Agradeço ao professor doutor Ivanildo Alves, presidente da Academia Paraense de Letras, às acadêmicas, aos acadêmicos e seus cônjuges, que além do voto me acolheram com tanto carinho e afeto.
Agradeço às autoridades que me honram com suas presenças: César Mattar, procurador geral de Justiça do Ministério Público do Pará; Jarbas Vasconcelos do Carmo, secretário de Estado de Direitos Humanos e Igualdade Racial; professor doutor Gilmar Pereira, Magnífico Reitor da UFPA; professora doutora Betânia Fidalgo Arroyo, Magnífica Reitora da Unama; Profa. Anaiza Vergolino, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Pará; Procurador de Justiça Ricardo Albuquerque, presidente da Academia Maçônica de Letras do Estado do Pará; Dra. Rosa Egídia Crispino Calheiros Lopes, conselheira do Tribunal de Contas do Pará; Dr. Alexandre Tourinho, procurador geral de justiça do MPPA eleito; Paul Möller Steffen, cônsul da Alemanha; Ernane Malato, cônsul da República Tcheca; Coronel Marcus Paulo Ruffeil, presidente da Academia de Letras e Artes da PMPA; Octávio Pessoa, presidente da Academia Paraense de Jornalismo; Irmã Henriqueta Cavalcante, presidente do Instituto Dom Azcona; João de Jesus Paes Loureiro, o maior poeta vivo da Amazônia.
Saúdo de modo especial a minha mãe, Cezarina, e minha filha, Gabriella, que são meu esteio, orgulho e inspiração; toda a minha família e os queridos amigos e amigas que me prestigiam neste momento solene.
Permitam-me prestar tributo à memória de meu marido Antonio Alberto Pequeno de Barros, o amor da minha vida, que tanto frequentou as sessões desta Academia comigo, e que passou ao plano espiritual durante a pandemia.
Agradeço profundamente as palavras tão generosas da minha querida amiga e madrinha na APL, a professora doutora Betânia Fidalgo Arroyo, admirada e respeitada por todos, liderança que inspira e abre caminhos a muitas gerações de mulheres e que luta pela equidade de gênero, dando seu próprio exemplo, uma história de vida linda e cujo brilho engrandece esta Academia.
Das quarenta cadeiras, somos seis mulheres atualmente na APL, fundada em 3 de maio de 1900 e que, prestes a completar 125 anos, ainda não foi presidida por uma mulher, embora tenha sido durante muito tempo considerada a pioneira do Brasil, ao eleger e empossar uma mulher, Guilly Furtado Bandeira, em 1913.
No entanto, Eurídice Natal e Silva assumiu esse pioneirismo, como fundadora da Academia de Goiás, em 1904, e a primeira mulher a dirigir uma Academia de Letras no Brasil. Guilly Furtado foi a segunda do país, em 1913, aos 23 anos, e Edwiges de Sá Pereira, em 1920, membro da Academia Pernambucana de Letras, a terceira. Muito antes da Academia Brasileira de Letras, que empossou a primeira mulher em seus quadros, Rachel de Queiroz, só em 1977.
Guilly Furtado Bandeira discorria, ainda em 1931, sobre as suas angústias diante da naturalização da violência contra a mulher: “Basta abrir, ao acaso, qualquer gazeta diária e, no escândalo garrafal dos versaletes da imprensa, nos deparamos com mais um ‘homem honesto’ a lavar a sua honra, essa decantada e esplendorosa honra, que para lavar, é preciso sujá-la com sangue”. Afirmando que somente a própria mulher pode emancipar a mulher, Guilly argumentava já naquela época sobre o fato de os seres humanos serem feitos dos mesmos agregados de moléculas, cartilagens e ossos e devem, portanto, se complementar, e não se imporem uns sobre os outros. “A mulher começa a esclarecer-se. Desdobra-lhe, enfim, depois de se haver conservado a vida embrionária de semente, durante séculos, na eclosão esplêndida da consciência, firme e integral do espírito”. Em 1914, aos vinte e quatro anos de idade, Guilhermina Tesch Furtado, a Guilly, publicou seu primeiro e único livro, Esmaltes e Camafeus, pela filial carioca da editora francesa Garnier. Ela atuou, também, como jornalista em A Província do Pará.
