Com a aproximação das eleições legislativas antecipadas na Alemanha, a candidatura de extrema-direita de Alice Weidel, da Alternativa para a Alemanha (AfD), foi oficializada em um congresso partidário realizado em Riesa, na Saxônia – um dos bastiões da sigla. A economista de 45 anos é uma das principais lideranças da AfD desde 2017. Embora o partido esteja com cerca de 20% das intenções de voto, o maior obstáculo de Weidel é que nenhum outro partido está disposto a formar coalizão com a AfD, que é frequentemente acusada de xenofobia e extremismo.
Weidel amplia cada vez mais seu diálogo com a extrema direita mundial. Em conversa com bilionário Elon Musk na plataforma X, ela criticou as políticas de imigração da Alemanha, classificando-as como excessivamente permissivas. Ela também expressou preocupação com a pobreza entre os idosos, a transição energética e o que chamou de “agenda woke” no sistema educacional alemão.
Durante a interação, ela também não hesitou em afirmar que Adolf Hitler era “comunista” e “socialista”, um revisionismo histórico estapafúrdio. Em um discurso ela defendeu abertamente a expulsão em massa de estrangeiros ou pessoas de origem estrangeira. “Digo isso sinceramente: se tiver que ser chamado de ‘remigração’, será chamado de ‘remigração’”.
Diferentemente de figuras como Marine Le Pen, na França, ou Giorgia Meloni, na Itália, que agora buscam aparentar serem mais moderadas para ampliar o alcance de seus partidos, Weidel e a AfD seguem explorando ao máximo a polarização. Marine Le Pen, por exemplo, tem se distanciado do legado extremista de seu pai, Jean-Marie Le Pen, em um esforço para fazer do Reunião Nacional uma alternativa política viável. Já Weidel, ao contrário, reforça os discursos radicais como principal ferramenta de mobilização, em linha com o modelo do FPÖ austríaco.
“Comparada com Marine Le Pen ou Giorgia Meloni, Alice Weidel tem menos experiência na política de alto nível”, analisou Wolfgang Schroeder, professor de sistema político alemão na Universidade de Kassel. “As duas jogam na Bundesliga, enquanto ela está na quarta divisão”.
Alice Weidel, economista de formação e ex-banqueira de investimento, neta de um juiz nazista, permanece como uma das poucas integrantes da fundação original da AfD a continuar no partido. Enquanto muitos acadêmicos que participaram da criação da sigla se afastaram após sua guinada xenófoba, Weidel permaneceu e ascendeu à liderança.
A cientista política Anna-Sophie Heinze, da Universidade de Trier, aponta que a candidata enfrenta desafios de identidade dentro do próprio partido. “Sendo uma mulher da Alemanha Ocidental e homossexual, ela tem dificuldades para se alinhar completamente à ideologia de uma sigla que frequentemente adota posições etnocêntricas e autoritárias.”
Mesmo assim, Weidel tem demonstrado habilidade para navegar as tensões internas da AfD, moldando sua campanha em um discurso que combina protecionismo econômico, críticas à imigração e oposição a políticas climáticas. Sua estratégia de polarização continua a atrair atenção e críticas em igual medida, posicionando-a como uma figura central – e controversa – no cenário político alemão.
Apesar de representar um partido que promove valores conservadores e nacionalistas, Alice Weidel é uma mulher assumidamente homossexual, casada com Sarah Bossard, uma produtora de cinema de origem do Sri Lanka. O casal vive na Suíça com seus dois filhos.
Bossard é produtora de cinema, nascida no Sri Lanka. A cineasta, sem dúvidas, representa um contraponto significativo às posições políticas da companheira. Com 43 anos, foi adotada aos três meses de idade e cresceu na região de Appenzell, na Suíça. Sua trajetória acadêmica incluiu estudos de cinema em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2009. Desde então, ela produziu mais de 20 filmes e séries, incluindo episódios da renomada série policial alemã “Tatort”.
O casal mantêm uma união registrada e vive junto na Suíça, onde cria seus dois filhos. Em novembro de 2024, Bossard publicou uma foto em redes sociais celebrando os 17 anos de relacionamento do casal, demonstrando o apoio e a parceria que compartilham. A história de Sarah como uma pessoa que foi adotada também influenciou decisões familiares importantes, como a escolha de uma doação de esperma identificada para a concepção de seus filhos.
Durante um debate em 2024, Weidel foi questionada sobre sua relação com Sarah, referida pelo moderador como “parceira de pele escura”. A candidata respondeu que não enxergava cor de pele e declarou: “Sarah, eu te amo!”. Weidel, em 2017, tentou menorizar a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Alemanha, afirmando que era um assunto trivial em comparação a problemas como a imigração.
Embora Sarah Bossard mantenha um perfil mais reservado em comparação a Alice Weidel, sua presença representa um ponto de discussão relevante na narrativa do partido. Elon Musk utilizou a relação do casal como argumento para diminuir as acusações de extremismo contra a AfD. “Alice Weidel tem uma companheira do mesmo sexo e de origem no Sri Lanka. Isso soa como Hitler para vocês?”, afirmou Musk em um artigo para o jornal alemão “Die Welt”.
As eleições, que foram antecipadas em sete meses devido à crise política no país, têm Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), como candidato favorito, com seu partido liderando as pesquisas com cerca de 30% das intenções de voto. Merz busca reconstruir a CDU como uma força conservadora unificada e é visto como o mais provável próximo chanceler.
Enquanto isso, o social-democrata Olaf Scholz, atual chanceler tenta recuperar o apoio perdido, e Alice Weidel utiliza a crescente polarização para consolidar sua posição como a voz da oposição mais vocal. As eleições de fevereiro prometem ser decisivas para o futuro da Alemanha. A decisão dos eleitores não apenas moldará a próxima liderança do país, mas também terá repercussões significativas para todo o mundo.
Foto: Instagram / Reprodução
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