP30

Comentários