Era sexta-feira de Carnaval. Temíamos a falta de público mas ousamos apostar em uma demanda reprimida dos que têm sede de eventos culturais. E teve gente que voltou da porta do Theatro da Paz, porque o Foyer já estava com a lotação máxima às 19h. No palco do Sarau Literomusical, a cantora Gabriella Florenzano, o violonista Salomão Habib, o pianista Robenare Marques e os poetas João de Jesus Paes Loureiro e Daniel da Rocha Leite, a despertar valores estéticos e emoções, a aprimorar sensibilidades, a aguçar sensações e a enriquecer a percepção da atenta plateia, numa programação totalmente gratuita, fruto da generosidade dos artistas, do amor que eles e ela devotam à arte.
Juntar música e poesia é sempre garantia de um espetáculo lindo. E quando se trata de artistas tão talentosos, versáteis e compromissados com a qualidade, o mundo se transforma. Era uma Sexta-Feira Gorda, como se dizia antigamente, lembrou o diretor do Theatro da Paz, Edyr Augusto Proença, ele mesmo um monstro sagrado da Literatura, que abriu as portas do templo da cultura parauara, democratizando um espaço tradicionalíssimo e de alta significação, prestes a ser reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco.
O sarau começou com a poesia de Daniel da Rocha Leite e João de Jesus Paes Loureiro, em perfeita sintonia com Robenare Marques ao piano, que em seguida acompanhou o canto de Gabriella Florenzano e ela em seguida com Salomão Habib.
A poesia de Daniel e de Paes Loureiro pulsa. É tão vibrante que assola corpos e mentes, envolve quem a escuta e lê, provoca frêmitos. Robenare mergulha fundo no jazz, embarca no erudito e no popular com desenvoltura e brilho, assim como Salomão Habib, que parece ter quarenta dedos e uma orquestra inteira nas mãos, e Gabriella Florenzano, que transita pelo rock, jazz, blues, música erudita e popular, até os ritmos regionais como carimbó, arrebatando o público.
Eu sou suspeita para comentar, mas quem já assistiu a esse quinteto maravilhoso sabe do que estou falando. Confiram os vídeos e fotos.
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