Apesar de maioria absoluta da população brasileira, mulheres são minorias nos lugares de protagonismo, direção e postos políticos. No Brasil, uma mulher ganha, em média, 78% dos rendimentos de um homem. Se forem pretas ou pardas, o percentual cai para menos da metade. Ocupamos o 131º lugar em termos de representação de mulheres no parlamento, no universo de 181 países. Considerando o continente americano (e incluindo o Caribe), somente o Haiti está em posição pior. Nosso país é o 5º maior no triste ranking dos feminicídios e o campeão em transfeminicídios.
Ainda vivemos num país em que a violência e a desigualdade de gênero grassam em todos os lugares: no monopólio dos espaços de poder, nas posições elevadas em instituições privadas e públicas. O fato é que em 135 anos de República não conseguimos modificar as enraizadas desigualdades raciais, econômicas e sociais, que são transversais.
Uma feliz coincidência me une à primeira mulher admitida na APL, ao patrono da Cadeira 29, que hoje assumo, e ao último ocupante dela: o Jornalismo. Devo honrar meus antecessores.
O patrono da Cadeira 29, Joaquim Francisco de Mendonça Júnior, era amapaense mas desde cedo frequentou as escolas de Belém e se entrosou no meio cultural. Amigo próximo de Coriolano Jucá, intendente de Macapá, e de Lauro Sodré, governador do Pará, seu vínculo com o partido Republicano e a projeção, graças à fundação do jornal Pinsonia, granjearam a visibilidade necessária para que fosse eleito deputado. Além da política, destacou-se como professor, jornalista e poeta, e se elegeu membro da Academia Paraense de Letras com o pseudônimo Múcio Javrot. Publicou um único livro ― “Crepusculares” ―, mas nos jornais oitocentistas repousam seus textos em prosa e em poesia, bem como registros dos debates literários em que brilhava. Faleceu em Macapá em 4 de agosto de 1904.
Manoel José de Miranda Neto, também jornalista, professor universitário e ensaísta, foi eleito em 13 de agosto de 1998 e empossado no dia 8 de março de 1999 como ocupante da Cadeira Nº 29. Outro detalhe nos une. Eleita em 27 de novembro de 2023, eu preferi tomar posse em cerimônia restrita, perante a diretoria da APL. Sem meu marido, com a perda recente de meu irmão e minha filha em Portugal, não havia razão para festa. E só pela insistente cobrança de meus pares, coincidindo com a presença de Gabriella em Belém, e com a ajuda de tantas pessoas queridas, foi possível realizar esta cerimônia tão linda.
Pois bem. Meu antecessor Miranda Neto tomou posse em sessão plenária exclusiva para esse fim, sem as pompas costumeiras reservadas às sessões solenes. Foi saudado pela acadêmica Sylvia Helena Tocantins, sua amiga pessoal e parceira no estudo e divulgação do arquipélago do Marajó, outro ponto que nos une. Miranda Neto era marajoara e conhecia bem os aspectos sociais, geográficos e culturais do arquipélago, bem como os problemas e dificuldades entre homem e ambiente. Abraçava em sua atuação os temas de Cidadania, Amazônia, Missões Jesuíticas e Globalização.
Graduado em Economia, Miranda Neto era detentor de oito títulos de Especialização, além de Mestrado e Doutorado. Dominava com fluência Inglês e Alemão. Pesquisador minucioso, foi finalista no Prêmio Jabuti. Miranda Neto integrou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; o Instituto Histórico e Geográfico do Pará; a Academia Paraense de Jornalismo; a Associação Brasileira de Imprensa; a Associação Nacional contra o Desmatamento da Amazônia; a Sociedade de Economia e Sociologia Rural; a Sociedade Nacional de Agricultura; a Associação Comercial do Pará; e a Sociedade de Preservação dos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia. Ele fez sua Páscoa em 2023.Julgo que é preciso articular reflexão acadêmica, sem renunciar à militância cidadã. Não se pode conceber conhecimento sem partilha, cultural e politicamente engajado. Devemos travar uma batalha por justiça, por direitos humanos, por inclusão.
Cabe-nos a responsabilidade da boa literatura, da ênfase na educação e na cultura como pilares da democracia. Com tolerância, solidariedade, pluralidade, sororidade, liberdade. São muitos os desafios da cidadania.
Muito obrigada.”
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