Na Assembleia Geral da ONU, realizada nesta sexta-feira, 27 de setembro, em meio a diversos episódios de violência no Oriente Médio, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, proferiu um discurso polêmico, chamando a ONU como um “pântano de bílis antissemita” e indicando que, apesar dos apelos globais por um cessar-fogo, seu governo continuará a combater o Hezbollah no Líbano e as forças do Hamas na Faixa de Gaza.
Diante de uma sala quase vazia na ONU, Netanyahu discursou sob vaias e aplausos, numa clara demonstração do isolamento diplomático em que se encontra. Diversos diplomatas abandonaram a sala em protesto, o que reflete o crescente descontentamento com as ações de Israel. O presidente da Assembleia Geral precisou pedir ordem devido ao tumulto causado pelos presentes, incluindo parentes de reféns israelenses. O Itamaraty determinou que a Missão do Brasil na ONU se retirasse antes do discurso do primeiro-ministro de Israel como uma forma de protesto diplomático em relação às ações de Israel na Faixa de Gaza e no Líbano. A saída ocorreu de maneira discreta, antes de outras delegações, em sua maioria de países árabes, que também deixaram a sala em protesto. O governo brasileiro justificou o protesto pela “resposta desproporcional de Israel” aos ataques do Hamas, que começaram em outubro de 2023, e resultaram na morte de 1.200 israelenses e no sequestro de 250 pessoas. A ofensiva militar israelense subsequente em Gaza já causou a morte de mais de 40 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Além disso, a retirada brasileira foi uma forma de expressar descontentamento pela morte de dois brasileiros nos ataques ao Líbano.
O Brasil compareceu ao discurso do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, no dia anterior, mantendo sua posição de reconhecimento da Palestina como Estado soberano ao lado de 141 outros países integrantes da ONU e da própria organização. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi declarado “persona non grata” por Israel em fevereiro de 2024, quando comparou a morte de palestinos em Gaza ao Holocausto, o que levou Israel a declará-lo “persona non grata” em fevereiro de 2024.
Em um tom inflamado, Netanyahu acusou a ONU de hipocrisia, alegando que as críticas à Israel não são sobre Gaza, mas sim sobre a própria existência do Estado israelense. Ele afirmou que até que Israel seja tratado como qualquer outro país, a ONU continuará a ser vista como uma “farsa desprezível”. Enquanto discursava, as forças israelenses intensificaram os ataques ao Hezbollah no Líbano, atingindo o quartel-general da organização em Beirute. Netanyahu foi enfático ao rejeitar qualquer possibilidade imediata de cessar-fogo, apesar dos apelos internacionais, incluindo o do presidente dos EUA, Joe Biden. O primeiro-ministro afirmou que Israel continuará seus ataques “com toda a força” contra o Hezbollah no Líbano. “Estamos em guerra com o Hezbollah, e Israel tem todo o direito de eliminar essa ameaça”, afirmou.
As operações militares israelenses, iniciadas após os ataques do Hamas em 7 de outubro, têm um número exorbitante de vítimas. Segundo o Ministério da Saúde palestino, mais de 41.500 palestinos morreram e cerca de 96 mil foram feridos nos confrontos. Israel justifica suas ações como medidas necessárias para garantir a segurança de seus cidadãos e a libertação dos reféns sequestrados pelo Hamas. Outro ponto do discurso de Netanyahu foi seu alerta ao Irã. Ele avisou que, caso o país ataque Israel, a resposta será devastadora e certeira. “Não há lugar no Irã onde o longo braço de Israel não possa alcançar”, declarou, referindo-se à crescente hostilidade entre as duas nações após recentes ataques israelenses a alvos iranianos em Damasco e a morte de um líder político do Hamas em Teerã. O Irã prometeu retaliar no momento e local de sua escolha.
Paralelamente ao discurso, protestos tomaram as ruas de Nova York, com manifestantes exigindo o fim das hostilidades e a libertação dos reféns. Muitos organizadores dos protestos chamaram Netanyahu de criminoso de guerra e pediram sua prisão. Os apelos por um cessar-fogo se intensificaram com a proposta de uma trégua de 21 dias, que foi rejeitada por Netanyahu. Até o momento, mais de 700 pessoas morreram no Líbano, com centenas de milhares de deslocados tanto no Líbano quanto no norte de Israel.
A relação de Israel com a ONU vai de mal a pior, com o país repetidamente acusando a organização de ter um viés anti-Israel. Netanyahu, em seus discursos anteriores, já havia chamado o Conselho de Direitos Humanos da ONU de “Conselho dos Direitos dos Terroristas”. A situação se agravou com as críticas frequentes da ONU em relação ao tratamento dos palestinos e às operações militares israelenses. Nos últimos meses, o Tribunal Internacional de Justiça condenou as ações de Israel, classificando seus assentamentos na Cisjordânia como violações do direito internacional. Desde o início da guerra, Netanyahu tem evitado contato direto com o secretário-geral da ONU, António Guterres, ignorando telefonemas e deixando evidente a distância diplomática entre Israel e a organização.
Foto: UN Photo/Loey Felipe
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