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O líder do partido de extrema-direita português Chega, André Ventura, foi hospitalizado na noite de terça-feira, 13 de maio após passar mal durante um jantar-comício em Tavira, no Algarve. O episódio, inicialmente cercado por apreensão, foi amenizado: os exames descartaram infarto e os médicos atribuíram a indisposição a um espasmo esofágico causado por refluxo gástrico, associado a um pico de pressão arterial. Sem qualquer risco de morte e com um estado de saúde que não requer grandes cuidados, o político passou a noite no hospital.

O incidente gerou reações imediatas, suspensão da agenda matinal do partido e muito barulho nas redes sociais, com direito a imagens do candidato numa maca de hospital. Ventura já recebeu alta e passa bem, conforme informado pelo Hospital de Faro.

Apesar da causa natural, é inevitável comparar o mal súbito do extremista português como o atentado a faca contra o então candidato Jair Bolsonaro, em 2018, no Brasil, e o tiro de raspão na orelha sofrido por Donald Trump, em 2024, durante comício eleitoral nos Estados Unidos. A imagem de vulnerabilidade gera uma resposta imediata de solidariedade que pode produzir uma ressonância política considerável, alterando o ritmo da campanha e impactando a percepção pública sobre a liderança, seja por gerar empatia, reforçar discursos de vítima, ou mobilizar emoções nas bases eleitorais.

Durante a campanha eleitoral para as eleições de Portugal, que acontecem no próximo domingo, dia 18 de maio, André Ventura tem adotado um discurso fortemente polarizador, centrado em pautas como imigração e segurança, numa estratégia que reforça a retórica populista de direita já característica do partido Chega. Entre suas principais propostas estão o endurecimento das penas criminais, a castração química para abusadores sexuais, o fim de políticas afirmativas e o combate àquilo que chama de “ideologia de gênero” – qualquer semelhança não é mera coincidência.

Também não é coincidência alguma que diversas declarações do candidato já foram desmentidas por agências de checagem, incluindo afirmações infundadas sobre o peso financeiro de imigrantes no sistema de assistência social, dados distorcidos sobre criminalidade e falsas acusações contra comunidades ciganas. Seu discurso, frequentemente marcado por expressões agressivas e pela desumanização de populações minorizadas, tem sido apontado por analistas políticos e organizações de direitos humanos como um vetor do crescimento do discurso de ódio em Portugal, contribuindo para a radicalização do debate público e a fragmentação do espaço democrático no país.

O Chega prevê retomada da campanha já na tarde desta quarta-feira, 14 de maio, com uma arruada marcada para as 17h em Vila Nova de Milfontes. Ventura deve reaparecer publicamente ainda hoje.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

“Minha Cara Vera” no Teatro Experimental Waldemar Henrique

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