Ainda na rebarba do Dia Internacional da Mulher de 2025, um dos debates mais urgentes e relevantes continua a ser a sub-representação das mulheres no ensino superior e na pesquisa acadêmica. Em um artigo publicado na revista Nature, a vice-presidente executiva da Universidade de Tóquio (UTokyo), Kaori Hayashi, trouxe à tona a gritante desigualdade de gênero dentro de uma das instituições mais importantes do Japão. Seu texto, ao abordar a profunda assimetria na presença feminina nos quadros docentes e discentes da UTokyo, lança luz sobre um problema que transcende fronteiras e se manifesta globalmente em diversos centros acadêmicos. No Pará, no Brasil e em todo o mundo, infelizmente, a realidade não é diferente.
O artigo de Hayashi denuncia e propõe soluções para essa desigualdade histórica. Ela cita o programa #WeChangeUTokyo, que busca implementar mudanças estruturais por meio de cinco ações centrais. O primeiro passo, segundo a autora, é aumentar a conscientização dentro da própria universidade, sobretudo entre os homens. Estudos mostram que indivíduos de grupos super-representados muitas vezes não percebem a falta de diversidade e, em alguns casos, podem resistir às iniciativas de inclusão. Para mitigar esse problema, UTokyo implementou treinamentos sobre vieses inconscientes nos processos de contratação, cursos sobre estereótipos de gênero e workshops sobre consentimento e assédio sexual.
Outro aspecto essencial do programa é o suporte direto às mulheres que já atuam na pesquisa acadêmica. O fornecimento de redes de apoio, oportunidades de desenvolvimento profissional e auxílio financeiro para viagens acadêmicas são fundamentais, especialmente em um país onde as responsabilidades de cuidado ainda recaem desproporcionalmente sobre as mulheres. A Universidade também estabeleceu metas numéricas para aumentar a presença feminina no quadro docente, mirando um crescimento de 18% para 25% até 2027. Embora esse objetivo possa parecer modesto para alguns, Hayashi argumenta que metas realistas e graduais são mais eficazes a longo prazo do que tentativas abruptas de equiparação.
A implementação de contratação em cluster é outra estratégia utilizada pela Utokyo que merece ser imitada. Esse modelo permite que, ao contratar uma mulher para um cargo de professora associada ou titular, a universidade financie até duas posições adicionais para mulheres como professoras assistentes. Ademais, ao promover uma docente internamente, a instituição também assegura uma nova contratação feminina para um cargo de entrada, gerando um efeito multiplicador.
A resistência às mudanças, no entanto, é um desafio constante. Hayashi destaca que, na Utokyo, críticas vieram de todos os lados, inclusive de algumas mulheres que temem que políticas de incentivo à contratação feminina reforcem o sentimento de “impostora” e desvalorizem suas conquistas. No entanto, ela refuta essa visão argumentando que tais medidas são necessárias para corrigir desigualdades estruturais de longa data. Como a história tem mostrado, políticas afirmativas são fundamentais para abrir espaço em ambientes tradicionalmente dominados por homens, e o que pode ser visto como “discriminação positiva” nada mais é do que uma resposta proporcional à discriminação negativa que sempre existiu.
E, por falar em políticas afirmativas, a Universidade Federal do Pará (UFPA) lançou uma série, “Meninas e Mulheres na Ciência”, falando sobre cientistas, de diversas áreas do conhecimento, que se destacaram – e ainda se destacam – dentro da instituição. Ee ainda não viram, espiem as publicações e conheçam algumas das grandes intelectuais parauaras.
As fotos – estupendas, por sinal – são de autoria de Alexandre de Moraes.







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